Comportamento
 

Por Crescer Online


A violência no Brasil afeta a vida de milhares de crianças, com consequências emocionais, sociais e econômicas de longo prazo. Apenas no primeiro semestre de 2022, foram registradas 122.823 violações contra crianças de até 6 anos - cerca de 84% delas cometidas por familiares (mãe, pai, madrasta/padrasto ou avós), revelou o estudo “Prevenção da Violência Contra a Criança”, lançado pelo Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI).

Criança triste — Foto: Crescer
Criança triste — Foto: Crescer

Outro recorte mostra que, em 2021, um quarto das crianças brasileiras vítimas de maus-tratos eram menores de 5 anos. A pesquisa foi realizada com base em estatísticas do Disque 100, serviço vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022.

“A violência contra a criança no ambiente familiar tem impacto negativo a curto, médio e longo prazos na saúde física e mental das vítimas e em suas práticas parentais futuras, o que pode levar a um ciclo intergeracional da violência", explica Maria Beatriz Linhares, professora associada sênior da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e coordenadora do estudo.

Na maioria dos casos de violência contra as crianças registrados, os agressores eram conhecidos dos pequenos. Em 2021, 58,7% das violações foram realizadas pela mãe, 17% pelo pai, 5,5% pelo padrasto/madrasta e 3,6% por avós/avôs. No primeiro semestre de 2022, o índice registrado foi de 57% para mães, 18% para os pais, 5% padrasto/madrasta e 4% avós/avôs.

A professora Maria Beatriz explica, porém, que, ao analisar esse dado é preciso levar em conta a proporção de tempo em que as crianças ficam sob o cuidado de figuras maternas “É importante atentar que a violência contra criança no âmbito familiar na maioria das vezes é realizada pelo parente mais próximo, que cuida do pequeno no cotidiano e participa da rotina”, diz a pesquisadora. “As figuras femininas, como mães e avós, ainda são as que mais ocupam esse papel, então esse dado de as mães serem as principais agressoras precisa ser olhado com muito cuidado e relativizado ao tempo em que a criança fica com cada um de seus cuidadores”.

Ao analisar os cuidadores que cometem agressões, a pesquisadora indica que existem vários indicadores que apontam risco de comportamento violento contra crianças. “Alguns fatores são: problemas de saúde mental do cuidador como depressão, estresse parental e burnout”, disse. “Outros tem a ver com a infância desse cuidador como histórico de maus-tratos, violência familiar, física, sexual, psicológica, e pais com problemas de criminalidade ou abuso de drogas. Esses cuidadores têm mais risco de repetir esse histórico de violência com os filhos, tanto em interações do dia a dia quanto na hora de disciplinar, quando precisam ensinar a criança a regular os seus comportamentos. É preciso quebrar esse ciclo”.

Os principais tipos de violência registrados no primeiro semestre de 2022 foram: maus-tratos (15.127 casos), insubsistência afetiva (13.980 casos), exposição ao risco de saúde (12.636 casos), tortura psíquica (11.351 casos) e constrangimento (10.292). Outro dado alarmante se refere à violência sexual: 61,3% do total de estupros são de vulneráveis (0 a 13 anos). Desses, 19,1% das vítimas estão concentradas na faixa de 5 a 9 anos e 10,5% na faixa de 0 a 4 anos.

Medidas de prevenção

Para minimizar a ocorrência da violência contra as crianças, Maria Beatriz Linhares defende a implementação de programas de intervenção centrados na parentalidade. “Essas intervenções ajudam a prevenir a violência contra crianças na medida em que aumentam a compreensão dos cuidadores sobre o desenvolvimento infantil, diminuem o estresse parental e melhoram as práticas parentais com estratégias de disciplina positiva”, comenta.

Segundo Linhares, esses programas contribuem para a redução dos impactos da coerção e os problemas de comportamento das crianças. Além disso, eles ajudam a promover o desenvolvimento infantil nos primeiros anos de idade, e a quebrar o ciclo intergeracional da violência. “Pesquisas indicam que independentemente do histórico de violência na infância, as mães que participam de um programa de parentalidade apresentam melhora nas práticas parentais”, completa.

Para a pesquisadora, trabalhar com a prevenção de situações de violência em todas as família é essencial, pois um ambiente violento é extremamente tóxico para o desenvolvimento infantil podendo gerar agressividade, déficit de atenção, hipervigilância, ansiedade, depressão, dificuldade na adaptação escolar e problemas psiquiátricos como fobia e estresse pós-traumático. “Crianças expostas à violência estão submetidas a situações de estresse tóxico. Isso provoca alterações fisiológicas e psicológicas que podem interferir no funcionamento do sistema nervoso central em áreas relacionadas à memória, ao aprendizado, às emoções e ao sistema imunológico. Tais alterações podem trazer prejuízos que persistem até a vida adulta, contribuindo, inclusive, para o surgimento de doenças crônicas”, explica.

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