Karine Carrijo desmonta quarto dois meses após perda do bebê: "Decidimos enfrentar"

Desde a partida do bebê, Karine tem dividido com os seus mais de 1,1 milhão de seguidores os altos e baixos do processo de luto. Ela tem falado sobre a dor da perda, mas também sobre os desafios de recomeçar. No vídeo em que mostra a desmontagem do quarto, ela comenta sobre a angústia de se desfazer do espaço que havia planejado exclusivamente para a chegada do filho.

"Pela primeira vez entramos no quartinho e vimos coisas que nem sabíamos que estavam lá. De todas as coisas dolorosas que já passei na minha vida, perder meu filho foi a maior delas. Mas decidi que íamos enfrentar o quartinho, que ia ser bom para nós", disse.

Já faz mais de dois meses que o pequeno Levi se foi. Desde então, "tudo mudou" na vida de Karine e do companheiro, o cantor gospel Thiago Lima, como ela mesma diz. Uma nova rotina, com novos planos, novas prioridades... e uma nova casa. Em entrevista exclusiva à CRESCER, Karine contou que, para conseguir seguir em frente, ela entendeu que seria preciso também deixar para trás a casa em que moravam.

"O quarto dele ficou trancado por quase 50 dias, sem a gente abrir a porta. Eu já estava ficando cansada de passar pelo corredor e ver aquela porta fechada. Foi quando a gente decidiu se mudar. Não queríamos mais ficar naquela casa. Precisávamos de um recomeço, de um marco", disse.

Sair da casa significava também voltar a entrar no quarto de Levi, para fazer a mudança. Karine conta que a desmontagem do cômodo serviu quase como um ritual para que o casal pudesse ter coragem de começar um novo capítulo de sua história, agora sem o filho nos braços.

"Não adianta eu ficar me enganando que mudar de casa vai tornar as coisas mais fáceis. Eu perdi um filho. As pessoas dizem que uma hora a gente supera. Mas o que é superar? Para mim, é esquecer. E como você supera a morte de um filho? Não dá para esquecer quem você ama", afirmou.

A partida de Levi pegou a todos de surpresa. Até tudo acontecer, Karine vinha enfrentando uma gravidez tranquila e sem complicações. Estava na 38ª semana de gestação, já nos preparativos para o parto, que estava agendado para terça-feira, 30 de janeiro. Porém, menos de 48 horas antes, os planos saíram do previsto.

"Eu fiz um ultrassom na quinta-feira e estava tudo bem. Às cinco da tarde do domingo, comecei a sentir as dores da contração. Às sete, as contrações começaram a vir de 5 em 5 minutos e fui para o hospital. Cheguei lá com 3 centímetros de dilatação. Quando fizemos o ultrasssom, descobri que o coração do Levi não estava batendo", lembrou.

A influenciadora diz que em nenhum momento desconfiou de que algo de errado pudesse estar acontecendo. "Foi silencioso, não tive febre, dor, cólica, nada", disse. A notícia de que o filho havia falecido veio ali mesmo, durante o exame, enquanto ela já estava em trabalho de parto.

"Eu não fiz curetagem, senti todas as dores do parto. Quando o parto acabou, um bebê na sala do lado nasceu e eu ouvi o choro. Não era do meu filho. É muito traumático ter um parto inteiro e no fim não ouvir o choro do seu filho. Eu estava com um sentimento de vergonha de sair da maternidade sem o bebê", contou.

Agora, o grande objetivo de Karine é que ela possa usar a sua voz enquanto influenciadora para falar sobre mães que perderam seus filhos e lutar por um acolhimento mais humanizado a essas famílias nos hospitais. "Várias pessoas me mandaram mensagem contando histórias parecidas, descobri que minha tia, por exemplo, já perdeu dois bebês e eu não sabia. As pessoas passam por isso e não conseguem falar sobre. Mas temos que entender que não é culpa da mãe. Quanto mais eu falo sobre o Levi, mais eu me sinto bem."

De fato, a morte de uma criança é um assunto delicado. Às vezes, mesmo com a melhor das intenções, acabamos empurrando a história para baixo do tapete, na ilusão de que, assim, ninguém precisará ficar desconfortável ao relembrar tudo o que aconteceu. Porém, na tentativa de poupar a dor, ocorre o efeito contrário.

“Esse comportamento faz com que as pessoas sofram sozinhas. Quem perdeu o filho já está pensando nisso 24 horas por dia. Falar sobre o bebê é dar uma oportunidade para que elas lembrem e validem socialmente a existência dessa criança e da sua maternidade e paternidade”, explica a psicóloga Heloisa Salgado, que tem pós-doutorado em saúde pública e reprodutiva (SP).

A seguir, a especialista dá dicas sobre o que fazer ou o que dizer a alguém que perdeu um bebê:

1. Ouça, sem julgar
É melhor admitir que não sabe como lidar com a situação, do que falar algo que pode machucar, como “Vai passar”, “Foi melhor assim” ou “Deus sabe o que faz”.

2. Mostre-se presente
Converse e convide o enlutado para dar uma volta, passar um tempo num local agradável…

3. Mostre-se disposto
Em vez de dizer frases protocolares, como “Conte comigo” e “Me liga, se precisar”, ofereça ajuda em tarefas práticas, como cuidar da casa.

4. Reconheça o nome
Chame a criança que partiu pelo nome. É importante que a família sinta que você reconhece a existência dela.

5. Apoie nos dias díficeis
Entre em contato nas datas difíceis, como Dia dos Pais e das Mães e aniversários de nascimento e de morte.

6. Tenha paciência
O luto não tem prazo de validade. Jamais pressione a família a falar ou a participar de eventos sociais.