Comportamento
 


Ter um bom relacionamento com os pais é fundamental para o desenvolvimento das crianças. Mas uma pesquisa inédita revelou que essa não é a realidade de muitos jovens. Segundo o estudo, apenas 5 em cada 10 meninos de 15 a 17 anos têm certeza que são amados pelo pai. Essa percepção varia entre os diferentes grupos étnicos, sendo os meninos brancos os que menos duvidam do amor do pai (35%) e os meninos negros os que mais têm dúvidas (49%).

Adolescente triste — Foto: Pexels/cottonbro studio
Adolescente triste — Foto: Pexels/cottonbro studio

Para chegar a esta conclusão, o estudo “Meninos: Sonhando os homens do futuro”, idealizado pelo Instituto PDH e PapodeHomem, viabilizado pela Natura e com apoio do Pacto Global da ONU no Brasil, entrevistou mais de 4 mil meninos e meninas adolescentes, sendo a maior pesquisa da América Latina sobre a percepção do desenvolvimento masculino na adolescência.

Mas, afinal, por que tantos meninos não se sentem amados? "Acho importante tratar o amor, como bell hooks compreende, uma ação e não um sentimento. Talvez por isso metade dessas crianças tem dificuldade de identificar o amor dos seus responsáveis, pois não deve estar evidente a manifestação disso no seu cotidiano", diz Marlon Nascimento, psicólogo clínico e social especialista no atendimento de homens e jovens negros e de periferia.

Ele também destaca que os homens têm nem sempre conseguem demonstrar atos de amor através de gestos com facilidade, principalmente por conta do machismo. "Existe uma dificuldade de expressar sentimentos, trocar afetos e praticar atos de carinho. O que esses meninos podem estar apontando é como esse distanciamento afetivo dos homens, através de ações amorosas, lhe deixam com dúvidas de serem realmente amados", destaca.

Por que os meninos negros têm mais dúvidas?

Em relação ao recorte racial, a questão é ainda mais complexa. "A população negra ainda é a que mais sofre com falta de recurso financeiro por conta das desigualdades, essa baixa condição material pode fazer essas pessoas se engajarem em jornadas de trabalho excessivas e sub-humanas para se sustentar, o que pode desencadear baixa disposição de tempo e energia para manifestação de amor", explica.

O psicólogo também destaca o racismo estrutural. "Isso pode gerar o que na psicologia chamamos de embotamento afetivo, pois para lidar com as espoliações do dia a dia a pessoa preta reprime seus sentimentos para se tornar 'forte'", diz. "Esses fatores provavelmente dificultam que pais negros consigam expor seu amor, como também meninos negros sejam vistos como pessoas dignas de receber amor", acrescenta.

Quais são as consequências?

A falta de amor do pai pode trazer muitas consequências para os meninos, até mesmo para a saúde mental. "Tem uma pesquisa internacional da universidade de Connecticut (EUA) que mostrou que o amor paterno é essencial para o desenvolvimento da personalidade, e que as crianças que se sentem rejeitadas pelo pai, tem mais possibilidade de se tornarem adultos ansiosos e inseguros", afirma Marlon. "Ser amado é se sentir importante, o que colabora na construção da autoestima, segurança psicológica e em aspectos positivos da personalidade. Não ter certeza de ser amado é poder ter prejuízos psicológicos significativos", acrescenta.

Isso também pode afetar a forma como esses meninos encaram a paternidade no futuro. "No nosso processo de constituição de identidade, buscamos referências próximas para guiar como vamos ser em determinados papéis sociais. A paternidade que temos hoje, pouco afetuosa, ausente em diversos campos da vida dos filhos é muito influenciada pela referência de paternidade que os pais atuais tiveram", diz.

Segundo ele, os pais foram influenciados por um modelo de parentalidade de cerca de 30 ou 40 anos atrás, representando uma defasagem diante de todas as mudanças e transformações que a sociedade passou nesse período. "E da mesma forma que os pais de hoje reproduzem os modelos de paternidade que tiveram, os meninos podem seguir o mesmo caminho", afirma.

Falta de referências positivas de masculinidade

A pesquisa também revelou que 6 em cada 10 meninos afirmam conviver com poucos ou nenhum homem que seja uma referência positiva de masculinidade. "A maneira como estamos lidando com a masculinidade não é boa para ninguém. Isso é consequência de como os homens estão distantes das suas emoções e sentimentos, muitas vezes os reprimindo. E tanto sentimento reprimido acaba fazendo com que os eles explodam, fazendo mal a quem está ao seu redor ou há sociedade, ou imploda, fazendo mal a si mesmo. Talvez seja esse modelo de masculinidade violento e/ou auto-violento que os meninos relatam na ausência de referências positivas", explica Marlon Nascimento.

Isso pode prejudicar as projeções dos meninos. "É muito difícil ser o que não conseguimos ver. Por isso é tão importante que os meninos tenham convivência com homens que assumam sua responsabilidade em serem exemplos de masculinidades mais responsáveis e conscientes", diz o fundador do Instituto PDH e idealizador da pesquisa, Guilherme N. Valadares.

A importância de um pai presente e afetuoso

Para o psicólogo, é preciso que os pais mudem a forma de encarar a paternidade. "Os pais precisam incorporar essa responsabilidade e entender que chegou a hora de ser uma referência diferente das que tiveram. Ser uma referência positiva é a que fala de afetos, fala de sensibilidade, de fragilidade da masculinidade", diz.

Segundo ele, atualmente, muitos pais ainda se limitam a ser um mero provedor financeiro, mas com a entrada da mulher no mercado de trabalho, esse modelo não se sustenta mais. "Por isso para reverter essa situação, os pais de hoje precisam se aproximar de todos os campos da vida dos seus filhos, desde os cuidados básicos quando bebês; passando por troca de carinho, conversar, brincar e participar ativamente de todas as demandas e obrigações que implicam cuidar de um filho; e ser um parceiro na adolescência, estar próximo e dialogar abertamente sobre os desafios dessa fase", afirma.

"Ser pai não é uma tarefa fácil, mas é uma escolha, e quando escolhemos isso temos que estar dispostos a nos empenharmos ao máximo, pois estamos falando de um papel que influencia significativamente a vida de outro ser", destaca.

Além de contribuir para o desenvolvimento de uma personalidade segura nos filhos, ter um pai presente e afetuoso também tem muitos outros benefícios para as crianças e para eles mesmos. "O processo de paternidade muda a forma como enxergamos o mundo, amplia nossa perspectiva de vida. Ser um pai presente e afetuoso é operar uma subversão, contribuindo para uma transformação social que nos leva, enquanto humanidade, para um lugar melhor. Por isso, ser um pai assim é se recriar em suas potencialidades e ampliar a nossa própria existência", finaliza.

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