Comportamento
 


Nesta segunda (12), vem circulando em grupos de pais e mães na internet uma notícia triste: um aluno do 9º ano do Colégio Bandeirantes, de São Paulo (SP), interrompeu a própria vida. À CRESCER, a assessoria de imprensa do colégio confirmou o caso e afirmou que tudo aconteceu fora das dependências da escola.

Sala de aula vazia — Foto: Freepik
Sala de aula vazia — Foto: Freepik

"A direção e toda a comunidade escolar estão profundamente abaladas por essa perda irreparável. Neste momento, a prioridade do colégio é oferecer todo o apoio e assistência necessários à família do aluno e aos colegas e amigos impactados por essa tragédia", disse, em nota.

Infelizmente, a notícia não ficou restrita apenas aos adultos — e nem só aos grupos de WhatsApp do Bandeirantes. Muitas crianças e adolescentes de outras instituições acabaram recebendo também mensagens e áudios sobre o caso. Desde então, a situação tem gerado preocupações e levantando discussões sobre a saúde mental dos nossos jovens. Afinal, qual é o papel das escolas e das famílias diante de casos como esse? O que nós, enquanto pais e mães, devemos fazer?

CRESCER conversou com psicólogos, pedagogos e pediatras para entender o que está por trás de casos de suicídio de adolescentes e o que podemos fazer quando situações como essa acontecem. Parece papo de adulto, mas não é: precisamos estar preparados para acolher nossos filhos e falar com eles sobre esse assunto — independente se o caso aconteceu com uma pessoa próxima ou não.

"Tendemos a acreditar que as pessoas enlutadas por um suicídio serão só as que tinham algum vínculo próximo. Mas não é bem assim, qualquer pessoa que soube da notícia também pode ficar vulnerável. Nunca sabemos o impacto que isso pode ter. Eu posso estar a milhares de quilômetros de distância, nem conhecer a vítima e isso me atingir emocionalmente", explica a psicóloga Raquel Antoniassi, membro da diretoria da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS).

Como falar sobre suicídio com crianças e adolescentes

Antes de tudo, saiba que não é preciso ter medo de falar sobre suicídio com o seu filho (desde que usando o bom senso e respeitando a capacidade de compreensão de cada idade, é claro). Pode ficar tranquilo: ter esse tipo de conversa não vai fazer com que a criança ou o adolescente se sinta incentivado a tirar a própria vida. E quem diz isso são os especialistas.

Sala de aula em escola vazia — Foto: Freepik
Sala de aula em escola vazia — Foto: Freepik

Suicídio ainda é um tabu e é natural que os pais não se sintam confortáveis para falar, ainda mais com as crianças. Em casos como esse, a vontade, muitas vezes, é de "poupar" os pequenos. Mas, abrir esse canal de diálogo é, na verdade, um jeito de sinalizar para o seu filho de que você está disposto a ouvi-lo e a acolhê-lo, sempre que ele sentir que precisa de ajuda. "Não é preciso esperar que a dúvida ou a curiosidade parta da criança. Nós, enquanto pais, também podemos introduzir esse assunto. Não precisamos trazer detalhes e nem explicar o que a criança não está questionando. Uma boa estratégia é perguntar o que o seu filho sabe sobre isso e a partir daí definir como conduzir a conversa", explica Raquel.

Algumas perguntas podem ajudar a puxar esse papo, como, por exemplo:

  • Tem alguma coisa diferente de que você ficou sabendo e quer conversar sobre?
  • O que você ouviu sobre esse caso?
  • O que acha que aconteceu?
  • Como você está se sentindo em relação a isso?
  • Você também já pensou em suicídio em algum momento?

Segundo a psicóloga, todas essas frases ajudam a começar e a direcionar esse papo. Isso pode ser, inclusive, um termômetro para você entender como um caso de suicídio em específico impactou emocionalmente seu filho e até, de repente, identificar sinais de que ele talvez também esteja precisando de ajuda e acolhimento.

"Só precisamos tomar cuidado para que os pais não assumam uma postura de 'Deixa comigo que eu resolvo essa situação'. A perda de alguém, seja por suicídio ou não, não é algo a ser resolvido. É algo a ser vivido e sentido. Por isso, acolher o seu filho e estar ao lado dele é importante. Você pode até dizer que não sabe o que fazer ou como agir, mas sempre se coloque à disposição para ajudar caso ele precise", finaliza.

Aumento do número de casos

O que aconteceu no colégio em São Paulo não é um caso isolado. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que, apenas no Brasil, acontecem 12 mil casos de suicídio por ano. No mundo, esse número salta para quase 800 mil. E os adolescentes e jovens representam uma grande parcela desse total: o suicídio é a segunda maior causa de morte entre a população de 15 a 29 anos.

"Adolescentes estão gritando, alguns pela voz, alguns pelo silêncio, outros pelas marcas no corpo... E nós precisamos ouvi-los. O trabalho de prevenção ao suicídio precisa ser amplo, numa perspectiva intersetorial e multidisciplinar", diz a psicóloga de adolescentes Estela Ramires Lourenço, especialista em Intervenção na Autolesão, Prevenção e Posvenção do Suicídio (SP).

Um levantamento recente feito pela Fiocruz, em parceria com a Universidade de Harvard (EUA), analisou bases de dados do Ministério da Saúde e concluiu que a taxa de suicídio entre crianças e adolescentes cresceu 6% ao ano entre 2011 e 2022. Para comparação, na população em geral, o aumento foi de apenas 3,7% ao ano no mesmo período.

"Esse crescimento é muito estável ao longo do tempo. É uma tendência, como se ele fosse acontecendo sem picos, desde 2011. A pandemia foi importante, mas precisamos pensar além dela e olhar para uma série de variáveis que vêm impactando os jovens desde muito antes", explica Flávia Jôse Alves, pesquisadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (CIDACS/FIOCRUZ) e Harvard Medical School.

O que está por trás do suicídio de adolescentes

Refeitório de colégio vazio — Foto: Freepik
Refeitório de colégio vazio — Foto: Freepik

Quando ouvimos falar em um caso de alguém que escolheu tirar a própria vida, é natural que muitas dúvidas venham à nossa mente. Ficamos nos perguntando o por quê de a pessoa ter tomado essa decisão, o que poderia ter sido feito para evitar, quanto ela estava sofrendo para chegar a esse ponto, que outras alternativas poderia ter escolhido... Acontece que, nem sempre, essas são perguntas fáceis de se responder. Há muitos fatores em jogo quando falamos em suicídio. Não existem respostas prontas e nem verdades absolutas: cada caso é um caso.

"O suicídio é a linha final de uma série de situações, de acontecimentos que a pessoa foi experimentando ao longo da vida. Quando pensamos nos fatores de risco na adolescência, especificamente, é importante pensar em várias outras questões, como prevenção de bullying, respeito às diferenças, criação de um ambiente acolhedor, a participação da família, políticas públicas...", explica a psicóloga Estela Ramires Lourenço.

Em outras palavras, não dá para encontrar uma só resposta que explique o porquê de tantos casos de suicídio entre adolescentes. É preciso pensar individualmente e avaliar a história da vida, a relação familiar, as experiências passadas, as amizades, a presença online, a relação com escola... "A adolescência é uma fase de muita alteração de humor e, além das questões hormonais, tem ainda a questão emocional, que está diretamente relacionada à aceitação. Quando o adolescente chega em casa e sente que não foi ouvido, ele se desespera, pois acha que não é bom o suficiente para estar naquele ambiente", diz a psicanalista de crianças, adolescentes e mães Mônica Pessanha, colunista da CRESCER.

Relação entre bullying e suicídio

Você provavelmente já deve ter ouvido uma história de alguma criança ou adolescente que se suicidou e, quase que imediatamente, alguém veio com a suposição: "Ah, fez isso porque devia estar sofrendo bullying na escola". Quando um caso de suicídio entre crianças vem a público ou vira manchete de jornal, comentários como esse são quase que inevitáveis. No caso que aconteceu com o aluno do Colégio Bandeirantes, essa pauta foi muito debatida nos grupos de pais que receberam a notícia. O bullying pode deixar as crianças mais fragilizadas e sujeitas a enfrentar sofrimentos emocionais. Mas, cada vez mais, especialistas vêm alertando: é preciso tomar muito cuidado ao generalizar e fazer essa associação em todos os casos.

"Dizer que alguém cometeu suicídio só porque sofria bullying é perigosíssimo. O bullying é realmente um fator agravante que pode aumentar consideravelmente o risco, mas ele não é a única causa. Ele só vai se somar a todo um histórico de sofrimento que já existia. Suicídio é uma questão multifatorial e precisamos vê-lo dessa forma para saber como agir", afirma o pedagogo Benjamim Horta, criador do Programa Escola Sem Bullying e diretor-fundador da Abrace Programas Preventivos.

Como explica o especialista, é preciso deixar claro que existe, sim, uma relação entre as duas coisas. Porém não é porque uma criança se suicidou que ela, necessariamente, sofria bullying. E nem toda criança que está envolvida com bullying vai apresentar comportamentos suicidas. Apesar disso, não devemos fechar os olhos para o problema ou menosprezar a questão. Muito pelo contrário.

Uma cartilha publicada recentemente pelo CDC também defende justamente essa ideia. O bullying pode, sim, ser um fator de risco para o suicídio. Mas isso não significa que ele justifique sozinho o acontecido. Ele é apenas mais uma das muitas questões que estão em jogo. "Reduzir essa questão como se o bullying fosse a única causa direta de suicídio é muito prejudicial, porque pode trazer uma falsa noção de que o suicídio é uma resposta natural ao bullying. Além disso, tira a atenção de outros fatores de risco importantes para o comportamento suicida, como doenças mentais, abuso de substâncias, famílias disfuncionais", diz o documento.

Em outras palavras, o bullying é como se fosse a última gota d'água responsável por fazer o copo transbordar. Ou, como diria a psicóloga Raquel Antoniassi, membro da diretoria da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS), ele funciona como uma bituca de cigarro. "Se você joga a bituca num gramado verde e saudável, até vai provocar algum dano, mas o fogo não vai se alastrar. Agora, se você joga essa mesma bituca num terreno que já estava seco e precisando de cuidados, o fogo se espalha quase que na mesma hora. É como a saúde mental das crianças. Se elas já estavam num contexto não saudável e sem acolhimento, a chance de o bullying tomar uma proporção maior é grande", explica.

Atenção aos sinais de que o seu filho precisa de ajuda com a saúde mental

Como dissemos, o suicídio é apenas a última instância de um processo de sofrimento emocional muito mais longo e complexo. Antes dele, outros sinais costumam aparecer e dar pistas para familiares e amigos de que algo não vai bem. Um estudo da American Psychological Association mostrou que, para cada jovem que morre por suicídio, estima-se que mais 100 a 200 tenham tentado o suicídio também e mais pelo menos 1000 já tenham pensado sobre essa possibilidade.

Os números mostram que o pensamento suicida entre crianças e adolescentes pode estar mais perto do que imaginamos. Nosso papel, enquanto pais, é observar os sinais de alerta, promover um ambiente de acolhimento e buscar ajuda.

"Crianças sempre dão sinais de que algo não vai bem. Fique atento se ela disser que quer desistir de alguma coisa, se tinha um hobbie e não quer mais ter, se fica irritadiça por um tempo prolongado. Uma mudança de hábitos alimentares, seja comer demais ou de menos, também é um alerta. Preste atenção se o seu filho evita certos lugares, se muda de amizades muitas vezes, se passa muito tempo trancado no quarto, imerso no computador, ou se só usa roupas compridas, com mangas longas. Essa é uma forma de esconder cortes e lesões. É comum que os adultos não deem atenção aos dilemas emocionais dos filhos por acharem que é 'coisa de criança'", afirma Robert Paris, presidente do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Se desconfiar de que seu filho precise de ajuda, não hesite em procurar apoio profissional e especializado. "É o acolhimento que salva, que faz com que a criança se desenvolva e não se sinta sozinha. E o contrário também é verdadeiro. Quanto mais só, mais perdida e desamparada a criança fica, mais ela vai entrar em um nevoeiro perigoso. Mostre que você sabe ouvir qualquer coisa. Diga ao seu filho: 'quero ouvir', 'eu quero te escutar', finaliza Robert.

O papel da escola para evitar novos casos de suicídio

Ainda que a família exerça um papel importante para identificar os sinais de risco, também é (ou, pelo menos, deveria ser) uma responsabilidade da escola ajudar nessa missão. Segundo a psicóloga Estela Lourenço, é fundamental que família, colégio e alunos trabalhem em equipe. "Os professores e funcionários precisam de preparo para saber como reconhecer alunos vulneráveis, para escutá-los e fazer, posteriormente e junto com a direção, o contato com as famílias e os encaminhamentos devidos", diz.

A escola também pode ser uma boa porta de entrada para introduzir o assunto do suicídio com os pais e responsáveis, seja por meio de palestras ou rodas de conversa. O ideal é que isso seja feito de forma contínua e oferecendo suporte para que as crianças tenham a quem recorrer e pedir ajuda, caso sintam necessidade.

"Não adianta eu dar uma palestrinha aqui e outra ali e achar que resolvi o problema. Existe todo um organograma do que precisa ser feito. É necessário fazer uma capacitação da equipe escolar para detecção de risco e oferecer um suporte especializado dentro da escola, com, no mínimo, uma psicóloga e uma assistente social. Afinal, qual é o objetivo de eu ensinar os pais e os alunos a identificarem os sinais de risco, se não sou capaz de garantir esse acolhimento depois?", afirma a psicóloga Raquel Antoniassi.

Em nota enviada à CRESCER, o Colégio Bandeirantes diz possuir iniciativas que buscam "criar um ambiente acolhedor e seguro para todos" e que "reforça seu compromisso com o bem-estar emocional de todos, destacando o trabalho realizado na área de Convivência Positiva". Segundo o colégio, os alunos são acompanhados pela equipe de Orientação Educacional, têm aulas semanais de Convivência, participam de Equipes de Ajuda para apoiar os colegas em momentos difíceis e contam com a C.A.R.E. (Comissão de Apoio Racional e Emocional), composta por alunos do Ensino Médio que oferecem suporte emocional e promovem a integração entre os alunos.

Onde buscar ajuda

Se você estiver passando por um momento difícil e precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Ele é um serviço gratuito de apoio e de prevenção ao suicídio que atende pessoas que precisam conversar. Para falar com a equipe de voluntários, mande um e-mail, acesse o chat pelo site ou disque 188. Eles ficam disponíveis de domingo a domingo, 24 horas por dia.

O CVV, em parceria com o UNICEF, também tem um canal de escuta exclusivo para adolescentes de 13 a 24 anos. Todo o processo é anônimo e, para usar, não é preciso se identificar. O "Pode Falar" existe para acolher adolescentes que sentem que precisam de ajuda e queiram conversar. Isso pode ser feito pelo chat online ou pelo WhatsApp. É preciso checar os horários de atendimento no site.

Mais recente Próxima Apenas 5 em cada 10 meninos adolescentes têm certeza que são amados pelo pai, diz estudo
Mais de Crescer

A família de Belo Horizonte (MG) até tentou, mas o balão insistiu em não estourar. O vídeo foi compartilhado nas redes sociais e acabou viralizando!

Chá revelação dá errado, mãe cai na gargalhada e vídeo viraliza

Em uma publicação nas redes sociais, a influenciadora contou que usou o carro para se locomover dentro do terreno da própria casa onde mora

Virgínia aparece dirigindo apenas uma semana depois da cesárea: afinal, pode?

Luciene Maria Alves, de Belo Horizonte (MG), conta como o cachorro auxilia sua filha a superar os desafios do dia a dia. “Parece que ele entende suas limitações”, comentou ela, que é mãe de Luísa, 7 anos

Golden ajuda menina com malformação cerebral a interagir com o mundo: "Cão terapeuta por natureza"

Mulheres prefeririam fazer exame de colo de útero em casa para evitar constrangimento

Mulheres preferem fazer exame de colo de útero em casa para evitar constrangimento, mostra pesquisa

A mãe explica que tenta ensinar a filha sobre consentimento — "Só quero que minha filha cresça sentindo que tem algum controle sobre seu próprio corpo". O post gerou polêmica. Saiba como ensinar sobre consentimento para as crianças!

Mãe quer que avó peça consentimento para beijar neta e divide opiniões online

Peter e Peggie Taylor se conheceram há 80 anos, durante a Segunda Guerra Mundial e, neste ano, os dois completaram 100 anos de idade cada

Há 80 anos juntos e com 17 bisnetos, casal comemora 100 anos de idade

Os pais prometeram um presente quando a mãe começou a sentir as contrações do parto, a caminho do hospital — e a cobrança veio logo depois!

Reação inesperada de menina ao conhecer irmãozinho viraliza na web

Sarah, seu marido David e seus quatro filhos, da Alemanha, enfrentaram dias de incerteza e angústia durante as férias na Irlanda, após o desaparecimento da cadela Mali, que ficou sumida por 15 dias

Cão desapece em viagem de férias e é encontrado duas semanas depois, em penhasco

Carl Allamby, negro e pai de quatro filhos, que cresceu em um bairro pobre, alcançou um feito extraordinário ao se tornar médico emergencista aos 51 anos. Após 25 anos trabalhando como mecânico e proprietário de uma oficina automotiva, Allamby decidiu ir atrás do seu sonho de infância

Após 25 anos como mecânico, pai de quatro filhos se torna médico aos 51

É quase que desesperador preparar uma refeição saudável e deliciosa, mas ver o filho não chegar nem chegar perto dela. Mas calma! Com algumas dicas simples, é possível — pouco a pouco — melhorar a relação dos pequenos com os alimentos saudáveis

7 atividades que podem fazer seu filho querer comer melhor