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A maioria das pessoas presume que pode ter filhos a qualquer momento, assim que decidir e começar a tentar. Acontece que nem sempre funciona dessa maneira. Em alguns casos, questões importantes, que interferem na fertilidade são descobertas tarde demais e, então, as possibilidades de realizar o seu desejo de ser mãe ou pai biologicamente podem estar reduzidas. Para minimizar esse risco o ideal é investigar o assunto bem antes de querer gerar um bebê, de acordo com o ginecologista e obstetra Arnaldo S. Cambiaghi, especialista em reprodução humana, FIV e endometriose, de São Paulo (SP).

O que você precisa saber sobre a sua fertilidade — Foto: Freepik
O que você precisa saber sobre a sua fertilidade — Foto: Freepik

“Na verdade, é importante considerar o tema com antecedência, especialmente devido ao impacto que a idade e outros fatores têm sobre a fertilidade”, explica, reforçando que isso vale tanto para as mulheres, quanto para os homens. “Para as mulheres, a fertilidade começa a declinar de forma mais acentuada a partir dos 30 anos, com uma queda mais significativa após os 35”, afirma. “Para os homens, apesar da produção de espermatozoides continuar ao longo da vida, a qualidade do sêmen pode diminuir com a idade”, diz o médico.

O ideal, segundo ele, é que tanto os homens quanto as mulheres busquem uma avaliação de sua fertilidade mais cedo, especialmente quando há histórico familiar de infertilidade ou de problemas de saúde que possam impactar a fertilidade ou ainda caso pensem em adiar a paternidade ou a maternidade para mais tarde na vida. “Essa antecipação pode permitir que se tomem medidas preventivas, como o congelamento de óvulos ou espermatozoides, para preservar a fertilidade para o futuro”, orienta.

O que é fertilidade?

Fertilidade é a capacidade biológica de uma pessoa ou de um casal de conceber e dar início a uma nova vida, define Cambiaghi. Para que isso ocorra, é fundamental que diversos fatores — como a saúde e a qualidade dos óvulos e dos espermatozoides, a função das trompas de Falópio, a integridade do útero e os níveis hormonais — estejam em equilíbrio. “No caso das mulheres, a fertilidade é influenciada pelo número e qualidade dos óvulos, que diminui com o passar do tempo, principalmente após os 35 anos. Para os homens, a fertilidade está ligada à quantidade e motilidade dos espermatozoides”, diz o especialista. Além dos aspectos físicos, a fertilidade também é influenciada por condições psicológicas e emocionais. “Cada caso deve ser abordado com uma visão integral e cuidadosa”, ressalta.

Fertilidade e concepção: óvulos e espermatozoides — Foto: Freepik
Fertilidade e concepção: óvulos e espermatozoides — Foto: Freepik

Quanto tempo demora para engravidar?

Se você nunca fez exames para saber se está tudo certo com a sua capacidade reprodutiva, provavelmente só vai descobrir se é fértil ou não na hora de tentar engravidar. De acordo com o ginecologista e obstetra Oscar Duarte Filho, especialista em reprodução assistida da Clínica Vida Bem Vinda (SP), do Fertgroup, é considerado normal engravidar em até um ano de tentativas. “Porém, sabe-se que 50% dos casais férteis vão engravidar até o terceiro mês de tentativas e 75% até o sexto mês”, afirma o especialista.

Passados seis meses, já é bom ficar alerta. Ficou um ano inteiro transando sem proteção e mesmo assim o teste de gravidez positivo não veio? Aí não há dúvidas: é hora de buscar ajuda. “Se a mulher tem mais de 35 anos, recomenda-se já procurar esse auxílio com 6 meses de tentativas sem sucesso, e, se tem mais de 40 anos, procurar imediatamente, a fim de não atrasar eventuais diagnósticos ou tratamentos”, aponta o médico. “Além disso, mulheres que têm ciclos menstruais irregulares e pessoas que já sabem que têm algum fator de risco para infertilidade (infecções sexualmente transmissíveis prévias, endometriose, miomas, varicocele, tratamentos prévios de quimioterapia ou radioterapia) também devem procurar ajuda imediata”, orienta.

Quando você tem o objetivo de engravidar, as relações sem proteção devem acontecer, pelo menos, a cada dois ou três dias, no período fértil, para aumentar as chances. “Há um mito de que relações sexuais diárias podem prejudicar as chances de gravidez, mas é o contrário: isso pode aumentar as possibilidades de concepção. Apesar disso, o intervalo a cada dois ou três dias já é suficiente”, esclarece Duarte Filho.

Testes de fertilidade

Para avaliar se está tudo certo com a sua fertilidade, o primeiro passo é buscar um médico especialista. Durante a consulta, ele deve fazer uma avaliação clínica, para entender o seu histórico. Pode ser que peça alguns exames específicos.

Exames de fertilidade para mulheres

TIPO DE EXAME OBJETIVO
Avaliação de reserva ovariana Medir os níveis do hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio antimulleriano (AMH)
Ultrassonagrafia transvaginal Contar os folículos atrais nos ovários
Ultrassonografia pélvica Examinar a anatomia dos órgãos reprodutivos, como útero e ovários, identificando possíveis problemas como biomas ou cistos
Histerossalpingografia (HSG) Avaliar as trompas de Falópio e o útero, para verificar obstruções ou anomalias
Teste de ovulação Medir os níveis de progesterona ou hormônio luteinizante (LH), para confirmar se a ovulação está acontecendo
Biópsia endometrial Avaliar a receptividade do revestimento uterino ao embrião
Pesquisa da integridade anatômica da mulher Detectar malformações uterinas, como útero septado e unicorno

Exames de fertilidade para homens

TIPO DE EXAME OBJETIVO
Espermograma Analisar a quantidade, motilidade, morfologia (forma) e volume dos espermatozoides
Teste de fragmentação do DNA espermático Avaliar a integridade do DNA nos espermatozoides
Exames hormonais Medir os níveis de testosterona, FSH, LH e prolactina e ajudar a avaliar a função testicular
Ultrassonografia escrotal Examinar a estrutura dos testículos para identificar varicocele e outras anomalias
Testes genéticos Detectar anomalias cromossômicas que afetam a fertilidade

Além dos exames listados acima, tanto homens quanto mulheres podem receber indicação de fazer testes genéticos e exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), já que infecções não tratadas podem prejudicar os órgãos reprodutivos. “Esses testes, sob a orientação de um especialista, são essenciais para diagnosticar problemas de fertilidade e orientar o tratamento adequado”, explica Cambiaghi.

Fatores que podem atrapalhar a fertilidade

Diferentes fatores podem impactar a capacidade de homens, mulheres ou casais de conceberem um bebê naturalmente:

1. Doenças que afetam os órgãos envolvidos no sistema reprodutivo

Nas mulheres, algumas das doenças mais comuns que interferem na fertilidade são a endometriose, a síndrome dos ovários policísticos (SOP) e doenças da tireoide. “Infecções pélvicas, como a doença inflamatória pélvica (DIP), também podem causar cicatrizes nas trompas de Falópio, dificultando a gravidez”, aponta Cambiaghi.

Nos homens, a varicocele, que causa uma dilatação das veias nos testículos, pode prejudicar a produção de espermatozoides. “Infecções genitais como a clamídia e a gonorreia podem danificar o trato reprodutivo”, explica o especialista, que lembra que doenças crônicas, como diabetes e hipertensão também afetam a qualidade do sêmen. Além disso, tanto homens quanto mulheres podem ser afetados por doenças autoimunes e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), que comprometem a saúde reprodutiva.

Espermatozoide fecundando óvulo — Foto: Freepik
Espermatozoide fecundando óvulo — Foto: Freepik

2. Idade

“A mulher nasce com cerca de 1 a 2 milhões de óvulos. Já durante a infância, por razões ainda não compreendidas, perde uma parte significativa deles e entra na puberdade com algo entre 300 a 400 mil óvulos”, explica Duarte Filho. “Ao longo da vida adulta a perda de óvulos continua, mas isso tem pouca importância clínica até os 30 anos. A partir dessa faixa etária, a redução no estoque de óvulos passa a ser não só quantitativo, mas também qualitativo. É a partir desse momento que a dificuldade para engravidar começa a aparecer, ficando mais frequente ano após ano, até a menopausa, que, em média, acontece aos 50 anos”, detalha. Depois da menopausa, a mulher não tem mais óvulos e só é possível engravidar com óvulos próprios, congelados, ou com óvulos doados.

Ao contrário do que muita gente pensa, a idade também impacta a fertilidade masculina, já que, com o passar dos anos, a qualidade de sêmen tende a diminuir. “Embora os homens continuem a produzir espermatozoides ao longo da vida, a motilidade (capacidade de movimentação) deles pode ser reduzida. Aumenta também a probabilidade de alterações genéticas”, aponta Cambiaghi.

3. Estilo de vida

Hábitos como fumar, consumir álcool em excesso e o uso de drogas recreativas como maconha e cocaína podem reduzir a contagem de espermatozoides, afetar sua motilidade e causar anomalias. O uso de esteroides anabolizantes, por exemplo, também pode diminuir drasticamente a produção de espermatozoides. “Estudos mostram que as toxinas presentes no cigarro e no álcool podem levar a dano aos folículos ovarianos e óvulos e aos espermatozoides. Além disso, pesquisas epidemiológicas apontam maior incidência de infertilidade e aumento do tempo de tentativas para conseguir engravidar nas pessoas que usam essas substâncias. Embora não haja dose segura para consumo de álcool, os malefícios parecem se acentuar para quem usa mais, demonstrando uma relação de dose-efeito”, diz Duarte Filho.

“A mulher já nasce com todo o seu estoque de óvulos e vai perdê-los de acordo com uma programação pré-determinada geneticamente. Nada do que ela faça vai tornar essa programação de perda mais lenta. No entanto, maus hábitos de vida como má alimentação, uso e abuso de álcool, drogas e cigarros (incluindo os eletrônicos e vapes), sedentarismo, e má qualidade de sono podem acelerar essa perda, fazendo com que ela entre na menopausa mais jovem do que a sua genética determinaria”, afirma o médico. Ele aponta que mulheres que fumam podem entrar na menopausa 5 anos antes da média.

4. Alimentação e sedentarismo

Alimentação rica em gorduras saturadas e carboidratos refinados também está associada a menor fertilidade masculina. Para preservar a fertilidade, tanto homens quanto mulheres devem adotar hábitos saudáveis. Uma dieta balanceada, com frutas, vegetais, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, ajuda a manter um peso corporal saudável e fornece os nutrientes essenciais para a saúde reprodutiva.

“A obesidade e o sedentarismo podem reduzir os níveis de testosterona e piorar a função testicular, assim como atividade física em excesso (especialmente ciclismo, por mais de 5h por semana em bicicletas com selins rígidos e estreitos, comuns nas bicicletas profissionais e semiprofissionais)”, ressalta Duarte Filho.

5. Exposição ao calor e a toxinas

A exposição frequente a altas temperaturas, como banhos quentes prolongados ou o uso de saunas, pode prejudicar a produção de espermatozoides, uma vez que os testículos precisam estar em temperaturas mais baixas que o resto do corpo. Além disso, o contato com toxinas, como pesticidas, metais pesados e produtos químicos industriais, pode afetar negativamente a fertilidade masculina.

6. Estresse

O estresse pode afetar a fertilidade de maneira significativa, tanto em homens quanto em mulheres. Em mulheres, é capaz de causar desequilíbrios hormonais, alterando os níveis de hormônios reprodutivos como o cortisol, FSH e LH, o que pode interferir na ovulação e levar a ciclos menstruais irregulares ou ausentes. Além disso, o estresse prolongado pode impactar a qualidade dos óvulos e o ambiente do útero, tornando-o menos receptivo para a implantação de um embrião.

Para os homens, o estresse reduz a qualidade do sêmen, diminui a contagem, a motilidade e a morfologia dos espermatozoides, o que pode comprometer a fertilidade. Também pode afetar os níveis de testosterona e outros hormônios essenciais para a produção de espermatozoides. Isso sem falar que o estresse pode levar a comportamentos prejudiciais, como o consumo excessivo de álcool e tabagismo, que, como você já sabe, também afetam negativamente a fertilidade.

“O estresse associado à dificuldade de engravidar pode, por si só, afetar a fertilidade”, aponta Cambiaghi. “Esse estresse adicional pode criar um ciclo vicioso, onde a ansiedade e a preocupação com a concepção acabam exacerbando os problemas de fertilidade. A pressão e a frustração por não conseguir engravidar podem aumentar os níveis de cortisol, o que pode interferir na função hormonal e na ovulação em mulheres, e na qualidade do sêmen em homens”, explica. Por isso, é importante buscar suporte psicológico.

Dá para recuperar a fertilidade?

Mas, afinal, o que fazer para aumentar a fertilidade? Será que dá para correr atrás do prejuízo? Quando a fertilidade foi prejudicada por causa de hábitos ruins, é possível, sim, virar o jogo. Nesses casos, dá para recuperar a fertilidade mudando o estilo de vida, tratando doenças, vícios e melhorando a qualidade da alimentação e dos exercícios.

“Parar de fumar e reduzir ou eliminar o consumo de álcool pode levar a melhorias significativas na fertilidade. Para os homens, a qualidade do sêmen começa a melhorar em poucos meses após a interrupção desses hábitos, com mudanças mais evidentes geralmente dentro de 6 a 12 meses. A produção de espermatozoides é um processo contínuo e leva cerca de 2 a 3 meses para que novas espermatozoides sejam produzidos”, explica Cambiaghi.

Espermatozoides e óvulos: fecundação e fertilidade — Foto: Freepik
Espermatozoides e óvulos: fecundação e fertilidade — Foto: Freepik

Já no caso das mulheres, a recuperação pode levar um pouco mais de tempo. Segundo o ginecologista, a reserva ovariana e a saúde reprodutiva levam meses para melhorar após a interrupção do tabagismo e do consumo excessivo de álcool. “Os efeitos completos podem levar até um ano ou mais”, afirma. Ele lembra que, embora a recuperação possa melhorar a fertilidade, ela não necessariamente será restaurada ao nível de alguém que nunca teve esses hábitos. “No entanto, parar de fumar e moderar o consumo de álcool pode aumentar significativamente as chances de concepção e promover uma gravidez mais saudável”, acrescenta.

Para preservar e melhorar a fertilidade, é essencial adotar um estilo de vida saudável, manter uma dieta adequada, evitar substâncias prejudiciais e minimizar a exposição a condições e substâncias nocivas. Além disso, realizar exames de saúde regulares pode ajudar a identificar e corrigir precocemente quaisquer problemas que possam impactar a fertilidade.

Congelar óvulo e sêmen: quando vale a pena?

A criopreservação, com o congelamento de óvulos ou de sêmen, é uma estratégia válida para quem deseja adiar a gravidez por razões pessoais, profissionais ou de saúde. Também é recomendada para pessoas que vão passar por tratamentos médicos que possam comprometer a fertilidade, como quimioterapia. Também pode ser útil para pessoas com risco genético de condições hereditárias ou para quem enfrenta incertezas na vida pessoal. Em qualquer caso, é importante discutir com um especialista em fertilidade para avaliar a melhor opção.

“O congelamento de óvulos pode ser feito a qualquer momento após a puberdade, partindo-se da premissa que a perda de óvulos é contínua desde o nascimento até a menopausa”, diz Duarte Filho. Do ponto de vista prático, para a maioria das mulheres, o momento ideal é fazer isso entre os 25 e os 35 anos. “É o período que permite equilibrar boas quantidade e qualidade de óvulos con uma fase da vida em que já é possível pensar no planejamento familiar”, completa.

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