Planejando a gravidez
 


Se estivesse vivo, Arthur teria completado 8 anos no dia 5 de abril. Apesar de ter nascido sem vida, a mãe, a criadora de conteúdo Marcela Mendonça (@umavidaespecial), 39 anos, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, o carregou por longos nove meses em sua barriga. "Tivemos que fazer o enterro, com tudo pronto: quarto, roupinhas, bolsa maternidade... tudo prontinho", lembra. "Isso foi há oito anos, quando ainda não se falava muito sobre humanização da perda. Os profissionais não estavam preparados, ainda mais para uma perda tão tardia. Perguntaram se eu queria ver o Arthur, mas, na hora, eu estava em choque, só chorava, não entendia o que estava acontecendo e acabei não vendo meu filho. Essa é uma dor que carrego até hoje", admitiu.

Marcela, que também é mãe de Luisa, 10, e Bruno, 6, que tem paralisia cerebral, relembrou como foi o dia em que deu à luz seu filho natimorto, a reação das pessoas e como lidou com a perda do filho. "Eu falo que a gente nunca supera a perda de um filho porque não existe superação nisso, mas a gente aprende a conviver com o vazio", afirmou. Confira o relato completo.

Marcela com o marido — Foto: Reprodução/Instagram
Marcela com o marido — Foto: Reprodução/Instagram

"Primeiro, veio Luisa, 10 anos. Ela foi planejada, a gestação foi tranquila, sem nenhuma intercorrência. Eu corri até o oitavo mês — 5 km quase todos os dias. Ela nasceu de parto normal, saudável e sem nenhum problema. Depois, engravidei de Arthur, que também foi planejado. Mas, diferentemente da gestação de Luisa, com 36 semanas e cinco dias, tive um descolamento de placenta abrupto, sem sinal nenhum. Foi durante a madrugada, enquanto eu dormia, e foi bem grave. Eu quase faleci. Há apenas quatro dias, eu tinha ido ao médico e estava tudo bem.

Senti um calor forte, como se tivesse estourado minha bolsa, e acordei. Me levantei, fui para o banheiro e, quando acendi a luz, me desesperei: eu estava sangrando. Minhas forças começaram a diminuir e eu fui querendo cair ao chão. Sentei me apoiando no vaso do banheiro e, sem forças, não conseguia chamar meu marido. Ele acordou — até hoje não sabe como — e, quando me viu no banheiro, saiu ligando para a médica e a enfermeira obstétrica que nos acompanhava.

Rápida, aliás, muito rápida, a enfermeira chegou. Eu tinha contratado ela, pois queria um parto natural. Afinal, eu tive Luísa de parto normal e queria repetir. Ela falou: 'Vamos rápido para o hospital'. Era mais ou menos umas 3h horas da manhã quando chegamos no hospital e eu ainda sangrando muito. Minha cesaria de urgência começou e eu só sabia chorar. Não fui sedada., então, vi toda a correria dos médicos, depois aquele silêncio da sala, sem choro. É horrível aquele silêncio, é um silêncio ensurdecedor. Você fica desorientada. Ele estava sem vida. O médico tentou reanimá-lo, mas ele não voltou. Era um bebezão de 3,5 kg, coisa mais linda. Tivemos que fazer o enterro, com tudo pronto: quarto, roupinhas, bolsa maternidade, enxoval completo... tudo prontinho. Foi aquela tristeza da perda gestacional. Foi muito difícil.

Perguntaram se eu queria vê-lo, mas, na hora, eu estava em choque, só chorava, não entendia o que estava acontecendo e acabei não vendo meu filho. E essa é uma dor que carrego até hoje. Eu sei que é difícil segurar um filho morto, mas poderia ter visto, poderia ter ficado com uma lembrança para mostrar que ele existiu. Com a perda, descobri que tinha uma trombofilia hereditária. E foi essa trombofilia que levou ao descolamento de placenta.

Na época, minha filha mais velha não tinha completado 2 anos ainda e, como tudo aconteceu de repente, durante a madrugada, levamos ela junto. Lembro de estar lá, deitada, na recuperação, meu marido com nossa filha no colo, chorando muito, e a doula entrando, chorando muito também. Lembro da médica, ainda na sala de parto, chorando e dizendo: 'Eu sinto muito'. Essa frase, foi muito difícil de ouvir. Eu pensava: 'Como assim, sinto muito? Eu quero meu filho'. Foi desesperador. Eu sempre falo que a gente nunca supera a perda de um filho porque não existe superação nisso, mas aprendemos a conviver com o vazio. Fica um buraco que nunca será preenchido, independemente da quantidade de filhos, nunca será preenchido.

Marcela durante a gravidez de Arthur — Foto: Arquivo pessoal
Marcela durante a gravidez de Arthur — Foto: Arquivo pessoal

Isso foi há oito anos, quando ainda não se falava muito sobre humanização da perda. Os profissionais não estavam preparados, ainda mais para uma perda tão tardia. Muitas pessoas tratam a perda gestacional como sendo algo 'substituível'. Ouvi muito, na época: 'Logo, você vai ter outro' e 'Ainda bem que você não conviveu com ele'. Eu convivi com ele, sim, durante nove meses de gestação. A família toda esperava por ele, preparamos o quartinho, vivemos um sonho. Mas a sociedade ainda não sabe lidar e, muitas vezes, não é por maldade. Não somos preparados para a perda. As falas são muito primitivas — 'Pensa pelo lado positivo', dizem, e de forma natural, porque fomos condicionados à isso. Há oito anos, não tinha humanização e, ainda hoje, apesar de o assunto ser mais falado, ainda é tabu.

Mas sempre acreditei muito nos aprendizados da vida, então, encarei como um aprendizado — embora dolorido. Lutei para seguir adiante e voltei a fazer minhas caridades (ajudo a fazer comida em uma ONG). Foquei muito em exercício físico e em cuidar da minha filha, do meu marido. Demorou um pouco, mas mas voltei a cuidar do meu corpo e da minha alma, e isso me ajudou muito no processo do luto. Muitas vezes, focamos tanto nas nossas dificuldades, que a gente acaba acreditando que as nossas são muito maiores que a dos outros. Todos temos nossas dificuldades e cada um no seu grau.

Há oito anos, as mães se calavam muito. As pessoas achavam que, por não termos convivido com aquela criança, não há motivos para o luto, e isso era muito difícil. Foi uma batalha. Meu filho existiu, eu sou mãe de uma criança que partiu, mas ainda sou a mãe do Arthur. Eu o amei e o amo até hoje!"

Marcela é mãe de três: Luisa, Arthur e Bruno — Foto: Reprodução/Instagram
Marcela é mãe de três: Luisa, Arthur e Bruno — Foto: Reprodução/Instagram

A chegada de Bruno

Meses após a partida de Arthur, Marcela engravidou de Bruno. Mas, com 31 semanas, mais uma vez, ela teve descolamento de plancenta. "Corremos para o hospital e, quando chegamos, Bruno já estava em óbito. Os médicos foram muito rápidos. Ele nasceu, tentaram reanimá-lo por 20 minutos, e ele voltou. Mas voltou em estado grave e foi levado diretamente para a UTI", lembra. Bruno recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral, hidrocefalia e epilespia refratária [quando o tratamento com medicamentos controla as convulsões]. Confira o depoimento de Marcela À CRESCER, como mãe de uma criança atípica.

Marcela com Bruno e Luisa — Foto: Reprodução/Instagram
Marcela com Bruno e Luisa — Foto: Reprodução/Instagram
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