Na última terça-feira (31), uma jovem de 19 anos morreu depois se encontrar com um jogador de futebol da categoria sub-20, em São Paulo. O atestado de óbito emitido pelo hospital aponta que uma ruptura na região genital causou um sangramento intenso e quatro paradas cardiorrespiratórias. À polícia, o jovem contou que ela desmaiou durante a relação sexual. De acordo com o G1, exames complementares devem revelar, em 30 dias, o que causou a lesão na região conhecida como "saco de Douglas".
O que é o saco de Douglas?
O ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, médico associado à FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que saco de Douglas é o nome anatômico dado ao espaço que fica na parte baixa do abdômen, entre o útero e o reto. "A bexiga, o útero e o reto são órgãos centrais — do útero saem as trompas, uma para cada lado, e os ovários são órgãos laterais, um à esquerda e um à direita. O espaço que se forma na porção que engloba a parte de trás do útero, o meio da trompa e do ovário esquerdo, e o meio da trompa e do ovário direito ganha o nome de fundo de saco de Douglas", explica.
![Saco de Douglas: entenda os riscos de um rompimento — Foto: Freepik](https://s2-crescer.glbimg.com/C4TCZsM3k6KnnvXQQcntqtYjUDA=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_19863d4200d245c3a2ff5b383f548bb6/internal_photos/bs/2024/y/W/q9luezTm2B2VhggfZAfA/vista-superior-do-sistema-reprodutor-feminino.jpg)
Segundo o obstetra, a ruptura dessa região pode gerar uma hemorragia bastante intensa: "Isso porque a vagina é suprida por ramos arteriais com intensa pressão sanguínea, além de serem ramos terminais maiores". Pupo detalha como isso ocorre: "A aorta [uma das maiores e mais importantes artérias do corpo humano, responsável por levar oxigênio para todo o organismo] se divide nas artérias ilíacas direita e esquerda, interna e externa. A externa vai irrigar as pernas e a interna irriga os órgãos pélvicos. O ramo dessa artéria ilíaca interna irriga a vagina. Por isso, a pressão arterial é grande nessa região. Então, uma ruptura do saco vaginal acaba gerando um sangramento importante".
Quais são os riscos de um rompimento?
O caso da jovem de 19 anos não só chocou as pessoas, como gerou curiosidade. Afinal, quais são os riscos dessa região se romper durante o ato sexual? "O fundo do saco vaginal é bastante resistente e, obviamente, é preparado para o ato sexual. Então, ele não se rompe facilmente em pacientes que estão em idade fértil", afirma.
No entanto, segundo Pupo, os riscos de uma ruptura aumentam na pós-menopausa [período marcado pelo fim das ovulações mensais]. "Por conta da atrofia causada pela falta de hormônios, a vagina vai ficando mais fina, delgada e perde o que chamamos de complacência — vai ficando menos elástica. Isso pode, eventualmente, contribuir para o rompimento em pacientes de mais idade, que não fazem reposição hormonal. Mas em pacientes jovens, dificilmente isso acontece durante o ato sexual. Via de regra, para romper o fundo de saco de Douglas em uma paciente em idade fértil, algo fora do padrão natural aconteceu — como a penetração com um objeto cortante, muito rígido ou muito maior do que o comprimento vaginal", pressupõe.
Outra possibilidade, segundo o especialista, apesar de rara e menos provável, é de, durante a relação, a movimentação do pênis empurrar o ar para dentro da vagina. "Os lábios vaginais e o próprio pênis podem servir como uma espécie de válvula para que esse ar não saia e se acumule, gerando uma pressão grande e levando ao rompimento do fundo de saco vaginal. Em pacientes com mais idade, pode acontecer, mas em pacientes mais jovens é bem raro", completa.
O que fazer se houver o rompimento?
Em caso de sangramento vaginal intenso, Pupo orienta que é fundamental buscar atendimento médico com urgência. "Desde que seja identificado rapidamente, a paciente é submetida a um tratamento cirúrgico, no qual é feito a rafia, isto é, controlado o sangramento e realizado o fechamento da lesão — da mesma maneira que se faz quando é cortada a pele. A região é suturada até que toda área seja fechada. Depois disso, orienta-se esperar pelo menos quarenta dias para que a região recupere a firmeza e a mulher possa retomar a vida sexual", finaliza.