• Redação Galileu
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Recipientes de cerâmica encontrados em Qiaotou, na China, eram utilizados para armazenar bebidas e alimentos (Foto:  Jiajing Wang)

Recipientes de cerâmica encontrados em Qiaotou, na China, eram utilizados para armazenar bebidas e alimentos (Foto: Jiajing Wang)

Povos do sul da China já consumiam cerveja há 9 mil anos como uma forma de homenagear os mortos. Evidências dessa prática foram identificadas por pesquisadores que analisaram antigos potes utilizados para armazenar bebidas alcoólicas.






Os itens foram encontrados em um cemitério na cidade chinesa de Qiaotou, em um monte de 3 metros de altura que estava cercado por uma vala de 1,5 metro a 2 metros de profundidade. O resultado da análise dos artefatos está em um artigo científico publicado em 12 de agosto, no jornal PLOS ONE.

No monte estavam vários vasos de cerâmica de tamanhos variados, todos podendo ser segurados na mão como um copo, e muitos deles em perfeito estado. As cerâmicas eram pintadas com pasta branca e tinham desenhos abstratos. Esses artefatos são considerados únicos, já que nenhum recipiente do tipo fora encontrado em sítios arqueológicos da mesma época.

Havia ao todo 20 vasos, dos quais sete eram de pescoço longo, usados para beber álcool em períodos históricos posteriores. Todos os recipientes passaram por uma análise de resíduos de microfósseis, que indicou a presença de amido, fitólito (um tipo de resíduo vegetal fossilizado), fungos, mofos e leveduras.

Ao compararem as amostras com o solo ao redor dos vasos, os pesquisadores notaram que os micróbios presentes nos potes faziam parte de resíduos da fermentação da cerveja e não eram encontrados de modo natural no terreno. Ao que tudo indica, era uma bebida fermentada feita de uma combinação de arroz Oryza sp., grãos conhecidos como “lágrimas de Jó” (Coix lacryma-jobi) e tubérculos não identificados.

Esqueleto e vaso encontrados em antigo cemitério em Qiaotou, na China  (Foto: Leping Jiang/Leping Jiang)

Esqueleto e vaso encontrados em antigo cemitério em Qiaotou, na China (Foto: Leping Jiang/Leping Jiang)

“Essa cerveja milenar, porém, não seria como uma India Pale ale (IPA) que temos hoje. Em vez disso, era provavelmente uma bebida ligeiramente fermentada e doce, que tinha uma cor mais turva”, conta Jiajing Wang, coautor do estudo, e professor de antropologia no Dartmouth College (EUA), em comunicado.

Os autores da pesquisa perceberam também que estruturas microscópicas de cascas de arroz e resíduos de outras plantas também estavam nos vasos. Tais ingredientes podem ter sido adicionados na cerveja como um agente de fermentação, embora na época comunidades de caçadores-coletores ainda estivessem iniciando a domesticação desse grão.






A coleta e o processamento de arroz eram bem trabalhosos, então os especialistas acreditam que a cerveja era só para ocasiões especiais. No mesmo monte onde estavam as cerâmicas, foram encontrados dois esqueletos humanos. Como a área fica entre locais de enterro, isso reforça a hipótese de que rituais eram regados a bebida alcoólica.