• Redação Galileu
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Arqueólogos encontram primeiras evidências de crucificação romana na Inglaterra (Foto: Reprodução/Albion Archaeology)

Arqueólogos encontram primeiras evidências de crucificação romana na Inglaterra (Foto: Reprodução/Albion Archaeology)

Uma equipe de arqueólogos estava realizando uma escavação em Fenstanton, na Inglaterra, quando encontrou um assentamento romano à beira da estrada contendo cinco pequenos cemitérios — algo comum na região. Os especialistas, porém, ficaram surpresos ao constatarem que uma das pessoas enterradas apresentava indícios de crucificação.

A descoberta será publicada na edição de Janeiro/Fevereiro de 2022 da revista British Archaeology e representa uma rara evidência de crucificação antiga, sendo a primeira do Reino Unido e do norte da Europa. De acordo com o artigo, o assentamento foi identificado em 2017 na estrada de Via Devana, que ligava cidades romanas a Cambridge e Godmanchester.

Os pesquisadores acreditam que a área deveria ocupar cerca de 6 hectares. A parte central foi preservada, e a escavação focou nas bordas do local, mantendo distância do espaço doméstico. Mesmo assim, a equipe achou resquícios de um grande prédio de madeira e de ruas de pedra.

O trabalho em campo revelou várias tumbas romanas. A maioria delas estava reunida em cemitérios pequenos, do tamanho de um terreno doméstico. Por análise de DNA, foi possível identificar alguns poucos grupos familiares. Examinando os esqueletos, os especialistas concluíram que grande parcela da população adulta sofria com muitos ferimentos e doenças.

Nenhuma das covas chamou atenção dos arqueólogos em um primeiro momento. Foi apenas durante as atividades em laboratório que eles conseguiram observar um esqueleto com um prego no calcanhar. Os pesquisadores estimam que o corpo pertenceu a um homem com idade entre 25 e 35 anos.

Arqueólogos encontram primeiras evidências de crucificação romana na Inglaterra (Foto: Reprodução/Albion Archaeology)

Arqueólogos encontram primeiras evidências de crucificação romana na Inglaterra (Foto: Reprodução/Albion Archaeology)

O indivíduo apresentava saúde dental deteriorada e artrite — sendo essas características comuns a outras pessoas enterradas em Fenstanton. Também havia sinais de afinamento na parte inferior das pernas, uma possível consequência de infecção, inflamação ou irritação local decorrentes de amarração ou algemamento.

Doze pregos presentes no restante do esqueleto indicam que ele não deve ter sido colocado em um caixão, mas em uma tábua ou em um suporte para caixão. Já o 13ª estava fincado horizontalmente no calcanhar direito. Nos tempos romanos, crucificar pessoas era relativamente comum. No entanto, geralmente as vítimas eram amarradas à cruz, e não pregadas (quando pregos eram utilizados, eles eram descartados posteriormente).

Segundo os arqueólogos, é bastante improvável que o metal tenha atravessado o osso acidentalmente em virtude da construção do suporte de madeira onde o esqueleto estava. Há ainda sinais de um furo adicional, que teria marcado uma primeira tentativa falha de pregar o corpo.

Os autores do artigo afirmam que, apesar de não se tratar de uma prova absolutamente incontestável, a crucificação parece ser a única explicação plausível. Isso faz com que esse seja o quarto caso de crucificação registrado no mundo por meio de evidências arqueológicas.

Eles destacam também que o aspecto mais impressionante desse esqueleto não é tanto a crucificação, mas o fato de que o corpo foi recuperado depois da morte e recebeu um enterro formal junto com os demais, nos deixando com uma evidência extremamente rara do que aconteceu.

Além disso, os arqueólogos descobriram outras características do assentamento. Eles notaram, por exemplo, um número elevado de ossos de animais concentrados em uma região específica, o que sugere a presença de operações industriais de larga escala. Com base no posicionamento do material, eles acreditam que a banha do gado deveria ser empregada na fabricação de sabão ou velas.