• Redação Galileu
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Um homem africano que viveu há 350 anos foi enterrado em um cemitério pré-histórico em Amoreira, em Portugal.  (Foto:  Uppsala University)

Um homem africano que viveu há 350 anos foi enterrado em um sítio pré-histórico em Amoreira, em Portugal. (Foto: Uppsala University)

Em uma enorme pilha pré-histórica de ossos e conchas, conhecida como sambaqui, pesquisadores encontraram os restos mortais de um africano que morreu há 350 anos na freguesia portuguesa de Amoreira. O achado foi registrado nesta segunda-feira (21) no periódico Journal of Archaeological Science: Reports.






A região da descoberta é repleta de sambaquis, depósitos de matéria orgânica usados como cemitérios para armazenar restos de caçadores-coletores que viveram há 8 mil anos. Para identificarem as ossadas do homem, os especialistas da Universidade de Uppsala e da Universidade de Lisboa usaram técnicas de arqueologia biomolecular, DNA antigo e registros históricos.

Segundo revelou a análise, o indivíduo morreu por volta de 1630 e 1760. Ele era provavelmente da Senegâmbia e chegou a Portugal através do tráfico transatlântico de escravos. Sua dieta consistia principalmente em alimentos vegetais comuns na região africana, mas incluía também em menor quantidade seres marinhos de baixo nível trófico como moluscos bivalves.

Um dos ossos do indivíduo tinha um sinal isotópico de oxigênio, que trouxe indícios da água que ele ingeria em seu local de origem, provavelmente nas áreas costeiras da África Ocidental, na atual Mauritânia, Senegal e Gâmbia.

Os pesquisadores usaram suas conclusões para buscar pistas sobre a motivação do sepultamento do africano, considerado incomum. “O enterro desse homem em um local de 8 mil anos pode ser um exemplo da manutenção de crenças e práticas culturais por povos africanos translocados para a Europa, embora essa prática específica não esteja documentada nos registros históricos”, diz comunicado.

Ao tentarem identificar o africano, os cientistas encontraram em uma igreja local um documento  de 1 de novembro de 1676, que menciona o assassinato de um jovem chamado João exatamente no local onde os ossos foram achados. Contudo, o texto afirma que a vítima foi sepultada no adro da basílica.






O homem morto também é descrito como “marrom” ou "pardo", o que provavelmente se refere a alguém de origem interracial. Porém, o estudo sugere que este não é o caso, já que ambos os pais do indivíduo eram de ascendência africana.

Apesar da incompletude dos registros, os pesquisadores conseguiram com uma abordagem multidisciplinar reconstruir aspectos específicos da vida e morte do sujeito. Isso mostra, segundo eles, o valor dessa abordagem para investigar histórias de vida africanas no início da Europa Moderna, ainda muito obscurecidas.