• Redação Galileu
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Esqueleto encontrado no sítio arqueológico de Copaca, no Chile  (Foto:  Pedro Andrade)

Esqueleto encontrado no sítio arqueológico de Copaca, no Chile (Foto: Pedro Andrade)

Ao analisarem restos de medula óssea e algas em um esqueleto encontrado no Chile, pesquisadores concluíram que os ossos eram de um homem morto por afogamento há 5 mil anos. Os detalhes foram publicados em fevereiro no periódico Journal of Archaeological Science.






O homem, que viveu no período Neolítico, seria um pescador que se afogou no mar. Seus restos estavam enterrados em uma vala comum e continham diatomáceas, algas encontradas também em água doce e no solo. Quando estão dentro dos ossos, são indícios de afogamento para a medicina forense.

No caso do homem no Chile, ele provavelmente engoliu água com essas algas antes de morrer. É a primeira vez que um teste revela com sucesso o afogamento de um ser humano pré-histórico em água salgada. O achado é fruto do trabalho de uma equipe liderada por pesquisadores da Universidade de Southampton, na Inglaterra.

Genevieve Cain e Pedro Andrade com ossos do homem que teria morrido afogado há 5 mil anos (Foto: Genevieve Cain/James Goff)

Especialistas Genevieve Cain e Pedro Andrade com ossos do homem que teria morrido afogado há 5 mil anos (Foto: Genevieve Cain/James Goff)

Além do teste de diatomáceas, os pesquisadores fizeram uma ampla análise microscópica da medula óssea do homem e encontraram uma variedade de partículas marinhas no esqueleto. Entre elas, estavam pequenas algas fossilizadas, ovos de parasitas e sedimentos — todos não detectados previamente pelo teste padrão de diatomáceas.

Os ossos do pescador estavam no sítio arqueológico de Copaca, a 1,3 km ao sul de Tocopilla, na costa chilena. O local contém uma sepultura com três esqueletos bem preservados. Os restos fossilizados sugerem que o indivíduo era de um grupo caçador-coletor e morreu afogado quando tinha entre 35 e 45 anos.






Havia sinais ainda de que, em vida, ele estava acostumado a remar e a colher mariscos, mas sua morte não foi nada grandiosa. Segundo James Goff, professor que liderou o estudo, o pescador estava em água rasa. “Podemos ver que o pobre homem engoliu sedimentos em seus momentos finais, e os sedimentos não tendem a flutuar em concentrações suficientes em águas mais profundas", diz Goff, em comunicado.

Professor James Goff da Universidade de Southampton com esqueleto  (Foto: Genevieve Cain/James Goff)

Professor James Goff, da Universidade de Southampton, com esqueleto (Foto: Genevieve Cain/James Goff)

Os cientistas imaginam que o pescador tenha morrido durante um acidente marítimo, e não um evento catastrófico. Isso porque os ossos dos demais esqueletos enterrados ao lado do homem não tinham partículas marinhas, portanto, provavelmente os outros mortos não morreram afogados no mar.

Os pesquisadores querem confirmar a hipótese sobre a morte do pescador testando mais restos humanos no sítio arqueológico e analisando registros de antigos desastres naturais na área. Goff acredita que a nova técnica usada no estudo poderá ajudar a estudar outros cemitérios, revelando como era difícil viver à beira-mar na pré-história e como as pessoas eram afetadas por catástrofes.

“Existem muitos cemitérios em massa costeiros em todo o mundo onde foram realizados excelentes estudos arqueológicos, mas a questão fundamental do que causou tantas mortes não foi abordada”, afirma o pesquisador. “Agora podemos levar essa nova técnica para todo o mundo e potencialmente reescrever a pré-história.”