• Redação Galileu
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Esqueletos que dão pistas sobre como era a mumificação no Mesolítico (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

Esqueletos que dão pistas sobre como era a mumificação no Mesolítico (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

Após estudar ossos de 13 pessoas encontrados em um cemitério de caçadores-coletores em Portugal, pesquisadores descobriram que a mumificação já ocorria na Europa durante o período Mesolítico. A análise está em estudo publicado nesta quinta-feira (3) no periódico European Journal of Archaeology.






Os esqueletos de 8 mil anos foram encontrados na década de 1960 no Vale do Sado, mais especificamente em sambaquis — pilhas de restos mortais, conchas e outros detritos. Os autores do estudo reconstituíram as posições de enterro dos corpos, compreendendo assim como eram os rituais mortuários na Pré-História.

Surpreendentemente, a equipe descobriu que a mumificação era mais comum naquela época do que se imaginava. Composto por especialistas das universidades Linnaeus e de Uppsala, na Suécia, e da Universidade Aberta de Portugal, o grupo encontrou nas ossadas evidências de dessecação e outros tratamentos pré-enterro.

Esqueleto descoberto no Vale do Sado em Portugal (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

Esqueleto descoberto no Vale do Sado em Portugal (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

A pesquisa analisou fotografias dos esqueletos, realizou experimentos de decomposição humana e combinou os resultados com dados de arqueotanatologia, ramo que estuda restos humanos em sítios arqueológicos, considerando a degradação e a distribuição espacial dos resquícios.




Com isso, os autores identificaram caracteríscicas como hiperflexão dos membros, ausência de desarticulação em partes significativas do esqueleto e um rápido preenchimento de sedimentos ao redor dos ossos. Alguns dos corpos estavam inclusive com as pernas flexionadas na altura dos joelhos e colocadas à frente do peito.

Reconstituição das múmias, esqueletos e desenho das ossadas (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

Reconstituição das múmias, esqueletos e desenho das ossadas (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

O padrão de hiperflexão e a ausência de desarticulação, segundo os pesquisadores, indicam que os corpos não eram frescos, mas foram depositados em estado ressecado, como múmias. A dessecação mantém algumas das articulações fracas e também permite a forte flexão do corpo, já que há maior volume de tecido mole.

Como os mortos foram dessecados, havia muito pouco ou nenhum sedimento presente entre os ossos. Tudo sugere, portanto, que os corpos passaram por um "processo de mumificação natural guiado”, durante o qual o corpo se tornou seco, mantendo sua integridade. Enquanto isso, eram colocadas cordas ou bandagens para comprimi-lo na posição desejada.

Reconstrução da distribuição espacial dos sepultamentos pré-históricos (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

Reconstrução da distribuição espacial dos sepultamentos pré-históricos (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

“Em climas temperados mediterrâneos com verões longos e quentes, como no sul de Portugal, os primeiros sinais de putrefação de um corpo exposto ao ar podem tornar-se evidentes apenas meio dia após a morte”, escreveram os pesquisadores. “Embora essas condições possam acelerar a decomposição, elas também podem facilitar a mumificação natural.”

Até então, os casos mais antigos de mumificação eram de caçadores-coletores da cultura Chinchorro, da região costeira do deserto chileno do Atacama, cujas múmias foram enterradas em sambaquis há 7 mil anos. A maioria dos restos mumificados ao redor do mundo, por outro lado, são de 4 mil anos, no máximo.

Ossos encontrados durante as escavações em Portugal  (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )

Ossos encontrados durante as escavações em Portugal (Foto: Rita Peyroteo-Stjerna et.al )