• Redação Galileu
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Arqueólogos encontram evidência de antiga punição chinesa em esqueleto  (Foto: Divulgação/ Li Nan)

Arqueólogos encontram evidência de antiga punição chinesa em esqueleto (Foto: Divulgação/ Li Nan)

Arqueólogos chineses encontraram o esqueleto de uma mulher com um pé amputado de quase 3 mil anos.  A importância da descoberta está em um novo estudo de seus ossos, que sugere que a característica não seja de uma condição médica ou acidente, mas uma evidência da yue, uma antiga punição chinesa. O estudo foi publicado no início de maio pela revista Acta Anthropologica Sinica.

Algumas das pistas para essa conclusão são que os ossos não mostram sinais de qualquer doença que pudesse ter tornado necessária tal amputação, além do ferimento ter sido feito grosseiramente.

"Após observação cuidadosa e discussões na mídia, nossa equipe de pesquisa descartou outras possibilidades e concordou que a amputação punitiva é a melhor interpretação", disse Li Nan, arqueóloga da Universidade de Pequim, na China, ao site Live Science.

De acordo com um estudo de 2019 da Tsinghua China Law Review, a punição yue foi comum na China antiga por mais de 1 mil anos, até ser abolida no século II a.C. Ainda que não esteja claro o que a mulher possa ter feito para perder o membro, na época em ele vivia, até 500 infrações diferentes poderiam resultar na amputação de do membro, incluindo rebelião, trapaça, roubo e até mesmo escalar certos portões.

Arqueóloga Li Nan (centro) com outros membros da equipe arqueológica da Universidade de Pequim (Foto: Divulgação/ Li Nan)

Arqueóloga Li Nan (centro) com outros membros da equipe arqueológica da Universidade de Pequim (Foto: Divulgação/ Li Nan)

Segundo os historiadores, a yue foi uma das "cinco punições para escravos" aplicadas desde o segundo milênio antes da Era Comum pelos imperadores da dinastia Xia, a primeira dinastia da China antiga.

As cinco punições consistiam em: mo, onde o rosto ou a testa eram tatuados com tinta indelével; yi, em que o nariz do infrator foi cortado; yue, a amputação dos pés; gong, uma castração brutalmente completa; e, por fim, pi, uma sentença de morte que poderia ser executada por decapitação ou até mesmo ser fervido vivo e despedaçado por cavalos, de acordo com um estudo de 1975 no Georgia Journal of International & Comparative Law.

O pé perdido do esqueleto, encontrado em uma tumba no noroeste da China, em 1999, foi ignorado inicialmente por pesquisadores, mas um novo exame dos restos revela mais sobre a vida da mulher.

A análise revelou que a mulher tinha entre 30 e 35 anos quando morreu, e que estava bem de saúde apesar da falta do pé. Ela não parecia ter sofrido nenhuma doença antes ou após a amputação, o que sugere que ela foi cuidada; e o crescimento dos ossos restantes da perna indicam que a mulher viveu por mais cinco anos antes de morrer.

Além disso, acidentes foram rapidamente descartados, porque, de acordo com Li, se ela tivesse sido atacada ou caído de um lugar alto, não faria sentido que ela só perdesse o pé direito, sem outros ferimentos.

Essa é a evidência mais antiga de yue já encontrada, apesar dos pesquisadores já terem visto esqueletos mutilados com ferimentos semelhantes em túmulos antigos. "O ponto não é encontrar, mas identificar", disse Li ao Live Science