• Redação Galileu
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Estudo utilizou dados de gorilas-das-montanhas coletados desde 1967  (Foto: Leila Boujnane/Unsplash)

Estudo utilizou dados de gorilas-das-montanhas coletados desde 1967 (Foto: Leila Boujnane/Unsplash)

Para nós, seres humanos, o ato de acolher familiares e amigos em momentos de necessidade é bastante usual. Agora, um estudo publicado na revista eLife mostra que um movimento semelhante acontece entre os gorilas, sugerindo que esse comportamento pode estar ligado ao nosso DNA e a algo que compartilhamos com os grandes primatas. Realizada pela instituição Dian Fossey Gorilla Fund, a pesquisa analisou dados acumulados por mais de 50 anos para entender como a perda da mãe influencia as relações sociais, a sobrevivência e a futura reprodução de jovens gorilas.

Mães são incrivelmente importantes para a sobrevivência no início da vida — isso é característico de todos os mamíferos”, afirma, em nota, Robin Morrison, autora principal do estudo. “E, em mamíferos sociais, as mães continuam a oferecer suporte na idade adulta e até mesmo depois”, complementa.

De acordo com os cientistas, tamanho é o impacto materno que, em muitas espécies, é comum os órfãos apresentarem uma taxa maior de mortalidade ou serem pais menos bem sucedidos. A pesquisa da Dian Fossey Gorilla Fund revela, porém, que os gorilas-das-montanhas contrariam essa tendência: os filhos que perdem a mãe entre dois e oito anos de idade não têm maior risco de morrer ou menor habilidade para se reproduzir e criar seus próprios filhotes.

Um dado que chamou a atenção dos pesquisadores, nesse caso, foi o aumento do número de interações dos gorilas sem mãe com outros membros do grupo. O estudo mostra que o macho dominante desempenha um papel importante de suporte aos órfãos. Mesmo que não haja um vínculo genético de paternidade, o líder se aproxima e passa mais tempo de descanso e higiene com eles.

Como a atitude foi observada em diferentes comunidades de gorilas-das-montanhas, os cientistas entendem que passar mais tempo com o líder do grupo faz com que os órfãos não fiquem socialmente isolados e continuem a ter acesso a comida e outros recursos.

Além de indicar uma semelhança comportamental entre seres humanos e gorilas-das-montanhas, o estudo se destaca por utilizar dados coletados desde 1967. “Assim como nós, os gorilas têm vidas longas e, por isso, registrar comportamentos raros e fascinantes desses animais demora muito tempo”, constata Tara Stoinski, autora sênior e cientista chefe da Dian Fossey Gorilla Fund.

“O nosso conjunto de dados é um dos mais extensos de qualquer espécie animal e nos ajuda a entender quanto nós dividimos com um dos nossos parentes mais próximos enquanto trabalhamos para protegê-los”, afirma Stoinski. “Isso reforça a importância de pesquisas a longo prazo sobre populações de animais selvagens”, conclui.