• Redação Galileu
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 Microlicia caparaoensis, espécie endêmica do Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais  (Foto: Renato Goldenberg)

Microlicia caparaoensis, espécie endêmica do Parque Nacional do Caparaó, em Minas Gerais (Foto: Renato Goldenberg)

Cinco novas espécies de plantas da família Melastomataceae foram descritas no Espírito Santo, incluindo quatro endêmicas do estado. Três delas estão ameaçadas de extinção e ocorrem fora de unidades de conservação, sem nenhuma proteção legal.






As descobertas foram registradas em dois estudos: três das cinco espécies estão descritas em artigo publicado nesta terça-feira (8) na revista Rodriguésia, e as outras duas foram relatadas em novembro, na revista Nordic Journal of Botany. Os espécimes foram coletados em áreas remotas por uma equipe do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA).

 Microlicia caparaoensis foi coletada pela primeira vez em 1988, mas só foi descrita recentemente (Foto: Renato Goldenberg)

Microlicia caparaoensis foi coletada pela primeira vez em 1988, mas só foi descrita recentemente (Foto: Renato Goldenberg)

Para o biólogo Renato Goldenberg, que está entre os autores dos dois estudos, as análises demonstram como as terras capixabas nem sempre tiveram a atenção que merecem. “Somente com os recentes esforços de coletas, especialmente pela equipe e colaboradores do herbário do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, gerido pelo INMA, essa riqueza está sendo mostrada”, comenta Goldenberg, em comunicado à imprensa.






No estudo publicado na revista Rodriguésia, são descritas as seguintes espécies: Microlicia caparaoensis, endêmica do Parque Nacional do Caparaó, na fronteira entre Minas Gerais e Espírito Santo;  Microlicia capixaba e Microlicia misteriosa, que se propagam em montanhas no Alto Misterioso, em São Roque do Canaã; e uma quarta espécie, chamada provisoriamente de Microlicia sp., pois ainda passará por confirmações com mais pesquisas.

Já no outro artigo, os especialistas descreveram Miconia quartzicola, observada no município de Vargem Alta, e Miconia spiritusanctensis, cuja coleta ocorreu no Parque Estadual do Forno Grande, em Castelo e arredores. As duas plantas endêmicas do Espírito Santo estão “criticamente em perigo” e “em perigo”, respectivamente, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN na sigla em inglês).

Miconia spiritusanctensis, coletada no Parque Estadual do Forno Grande, em Castelo (ES)  (Foto: Claudio Fraga)

Miconia spiritusanctensis, coletada no Parque Estadual do Forno Grande, em Castelo (ES) (Foto: Claudio Fraga)

A M. misteriosa também está criticamente ameaçada de extinção sob os critérios da IUCN. Não por acaso, M.quartzicola ocorre nos “morros de sal” de Vargem Alta, onde também existem outras espécies exclusivas dessas formações. “Essas áreas vêm sendo fortemente alteradas pela extração de quartzo (ou “saibro”, como é conhecido na região), usado em pavimentação ornamental”, alerta o pesquisador.

Além dos estudos serem importantes para proteger as espécies, eles podem preencher lacunas na literatura científica. Isso porque algumas dessas espécies foram coletadas muito antes de serem descritas. É o caso de M.spiritusanctensis, colhida em pela primeira vez em 1985, e M. caparaoensis, em 1988.

“Essas amostras já estavam em herbários desde então, mas não foram identificadas porque ninguém sabia dar nome para elas. Isso porque elas pertencem a grupos muito complexos, em que a distinção entre as espécies é difícil”, explica Goldenberg.

Miconia spiritusanctensis, coletada pela primeira vez em 1985 (Foto: Claudio Fraga)

Miconia spiritusanctensis, coletada pela primeira vez em 1985 (Foto: Claudio Fraga)

A família Melastomataceae tem 203 espécies registradas no Espírito Santo, das quais 53 são endêmicas — isto é, encontradas apenas no estado. Entre as 203, 48 foram estudadas somente no século 21.

A bióloga Ana Flávia Alves Versiane, pesquisadora que também participou das descobertas, ressalta o fato de que o trabalho expandiu para o Espírito Santo a distribuição de M.restingae, até então conhecida só nas restingas da Bahia. De acordo com Versiane, a observação de Microlicia sp. também indica que podem existir ainda mais espécies novas no território capixaba.

Miconia spiritusanctensis, espécie endêmica do Espírito Santo (Foto: RenatoGoldenberg)

Miconia spiritusanctensis, espécie endêmica do Espírito Santo (Foto: RenatoGoldenberg)