• Redação Galileu
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Ainda que pareça diversão, cientistas acreditam que as jubartes saltam da água para se comunicar com outras baleias (Foto: Hayes Baxley/NatGeo para Disney+)

As baleias-comuns (Balaenoptera physalus quoyi) do Hemisfério Sul foram quase extintas pela caça industrial do século XX (Foto: Hayes Baxley/NatGeo para Disney+)

​​“Eu nunca tinha visto tantas baleias em um lugar antes e fiquei absolutamente fascinada ao ver esses enormes grupos se alimentarem”, comentou a professora Bettina Meyer, bióloga e co-autora de um artigo recém publicado na Scientific Reports, que registra o retorno de grandes agregações de alimentação de baleias para áreas históricas no Oceano Antártico.O estudo é considerado a primeira documentação científica de grandes agregações de alimentação de baleias-comuns na Ilha Elefante, Antártica, incluindo a primeira documentação em vídeo.

Tudo começou em 2018, em uma expedição organizada por pesquisadores para investigar os efeitos das mudanças climáticas sobre o krill antártico. Base da cadeia alimentar antártica, esses minúsculos crustáceos bioluminescentes são a principal fonte de alimento para peixes, pinguins, focas e baleias e cresceram em até seis centímetros de comprimento. O grupo de cientistas contou com o apoio de equipes de câmeras da BBC e um helicóptero que ajudavam a identificar, contar e registrar a presença de baleias se alimentando. À época, após 22 voos, a equipe percorreu um total de 3.251 Km e contou 100 grupos de baleias-comuns, cada um composto com algo entre uma ou quatro baleias. Já os pesquisadores que ficaram de vigia no convés, avistaram um grupo de baleias muito maior do que a média: viram 50 baleias-comuns perto da Ilha Elefante, no Mar de Weddell, na Península Antártica. Mais tarde identificaram outras 70, no mesmo local.

“Corri direto para o nosso monitor, que usa métodos de medição acústica para mostrar a presença e o tamanho dos enxames de krill na água”, lembra a pesquisadora. “E com base nos dados, conseguimos identificar os enxames e até ver como as baleias os caçavam.”, explica.

O número, no entanto, era apenas um indicativo do que estava por vir. A recuperação dos estoques de baleias-comuns (Balaenoptera physalus quoyi) parece ser uma tendência: um ano após a expedição batizada de Polarstern, a equipe de pesquisa e a BBC retornaram à Ilha Elefante com um navio fretado e observaram até 150 animais. “Mesmo que ainda não saibamos o número total de baleias-comuns na Antártida, devido à falta de observações simultâneas, isso pode ser um bom sinal de que, quase 50 anos após a proibição da caça comercial, a população de baleias-comuns em a Antártida está se recuperando”, diz Bettina Meyer.

As baleias-comuns do Hemisfério Sul foram quase extintas pela caça industrial do século XX. Durante décadas, eles praticamente desapareceram de áreas de alimentação anteriormente muito frequentadas nas águas antárticas. Agora, com a recuperação de uma grande população de baleias, é possível vislumbrar o restauro de funções do ecossistema cruciais para a regulação do carbono atmosférico na região oceânica mais importante do mundo para a absorção de CO2 antropogênico.

As baleias não só comem o krill, mas se beneficiam dele. O excremento de baleia fertiliza o oceano, pois contém nutrientes relativamente escasso na Antártida, como o ferro, mas essenciais para o crescimento do fitoplâncton (microalgas) na água. Por sua vez, o fitoplâncton é uma fonte de alimento para o krill. “Quando a população de baleias cresce, os animais reciclam mais nutrientes, aumentando a produtividade do Oceano Antártico. Isso estimula o crescimento das algas, que por sua vez absorvem o dióxido de carbono da atmosfera por meio da fotossíntese, reduzindo a concentração atmosférica de CO2”, explica Bettina.