• Redação Galileu
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Nuvens e fluxos de gás cósmico se acumulam na Via Láctea, mas não se misturam no disco galáctico de modo homogêneo (Foto: Mark A. Garlick)

Nuvens e fluxos de gás cósmico se acumulam na Via Láctea, mas não se misturam no disco galáctico de modo homogêneo (Foto: Mark A. Garlick)

Os gases cósmicos que compõem a Via Láctea não se misturam de modo homogêneo como supunham cientistas até agora. A descoberta, realizada por astrônomos da Universidade de Genebra (UNIGE), na Suíça, pode mudar o que se sabe sobre a evolução da nossa e de outras galáxias.






A novidade está em um estudo publicado na revista científica Nature nesta quarta-feira (8). Até então, os modelos teóricos diziam equivocadamente que a mistura homogênea de gases da Via Láctea alcançava a metalidade solar, isto é, um nível de enriquecimento químico semelhante ao da atmosfera do Sol.

Esse mix gasoso que forma a nossa galáxia, na verdade, não se mistura de forma igual, pois é heterogêneo. Ele é formado por três elementos principais: o gás vindo de fora da Via Láctea; o gás entre as estrelas de dentro da Galáxia, composto de hidrogênio e hélio; e a poeira gerada pela condensação dos metais presentes nesse último gás.

O material de fora da Galáxia forma as estrelas, que queimam o hidrogênio que as constitui e geram outros elementos. Quando esses astros explodem, eles expelem os metais que produziram, como ferro, zinco, carbono e silício. Isso alimenta o gás intergaláctico, de modo que átomos se condensam como poeira, especialmente em áreas mais frias e densas da Via Láctea.

“Inicialmente, quando a Via Láctea foi formada, há mais de 10 bilhões de anos, ela não tinha metais. A partir daí, as estrelas enriqueceram gradativamente o meio ambiente com os metais que produziam”, explica Annalisa De Cia, professora do Departamento de Astronomia da Faculdade de Ciências da UNIGE e líder do estudo, em comunicado.

Imagem da nossa galáxia, a Via Láctea (Foto: Divulgação/NASA)

Imagem da nossa galáxia, a Via Láctea, que é composta por mistura não homogênea de gases (Foto: Divulgação/NASA)

Para entender melhor a metalicidade presente na Via Láctea, os cientistas observaram durante 25 horas a atmosfera de 25 estrelas com o Telescópio Hubble e o Very Large Telescope (VLT), no Chile.

Utilizando uma técnica inédita de observação, a equipe rastreou a quantidade de metais presente na poeira da Galáxia para comparar o resultado com dados anteriores. “Trata-se de levar em conta a composição total do gás e da poeira observando simultaneamente vários elementos como ferro, zinco, titânio, silício e oxigênio”, conta De Cia, descrevendo a nova técnica.





Com isso, os pesquisadores viram não só que a Via Láctea não é homogênea, como também que em algumas de suas regiões tem apenas 10% de metalicidade solar. O achado promete refinar modelos teóricos sobre a evolução das galáxias, abrindo portas para entender melhor a composição dos gases galácticos.