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Rochas lunares coletadas por missão chinesa têm 1,97 bilhão de anos
Pedras são consideradas "jovens" pelos cientistas e podem ajudar a desvendar mistérios sobre antigos lagos vulcânicos da Lua, que tem cerca de 4,5 bilhões de anos
2 min de leitura![Renderização topográfica mostra mostra Oceanus Procellarum, uma vasta planície vulcânica lunar cujas elevações mais baixas são indicadas pelas cores roxas (Foto: Jay Dickson) Renderização topográfica mostra mostra Oceanus Procellarum, uma vasta planície vulcânica lunar cujas elevações mais baixas são indicadas pelas cores roxas (Foto: Jay Dickson)](http://s2.glbimg.com/X1hdKlfgc8-LCdCIf0A0gcBUpY0=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2021/10/08/lua.jpg)
Renderização topográfica mostra mostra Oceanus Procellarum, uma vasta planície vulcânica lunar cujas elevações mais baixas são indicadas pelas cores roxas (Foto: Jay Dickson)
Em estudo publicado nesta quinta-feira (7) pela revista Science, uma equipe internacional de cientistas informou que as rochas lunares trazidas à Terra pela missão chinesa Chang'e-5 têm cerca de 1,97 milhões de anos. A estimativa da idade traz informações importantes sobre os antigos lagos de lava que existiam na superfície da Lua e formaram as manchas escuras em nosso satélite natural — chamadas de "mares lunares".
As amostras de basalto foram coletadas na planície Oceanus Procellarum, que agora se confirma como um dos depósitos vulcânicos mais recentes da Lua. “Isso nos ajuda a estimar o tempo que o vulcanismo lunar durou, o que é criticamente importante para todos nossos modelos de evolução térmica da Lua”, diz, em nota, Jim Head, coautor do estudo e professor na Universidade Brown, nos Estados Unidos.
Para o professor da Universidade de Washington Brad Joliff, que também assina a pesquisa, a descoberta preenche uma lacuna de tempo na existência da Lua, que tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Isso porque "todas as rochas vulcânicas coletadas por Apollo tinham mais de 3 bilhões de anos, e todas as crateras de impacto cujas idades foram determinadas a partir da análise de amostras são mais jovens que 1 bilhão de anos”, explicou ele em outro comunicado.
Diferentemente da Terra, que tem sua superfície modificada por processos erosivos ou pelo surgimento de montanhas, a Lua mantém suas crateras preservadas. "Os cientistas planetários sabem que quanto mais crateras existem em uma superfície, mais velha ela é; quanto menos crateras, mais jovem é a superfície”, afirma Jolliff. "Mas, para definir datas de idade absolutas, é preciso ter amostras."
Se a atividade vulcânica nessa região é mais recente, significa também que ela durou mais tempo em comparação a outros lagos que parecem ter secado muito antes dos de Oceanus Procellarum. E uma das possíveis explicações para isso está nas altas concentrações de elementos radioativos na região, em especial o tório. A junção de muito material radioativo gera calor, o que poderia contribuir para o derretimento do manto e um consequente fluxo vulcânico.
![Amostra de solo lunar já em Pequim, na China (Foto: Beijing SHRIMP Center, Institute of Geology, CAGS) Amostra de solo lunar já em Pequim, na China (Foto: Beijing SHRIMP Center, Institute of Geology, CAGS)](http://s2.glbimg.com/Ijvi4u68lDQfEgHG3Unr7BqqmwU=/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2021/10/08/amostra_lua.jpg)
Amostra de solo lunar já em Pequim, na China (Foto: Beijing SHRIMP Center, Institute of Geology, CAGS)
Mas a hipótese do vulcanismo duradouro ainda está coberta de dúvidas, porque a radioatividade não está tão presente nas amostras trazidas à Terra pela Chang'e-5. “Esperávamos observar uma elevada radioatividade nas amostras, mas não vimos”, conta Head. “Em vez disso, a composição era semelhante aos basaltos de "mares" de depósitos mais antigos”, esclarece ele, que mantém contatos constantes com pesquisadores e estudantes chineses.
Brad Joliff também ressaltou a importância de parcerias do tipo. Além de China e EUA, o estudo contou com cientistas da Austrália, Reino Unido e Suécia. "Esta é a ciência feita da maneira ideal: uma colaboração internacional, com livre compartilhamento de dados e conhecimento — e tudo feito da maneira mais colegiada possível. Isso é diplomacia da ciência", comemora Joliff.