• Redação Galileu
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Tarântula de pernas azuis da espécie Birupes simoroxigorum (Foto: CHIEN LEE)

Tarântula de pernas azuis da espécie Birupes simoroxigorum (Foto: CHIEN LEE)

Pesquisadores britânicos identificaram uma fêmea de uma nova  espécie de tarântula que tem as pernas azuis e o corpo marrom. Ela é nativa do estado de Sarawak, na Malásia, e é tão pequena que cabe na palma da mão. A descoberta, contudo, levantou uma polêmica sobre a pirataria de animais selvagens. 

A aranha foi descrita na edição de fevereiro do periódico The Journal of the British Tarantula Society pelos aracnólogos Ray Gabriel e Danniella Sherwood, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Eles a classificaram como uma nova espécie e um novo gênero. Ela foi chamada de Birupes simoroxigorum. O nome deriva de "biru", a palavra malaia para azul; e "simoroxigorum" incorpora os nomes Simon, Roxanne e Igor – filhos dos três colecionadores de aranhas que forneceram dois espécimes mortos para esta pesquisa. São eles: Krzysztof Juchniewicz, Emil Piorun, e Jakub Skowronek, que trabalham encontrando e vendendo tarântulas na internet. 

Sherwood afirmou que não sabia que os exemplares eram ilegais. "Fomos informados de que elas foram coletadas com toda a papelada legal apropriada e necessária", ela escreveu em um e-mail à Science Mag – que também solicitou os registros dessas autorizações, mas não recebeu o retorno. Ray Gabriel não respondeu aos pedidos de entrevista.

Juchniewicz admitiu que eles não tinham autorização, mas comentou não saber que precisava de uma. Ele também insistiu que não tirou as tarântulas da Malásia, dizendo que um "motorista" enviou as aranhas para a Europa. "Tenho todos os documentos necessários para importação legal", declarou. "Nós não fizemos nada de errado." Os outros dois envolvidos no caso não quiseram dar entrevistas. 

Foto da tarântula Birupes simoroxigorum tirada pelos três colecionadores europeus  (Foto: Reprodução/Facebook Borneo Tarantula Expedition)

Foto da tarântula Birupes simoroxigorum tirada pelos três colecionadores europeus (Foto: Reprodução/Facebook Borneo Tarantula Expedition)

Na natureza selvagem
Evidências apontam que o trio Juchniewicz, Piorun e Skowronek capturou os animais nas matas de Sarawak e os transportaram para a Europa. O Departamento Florestal de Sarawak declarou que eles não tinham permissão para coletar ou exportar os bichos selvagens. "Este caso reflete a prevalente biopirataria na Malásia", disse Chien Lee, naturalista e fotógrafo em Sarawak.

Ao lado do fotógrafo alemão Lars Fehlandt, Lee encontrou a mesma tarântula em setembro de 2017 – cerca de seis semanas antes dos colecionadores. Os dois postaram fotos do aracnídeo online. Segundo Lee, ele deixou a localização marcada na imagem divulgada, o que pode ter ajudado os colecionadores chegarem até as tarântulas.

Jornada ilegal
A Science Mag reconstruiu o caminho dos colecionadores para Sarawak, entre outubro e novembro de 2017, seguindo postagens no Facebook da Borneo Tarantula Expedition. Os três planejaram a viagem por meses até que no dia 14 de setembro de 2017 – quando Lee e Fehlandt postaram as fotos –, eles decidiram partir para a expedição. 

Após percorrer quilômetros na selva, o trio anuciou no Facebook que encontrou a aranha na noite de 2 de Novembro de 2017. Fotografias (agora apagadas) mostravam que cada um segurou o aracnídeo na mão. 

Foto da tarântula Birupes simoroxigorum tirada pelos três colecionadores europeus  (Foto: Reprodução/Facebook Borneo Tarantula Expedition)

Foto da tarântula Birupes simoroxigorum tirada pelos três colecionadores europeus (Foto: Reprodução/Facebook Borneo Tarantula Expedition)

Compra-se aranhas
Depois de retornarem à Europa, eles enviaram dois espécimes mortos para os pesquisadores Gabriel e Sherwood. Quando o estudo classificou a tarântula como um novo gênero e espécie, Juchniewicz postou a notícia na página do Facebook da sua loja, dizendo que seu sonho havia se tornado realidade. 

Piorun e Skowronek estão anunciando a venda das espécies em suas lojas online, pedindo mais de US$ 300 para uma juvenil, por exemplo.

Peter Kirk, presidente da Sociedade Britânica de Tarântulas, contou que viu tarântulas B. simoroxigorum rotuladas como criadas em cativeiro em uma exposição no Reino Unido há algumas semanas.

Contudo, Juchniewicz, que não está comercializando o animal, declarou que não há aranhas desta espécie criadas em cativeiro no mercado. De acordo com ele, os bichos coletados em Sarawak morreram antes de se reproduzir. Ele também afirmou que os B. simoroxigorum vendidos foram contrabandeados por outras pessoas. 

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Prenda-me se for capaz
"A coleta ilegal de tarântulas é um problema crescente em todo o mundo", informou Rick West, especialista em tarântulas de Sooke, no Canadá. Os colecionadores estão buscando por "aranhas mais bonitas, mais raras, mais desagradáveis ​​e maiores".  Ele declarou que os criminosos buscavam os animais no Brasil ou no México, mas começaram a mudar as caças para o sudeste da Ásia.

Engkamat Lading, da entidade Wildlife Sarawak, declarou que seus poderes para impedir o comércio ilegal de aracnídeos param na fronteira. A coleta sem proteção ou permissão de um espécime selvagem em Sarawak pode render um ano de prisão. Ele espera que os três colecionadores sejam banidos de voltar à Malásia.

Nos Estados Unidos e no Canadá, é crime violar as leis de outro país. Contudo, a União Europeia não possui uma legislação do tipo. "O mercado primário de tarântulas roubadas e negociadas ilegalmente é a UE", afirmaram Pedro Cardoso e Caroline Fukushima, biólogos da Universidade de Helsinque, na Finlândia, que estudam o comércio ilegal de tarântulas e escorpiões. Uma vez que os animais estão na Europa, eles temem que possam ser levados com facilidade para os EUA.  

Sherwood e Gabriel, no entanto, podem ter quebrado leis britânicas: nos países signatários do Protocolo de Nagoya, incluindo o Reino Unido, os pesquisadores devem garantir que seus animais estudados sejam legalizados – o que os dois supostamente não fizeram. 

Darren Mann, chefe do Museu de História Nacional na Universidade de Oxford, contou que os dois não são membros da equipe e que o museu não vai abrigar espécimes coletados ilegalmente.

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