Meio Ambiente
5 ações que os governos devem fazer imediatamente para enfrentar a emergência climática
Cientista afirma que apenas determinar objetivos programáticos não é o suficiente: é preciso entrar em ação para reverter as mudanças climáticas
5 min de leituraSe metas fossem suficientes para vencer a crise climática, teríamos motivos para comemorar. O Reino Unido, a Noruega, a Suécia e a França estabeleceram uma meta de emissões net-zero na lei, e 15 outros países estão considerando criar uma legislação semelhante ou têm metas não vinculativas. Centenas de cidades, regiões e empresas fizeram promessas semelhantes. [O termo "emissões net-zero" indica a neutralização dos gases causadores do efeito estufa emitidos pelo homem, que é realizada por medidas de redução.]
Há discussões se esses alvos são bons o suficiente. Uma leitura atenta dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas sugere que os países desenvolvidos precisam atingir emissões net-zero dentro de dez a 15 anos para dar alguma margem aos países em desenvolvimento.
Ainda assim, essa lógica mascara uma verdade mais fundamental: esses objetivos são, por definição, uma declaração de intenção — e mais nada. Por si só, eles não removem uma única molécula de dióxido de carbono da atmosfera.
Na verdade, há evidências que sugerem que essas medidas até podem ser contraproducentes. O Reino Unido foi o primeiro do mundo a introduzir metas vinculativas de carbono há uma década —, mas os governos desmontaram ou reduziram muitas políticas climáticas nos últimos anos. Assessores governamentais independentes, o Comitê de Mudanças Climáticas, alertaram várias vezes que o Reino Unido não está no caminho para cumprir compromissos futuros.
No entanto, sempre que os ministros do governo são questionados sobre a política climática, suas respostas são indignadas. "É claro que levamos a sério a luta contra as mudanças climáticas", dizem eles, "porque temos metas ambiciosas". Por essa lógica, qualquer política pode ser considerada — mesmo que mova as emissões na direção errada. Nas palavras dos pesquisadores independentes do Institute for Government, as metas podem ser "uma maneira de baixo custo para o governo dar a aparência de realizar ações vigorosas".
Se os governos levam a sério a luta contra a crise climática, são necessárias políticas radicais para atingir metas radicais. Aqui estão cinco medidas com impactos imediatos que os colocariam no caminho certo.
1. Uma tarefa para todos os departamentos
A responsabilidade pela ação climática não deve ser atribuída a um ministério individual. O Gabinete do Primeiro Ministro ou o Tesouro (e escritórios equivalentes em todo o mundo) devem ser encarregados de coordenar a ação climática em todas as áreas do governo, exigindo que cada ministério demonstre progresso.
O Ministério dos Transportes do Reino Unido, por exemplo, atualmente poderia assumir que os aumentos nas emissões de transporte serão compensados por reduções em outras partes da economia. Com a configuração proposta, seria necessário mostrar como suas políticas contribuíriam para os cortes de emissões.
2. Trazer o público à tona
O segundo é envolver as pessoas na transição para as emissões net-zero. Minha pesquisa mostrou que os políticos tentaram impor políticas climáticas furtivamente, evitando discussões abertas e assumindo que os especialistas sabem mais. Isso é profundamente antidemocrático e é muito provável que não funcione.
A ação climática deve ser vista como uma negociação constante entre cidadão e Estado — um contrato social. Pesquisas mostram que as pessoas estão dispostas a fazer mudanças em suas próprias vidas se virem isso como parte de um esforço nacional mais amplo para reduzir as emissões.
Um maior uso de formas políticas participativas, como as Assembleias de Cidadãos, poderia ajudar a desenvolver estratégias climáticas que envolvam a população ao invés de ignorá-la. Também precisamos trabalhar em estreita colaboração com as comunidades que, de outra forma, estariam perdendo com a ação climática, como mineradoras de carvão e petroleiros, para lhes proporcionar uma "transição justa" do carbono. Isso significa suporte abrangente, não apenas uma vaga promessa na área de "empregos verdes".
3. Políticas simbólicas
Os governos devem implementar o que a especialista em opinião pública Deborah Mattinson chama de "políticas simbólicas". São políticas com impactos tangíveis que também elevam o perfil político da ação climática. Elas estimulam os cidadãos e enviam às empresas uma mensagem clara sobre o clima de que se espera investimento [nessa causa] no futuro, catalisando mudanças radicais, e não incrementais.
O direito de gerar e vender energia renovável em casa ou na comunidade pode ser uma dessas políticas. A proibição de anunciar carros a gasolina e diesel, que muitos países estão eliminando de qualquer maneira, seria outra. A garantia de "empregos verdes", como proposto pelo Green New Deal, dos EUA, também chamaria a atenção. Finalmente, com mensagens cuidadosas, as permissões pessoais e comerciais de carbono podem ser altamente eficazes na redução de emissões — e surpreendentemente populares.
4. "Mantenha-o no chão"
Uma estratégia para a emergência climática é assumir compromissos explícitos e tangíveis sobre a transição dos combustíveis fósseis. É claro que o compromisso global de limitar o aquecimento a 1,5 ℃ exige que deixemos intocadas as reservas de combustíveis fósseis mais conhecidas. O slogan ativista “mantenha-o no chão” é uma representação precisa das melhores evidências científicas.
Até agora, a maioria das estratégias climáticas ficou em silêncio nesse ponto. O Reino Unido e a Noruega se congratulam com metas zero-net, mas ambos planejam continuar a extração de petróleo e gás. Os governos devem impor uma moratória à exploração de combustíveis fósseis, acabar com os £ 300 bilhões em incentivos fiscais que concedem anualmente às indústrias de combustíveis fósseis, e usar o dinheiro de reposição para ajudar trabalhadores e indústrias na transição para uma revolução de energia limpa.
5. Separe a captura de carbono
Por fim, qualquer estratégia nacional deve separar a contribuição das tecnologias de emissões negativas de suas metas de net-zero. A teoria é que as emissões de carbono que não puderem ser evitadas serão contrabalançadas por essas tecnologias.
Mas, como mostram pesquisas minhas e de meus colegas da Universidade de Lancaster, contar com essas tecnologias — cuja viabilidade ainda não é conhecida — funciona como distração dos recursos [realmente efetivos] de redução da quantidade de carbono que emitimos. A criação de metas e financiamento distintos para a captura de carbono fundamentará o setor no que ele pode realisticamente esperar remover da atmosfera, e interromperá as promessas mais selvagens e infundadas, que limitam a ambição por ação climática.
Eu nunca argumentaria contra o estabelecimento de metas climáticas. Elas são necessárias —, mas estão longe de ser suficientes. Devemos nos proteger contra os políticos que se escondem atrás de promessas distantes e possivelmente vazias, e exigir políticas climáticas que impactem o tópido do carbono aqui e agora.
*Pesquisadora da Universidade de Exeter University e profeddora da Universidade de Lancaster. Este artigo foi escrito em inglês e originalmente publicado no site The Conversation.
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