• Redação Galileu
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Mais de 100 autores de 36 países avaliaram cerca de 7 mil publicações científicas para criarem o relatório (Foto: Pexels)

Mais de 100 autores de 36 países avaliaram cerca de 7 mil publicações científicas para o relatório do IPCC (Foto: Pexels)

Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira (25) traz dados preocupantes sobre como as mudanças climáticas vão afetar oceanos e a criosfera, área terrestre coberta por gelo.

Mais de 100 autores de 36 países avaliaram cerca de 7 mil publicações científicas para criar o relatório. Divulgado dois dias após o fim da Cúpula Climática da ONU, que aconteceu em Nova York entre os dias 21 e 23 de setembro, e os protestos globais pelo clima, os organizadores do documento querem reforçar a necessidade de atitudes mais radicais dos governos em torno das emissões de carbono.

"Se reduzirmos as emissões bruscamente, as consequências para as pessoas e seus meios de subsistência ainda serão desafiadoras, mas, potencialmente, mais gerenciáveis ​​para os mais vulneráveis", disse Hoesung Lee, membro do IPCC, em comunicado. "Aumentaremos nossa capacidade de criar resiliência e, assim, haveá mais benefícios para o desenvolvimento sustentável."

O nível do mar
Uma das informações que mais chama atenção diz respeito ao aumento do nível do mar, que subiu 15 centímetros no século 20 – o que tem acontecido cada vez mais rápido nos últimos anos. 

De acordo com o relatório, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas e o aquecimento global seja limitado a, no máximo, 2 °C, o nível das águas aumentará entre 30 e 60 centímetros até 2100. Se nada for feito para conter o aquecimento global, esse crescimento pode chegar a 110 centímetros.

A elevação do nível do mar impactará diretamente fenômenos naturais que têm relação com os oceanos, como marés altas, tempestades e ciclones tropicais. Um exemplo disso é o furacão Dorian, que atingiu as Bahamas e os Estados Unidos no início de setembro e, segundo os especialistas, foi particularmente forte por conta das mudanças climáticas. 

Para especialistas, reduzir as emissões de gases prejudiciais à atmosfera é essencial (Foto: Pexels)

Para especialistas, reduzir as emissões de gases prejudiciais à atmosfera é essencial (Foto: Pexels)

Cada vez mais, esses eventos colocarão em risco pessoas ao redor do planeta, principalmente quem vive em cidades costeiras e pequenas ilhas. Michael Meredith, da British Antarctic Survey, disse à NewScientist que mesmo os países desenvolvidos sofrerão com o aumento do nível das águas e terão de reforçar a defesa costeira.

Os ecossistemas
O relatório do IPCC também aponta que os oceanos absorveram mais de 90% do excesso de calor causado pelas mudanças climáticas. Isso significa que, mesmo que as emissões de carbono diminuam, até 2100 os mares absorverão de duas a quatro vezes mais calor do que entre 1970 e a atualidade. Entretanto, se o aquecimento global ultrapassar os 2 °C, essa quantidade pode ser até sete vezes maior.

O aumento da absroção de carbono pelas águas afeta diretamente a fauna e a flora dos biomas aquáticos, pois altera não apenas sua temperatura, mas também a acidificação da água e os níveis de oxigênio e nutrientes essenciais para a manutenção de um ecossistema equilibrado.

Isso também é prejudicial para os seres humanos, já que a dieta de diversas populações é baseada na pesca. "O corte das emissões de gases de efeito estufa limitará os impactos nos ecossistemas oceânicos, que nos fornecem alimentos, apoiam nossa saúde e moldam nossas culturas", explicou Hans-Otto Pörtner, que fez parte da pesquisa. 

O permafrost
O solo de permafrost, no Ártico, também está sofrendo com o aumento da temperatura da Terra. Congelado por muitos anos, essa camada de gelo está derretendo em um ritmo preocupante — até o fim do século 21, estima-se que ele deixará de existir.

Imagem aérea do permafrost no Ártico canadense (Foto: Wikimedia Commons)

Imagem aérea do permafrost no Ártico canadense (Foto: Wikimedia Commons)

Os pesquisadores estimam que, mesmo que o aquecimento global seja limitado a menos de 2 °C, cerca de 25% do permafrost próximo à superfície (3 a 4 metros de profundidade) derreterá até 2100. Entretanto, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem aumentando, até 70% dessa camada de gelo poderá ser perdida durante o período.

Como explicaram os membros do IPCC, o permafrost ártico e boreal é importante porque retém grandes quantidades de carbono orgânico. Logo, seu derretimento pode resultar em um aumento significativo de gases poluidores lançados na atmosfera.

É preciso agir agora
A conclusão dos especialistas após a publicação do novo documento não foi surpresa para ninguém: é preciso agir agora. “Só conseguiremos manter o aquecimento global bem abaixo de 2 °C (...) se efetuarmos transições sem precedentes em todos os aspectos da sociedade", apontou Debra Roberts, uma das especialistas.

"Quanto mais decisiva e rapidamente agirmos, mais capazes seremos de enfrentar mudanças inevitáveis, gerenciar riscos, melhorar nossas vidas e alcançar sustentabilidade para ecossistemas e pessoas ao redor do mundo — hoje e no futuro", disse Roberts.

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