• Redação Galileu
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Dados estimam que, se limitado a 1,5ºC, o aquecimento global ainda faria com que cerca de 350 milhões a mais de pessoas que vivem em áreas urbanas fossem, até 2050, expostas à escassez de água causada pela seca – a 2ºC, esse número subiria para 410 milhões (Foto: Patrick Beznoska/Unsplash)

Dados estimam que, se limitado a 1,5ºC, o aquecimento global ainda faria com que cerca de 350 milhões a mais de pessoas que vivem em áreas urbanas fossem, até 2050, expostas à escassez de água causada pela seca – a 2ºC, esse número subiria para 410 milhões (Foto: Patrick Beznoska/Unsplash)

Limitar o aquecimento global a 2 ºC – se possível, 1,5 ºC – em relação aos níveis pré-industriais, como determina o Acordo de Paris, pode não ser suficiente para conter “consequências progressivamente sérias, de séculos e, em alguns casos, irreversíveis” no planeta. É o que revelam dados preliminares de um relatório elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), obtidos com exclusividade pela agência de notícias AFP.

O documento de 4 mil páginas, segundo a agência de notícias divulgou nesta quarta-feira (23), sugere que impactos climáticos como a extinção de espécies, episódios de secas severas e a elevação do nível do mar serão sentidos com mais força pela humanidade ainda nas próximas três décadas. O prazo é muito anterior ao previsto por modelos climáticos que indicam o final do século como o momento em que essas mudanças seriam mais percebidas. O relatório deve ser lançado pelo IPCC em fevereiro de 2022.

Os dados estimam que, se limitado a 1,5 ºC, o aquecimento global ainda faria com que cerca de 350 milhões a mais de pessoas que vivem em áreas urbanas fossem, até 2050, expostas à escassez de água causada pela seca – a 2 ºC, esse número subiria para 410 milhões. Outras 420 milhões de pessoas estariam expostas a “ondas de calor extremas e potencialmente letais”. Enchentes e tempestades em cidades costeiras também ocorreriam com maior frequência.

Entre as “mudanças potencialmente irreversíveis” apontadas pelos cientistas no relatório, a AFP cita a transformação da bacia amazônica em floresta de savana, e a liberação de bilhões de toneladas de carbono com o derretimento acelerado do permafrost da Sibéria. Eventos em cascata e simultâneos, como ciclones, incêndios florestais e inundações, também estariam previstos para acontecer em regiões como o sudeste da Ásia, Mediterrâneo, China central e leste do Brasil. Mesmo um aquecimento limitado a 1,5º C poderia colocar em risco a capacidade de sobrevivência de muitos organismos – a exemplo dos recifes de corais, que dão abrigo a centenas de comunidades marinhas, incluindo espécies de interesse econômico, como peixes e lagostas

A distribuição desses impactos recairia com mais força sobre os países que menos contribuem para o aquecimento global, reforçando a desigualdade mundial. “Prevê-se que os custos de adaptação para a África aumentem dezenas de bilhões de dólares por ano com o aquecimento superior a dois graus”, diz um trecho do relatório reproduzido pela reportagem da AFP. No mundo, os cientistas do IPCC estimam que “dezenas de milhões de pessoas” a mais provavelmente enfrentariam a fome crônica até 2050.

A agência de notícias também ressalta seis ações humanas apontadas pelos pesquisadores que, somadas ao aquecimento global, teriam contribuído para o desequilíbrio da Terra: perdas de habitat, superexploração, extração de água, poluição, inserção de espécies não nativas e invasoras, além da dispersão de pragas e doenças.

E agora?

Entre as recomendações feitas pelo IPCC no documento estão a conservação e restauração das "florestas" de algas e manguezais (os chamados “ecossistemas de carbono azul”), que aumentam os estoques de carbono na Terra, protegem áreas costeiras e abrigam animais selvagens. De acordo com a reportagem, os pesquisadores sugerem a adoção de dietas baseadas em vegetais, que poderiam reduzir as emissões relacionadas aos alimentos em até 70% em 30 anos.

Para que alcancem os efeitos estimados, no entanto, essas mudanças teriam de sair do nível individual e alcançar comunidades, instituições e governos. “As escolhas que as sociedades fizerem agora determinarão se nossa espécie prosperará ou simplesmente sobreviverá no decorrer do século 21”, alerta o relatório, segundo a AFP.