• Redação Galileu
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Governo Bolsonaro e apoiadores rejeitam dados de satélite que revelam índices de desmatamento na Amazônia  (Foto: Ibama)

Governo Bolsonaro e apoiadores rejeitam dados de satélite sobre índices de desmatamento na Amazônia (Foto: Ibama)

Em um novo estudo, pesquisadores alertam que dados de satélite sobre o desmatamento na Amazônia estão sendo amplamente refutados pelo governo Jair Bolsonaro e seus apoiadores. O assunto é discutido em um artigo científico publicado em 9 de março na revista Earth System Governance.





Segundo a pesquisa, há um esforço realizado por militares, negacionistas do clima, indústrias extrativas e ativistas de extrema direita para que se desacredite de informações científicas já consolidadas sobre o desmatamento. Desse modo, esses grupos difundem uma “versão alternativa dos fatos” — totalmente falsa — do bioma amazônico.

"Nosso estudo mostra que grupos de extrema-direita estão realizando um esforço amplo e sofisticado para produzir e difundir uma ‘verdade’ diferente sobre a Amazônia”, diz Cecilia Oliveira, principal autora da pesquisa, em comunicado. “Ou seja, [a verdade de] que o desmatamento é um preço aceitável a pagar pelo desenvolvimento econômico”.

Enquanto isso, estruturas de pesquisa desenvolvidas há décadas para rastrear a perda de floresta tropical estão sendo desmanteladas. Os pesquisadores citam vários episódios nos dois primeiros anos do atual governo, nos quais Bolsonaro e sua equipe ministerial realizaram o que os autores chamam de “campanha de desmoralização” contra o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Desmatamento ilegal em Roraima registrado em 2018 pelo Ibama  (Foto: Felipe Werneck/Ibama  )

Desmatamento ilegal em Roraima registrado em 2018 pelo Ibama (Foto: Felipe Werneck/Ibama )

Além do presidente acusar, sem comprovação, o instituto de alterar a “verdade” sobre o desmatamento, foram feitos sérios cortes de orçamento contra o Inpe em 2021. De acordo com a pesquisa, a verba para monitorar a derrubada da mata foi reduzida em 17,5% em relação ao gasto total em 2020, que foi de R$ 2,6 milhões — o menor valor para esse tipo de programa em uma década.

Para entender como o monitoramento na Amazônia é visto por Bolsonaro e apoiadores, Oliveira e o pesquisador Leandro Siqueira, da Universidade Metropolitana de Santos, analisaram o uso de dados de satélite desde a posse presidencial, em 2019.

De lá para cá, o governante enfrentou críticas internacionais e uma crescente pressão política devido ao aumento da devastação. Em fevereiro, um outro estudo, realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), estimou que o desmatamento cresceu 56,6% apenas durante os três anos da sua gestão.

A nova pesquisa mostra que governos anteriores tinham outra postura em relação aos dados de satélite, mantendo um “regime de transparência” que permitiu melhorar a proteção ambiental. Um exemplo foi o governo Lula, que apresentou, em 2004, o segundo maior desmatamento, com mais de 27,7 mil quilômetros de floresta destruídos, porém, atenuou o problema ao introduzir o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAM).






“Com a política ambiental amazônica do governo Lula, o Brasil conseguiu manter uma redução significativa e prolongada do desmatamento na Amazônia Legal, uma redução de 80% em relação às estimativas para 2004 (27,77 mil km) e 2012 (4,57 mil km)”, contam os pesquisadores.

Sem transparência de dados, os especialistas avaliam que apoiadores do atual governo utilizam o excesso de informações sobre o tema sem interpretá-los de forma correta, como uma forma de "contra-ativismo", refutando a validade científica das imagens e dados de satélite. “O objetivo dessa prática parece ser confundir o público sobre a extensão do desmatamento”, alerta Oliveira.