Vacina É Saúde

Por Marília Marasciulo


Panorama: a situação epidemiológica de 16 doenças contempladas no PNI (Foto: Daniel Almeida) — Foto: Galileu
Panorama: a situação epidemiológica de 16 doenças contempladas no PNI (Foto: Daniel Almeida) — Foto: Galileu

Entre janeiro e fevereiro de 2022, mais de 17 mil casos de sarampo foram relatados no mundo, um aumento de 79% em relação ao ano anterior. Embora seja a enfermidade com a situação mais crítica, essa não é a única doença imunoprevenível que vem preocupando especialistas.

O sinal de alerta foi aceso para, entre outras, meningite, febre amarela e mesmo poliomielite — depois de 30 anos sem casos, no início deste ano, Israel identificou um paciente com pólio, que foi considerada erradicada das Américas em 1994.

No dia 27 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) oficializaram a preocupação: estamos diante de sinais alarmantes de que doenças evitáveis pela vacinação podem voltar com tudo.

No Brasil, o Plano Nacional de Imunizações (PNI) é referência desde que foi criado, em 1973. Hoje, ele oferece gratuitamente 20 vacinas para diferentes enfermidades. Mas nos últimos anos o país do Zé Gotinha tem visto cair o número de adultos e crianças se vacinando.

A seguir, confira algumas das principais doenças contempladas no PNI e a situação epidemiológica de cada uma delas no Brasil.

1. TUBERCULOSE

Causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, conhecida como bacilo de Koch, afeta principalmente os pulmões e é transmitida por aerossóis.

Prevalência: foram registrados 66.271 casos novos em 2020, ou 32 por 100 mil habitantes.

Vacinação: a vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin) é aplicada no SUS em recém-nascidos ou até os 5 anos de idade em dose única. Não é recomendada a vacinação para adultos que não tenham tomado na infância.

↓ Taxa de cobertura vacinal em queda. Até 2018, estava acima de 95%; em 2021, ficou em 68,63%.

2. HEPATITE B

Ataca as células do fígado e é transmitida pelo vírus VHB, presente no sangue, na saliva, no sêmen e em secreções vaginais. Também pode ser repassada por via perinatal, durante ou após o parto.

Prevalência: estimam-se 27.355 casos entre 1999 e 2020, ano em que apresentou uma taxa de 2,9 casos a cada 100 mil habitantes.

Vacinação: crianças recebem quatro doses: ao nascer, aos 2, 4 e 6 meses de vida. Adultos não vacinados devem tomar três doses.

↓ A cobertura vacinal vem caindo desde 2018, quando estava em 88,4% para crianças de até 30 dias. O ano de 2021 terminou em 61,57%.

3. ROTAVÍRUS

Doença diarreica aguda causada pelo rotavírus, um vírus de RNA. Pessoas de todas as idades são suscetíveis, mas crianças menores de 5 anos são as que mais manifestam a gastroenterite típica do quadro.

A transmissão é via fecal-oral: eliminado nas fezes, o vírus contamina água ou alimentos consumidos.

Prevalência: entre 2010 e 2019, 2.103 casos foram confirmados em crianças menores de 5 anos.

Vacinação: deve ser administrada em duas doses, preferencialmente aos 2 e 4 meses de vida, por via oral.

↓ A taxa de cobertura vacinal chegou a 91,33% em 2018 e caiu para 70,08% em 2021.

4. MENINGITE (HAEMOPHILUS INFLUENZAE B)

Inflamação nas meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Pode ser causada por vírus, fungos, protozoários, vermes e bactérias — o tipo mais grave.

Uma das bactérias que causam a doença é a Haemophilus influenzae b (Hib), transmitida via secreções nasais e que se instala no aparelho respiratório. Afeta principalmente crianças de até 5 anos.

Prevalência: a meningite por Hib é o tipo menos comum: no Brasil, foram 1.708 casos registrados entre 2007 e 2020.

Vacinação: a pentavalente precisa ser aplicada em três doses aos 2, 4 e 6 meses de idade. Crianças com mais de 5 anos geralmente não precisam ser vacinadas contra a Hib.

↓ Cobertura vacinal em queda: de 88,49% em 2018 para 69,88% em 2021.

5. DOENÇAS PNEUMOCÓCICAS

Grupo de infecções causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, ou pneumococo. Inclui doenças como pneumonia, meningite, sepse, artrite, sinusite, otite, conjuntivite e bronquite.

A bactéria é disseminada por gotículas de saliva ou muco quando pessoas infectadas tossem ou espirram. Atingem todas as idades.

Prevalência: estima-se que ocorram, em média, 272 mil internações e 71 mil mortes por ano de pessoas com mais de 60 anos por doenças pneumocócicas.

Vacinação: a vacina 10-valente, que combate dez tipos de bactérias pneumocócicas, é aplicada em duas doses, aos 2 e 4 meses de idade, mais um reforço aos 12 meses.

Idosos com comorbidades contam com duas doses, uma da 13-valente e outra da 23-valente. Quem não apresenta doenças crônicas pode tomar a vacina em clínicas privadas.

↓ A taxa de vacinação vem caindo desde 2018: passou de 95,25% para 73,05% no ano passado.

6. DOENÇA MENINGOCÓCICA

Tipo de meningite bacteriana causada pelo meningococo (Neisseria meningitidis). É uma doença grave, que em alguns casos pode levar à morte entre 24 e 48 horas a partir dos primeiros sintomas.

Prevalência: segundo o Ministério da Saúde, dos 265.644 casos confirmados de meningite entre 2007 e 2020, 26.436 foram de doença meningocócica. Com a introdução da vacina meningocócica C a partir de 2010, a incidência caiu de 1,5 caso para 0,4 caso a cada 100 mil habitantes de 2017 a 2020.

Vacinação: a vacina meningocócica C (conjugada) protege contra o tipo mais comum de meningococo no Brasil. É aplicada em duas doses, aos 3 e 5 meses de vida, com um reforço aos 12 meses.

↓ Cobertura vacinal em queda desde 2018: foi de 88,49% para 70,49% em 2021.

7. FEBRE AMARELA

Doença viral infecciosa transmitida por mosquitos vetores, sendo o mais comum o Aedes aegypti. Entre 20% e 50% dos que desenvolvem febre amarela grave podem morrer.

Prevalência: embora tenha sido registrado um processo de reemergência do vírus a partir de 2014, ampliando as áreas de recomendação de vacinação, a febre amarela ainda tem baixa incidência. Entre junho de 2020 e abril de 2021, foram notificados 287 casos suspeitos, dos quais 235 foram descartados e cinco confirmados.

Vacinação: a vacina é feita com o vírus atenuado, aplicada em uma dose. Toda pessoa que reside em áreas de risco deve se imunizar a partir dos 9 meses de idade. É recomendado o reforço aos 12 meses. Adultos que vão viajar para regiões endêmicas também precisam se imunizar.

Por ter aplicação restrita, a cobertura vacinal no ano passado foi de 57,33%, com uma média de 50,93% entre 2010 e 2021.

Ilustração de uma pessoa recebendo a vacina (Foto: Daniel Almeida) — Foto: Galileu
Ilustração de uma pessoa recebendo a vacina (Foto: Daniel Almeida) — Foto: Galileu

8. POLIOMIELITE

Também conhecida como paralisia infantil, embora possa afetar adultos, é uma doença contagiosa causada pelo poliovírus que atinge o sistema nervoso. A transmissão é pelo contato com fezes ou secreções bucais de pessoas infectadas. Pode ou não provocar paralisia.

Prevalência: atualmente, a doença é considerada erradicada no Brasil e nas Américas. Permanece endêmica no Afeganistão e no Paquistão.

Vacinação: a Vacina Oral Poliomielite (VOP), ou “vacina da gotinha”, deve ser aplicada em quatro doses, aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade. Injeções de reforço devem ser aplicadas anualmente até a criança completar 5 anos.

Pessoas em viagem para os países onde a pólio ainda não foi erradicada devem considerar reforçar a vacinação.

↓ Taxa de cobertura vacinal em queda: de 89,54% em 2018 para 69,41% em 2021.

9. HEPATITE A

Infecção que ataca o fígado causada pelo vírus VHA. É transmitida via oral-fecal, quando se tem contato com pessoas, água ou alimentos contaminados, principalmente em locais com saneamento básico deficiente.

Prevalência: é o segundo tipo mais comum de hepatite, representando 24,4% (168.579) dos casos confirmados no Brasil entre 1999 e 2020. No último levantamento da série, alcançou uma prevalência de 0,2 caso a cada 100 mil habitantes.

Vacinação: a vacina é um antígeno do vírus inativado. Deve ser administrada em duas doses a partir dos 12 meses ou até os 5 anos. Adultos que não foram vacinados durante a infância só têm acesso à imunização na rede privada, e devem tomar duas doses com seis meses de intervalo.

↓ Segundo o SUS, a cobertura vacinal em 2021 foi de 66,48%. O ápice da série histórica foi em 2015, com 97,07% da população-alvo imunizada.

10. SARAMPO

Doença viral grave sobretudo para crianças menores de 5 anos. Pode deixar sequelas e até levar à morte. A transmissão ocorre por secreções expelidas por tosse, fala, espirros, respiração ou aerossóis em ambientes fechados.

Prevalência: em 2016, o Brasil recebeu a certificação da eliminação do vírus. Até que voltou a ter novos surtos, chegando a 20.901 casos em 2019. Nas 12 primeiras semanas de 2022, 13 episódios foram confirmados e 98 permanecem sob investigação.

Vacinação: única forma de prevenção, a primeira dose é com a vacina tríplice (que, além de sarampo, imuniza contra caxumba e rubéola), aos 12 meses. A segunda é com a tetraviral (que também previne a catapora), aos 15 meses.

Adultos que não tomaram na infância, não completaram o esquema ou têm dúvidas quanto ao seu status vacinal também devem receber o imunizante.

↓ Em 2021, a cobertura vacinal com a primeira dose da tríplice ficou em 73,05%, e a segunda dose, com a tetraviral, em 5,71%.

11. CAXUMBA

Infecção causada por um vírus da família Paramyxovirus. Provoca inflamações em glândulas, principalmente nas parótidas, localizadas próximas às bochechas. Daí o aspecto de inchaço que faz a doença também ser conhecida como “papeira”.

A transmissão ocorre por vias aéreas, gotículas de saliva ou contato direto com infectados.

Prevalência: o Ministério da Saúde não tem dados consolidados sobre a doença, já que sua notificação não é compulsória.

Vacinação: a vacinação contra a caxumba segue o mesmo esquema para o sarampo: primeira dose com a tríplice aos 12 meses e a segunda dose com a tetravalente aos 15 meses.

É recomendada a adultos que não tomaram e tampouco foram infectados na infância ou adolescência, com exceção de gestantes e imunodeprimidos graves.

12. RUBÉOLA

É transmitida pelo Rubivirus, e seu maior risco é a Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), que atinge fetos ou recém-nascidos cujas mães se infectaram durante a gravidez.

Prevalência: o Brasil não apresenta casos confirmados de rubéola desde 2015, ano em que recebeu o certificado de eliminação da doença.

Vacinação: o esquema é o mesmo que para sarampo e caxumba.

13. TÉTANO

Infecção grave, não contagiosa, causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium tetani.

Prevalência: entre 2012 e 2021, foram registrados 2.381 casos de tétano no Brasil. No ano passado, foram 0,07 caso para 100 mil habitantes.

Vacinação: o esquema vacinal contra o tétano é o mesmo da difteria: três doses da pentavalente aos 2, aos 4 e aos 6 meses de vida; dois reforços com a DTP aos 15 meses e 4 anos de idade. Adultos devem tomar um reforço da dT a cada 10 anos.

14. DIFTERIA

Doença respiratória causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae. É transmitida por contato direto com pessoas doentes ou portadores assintomáticos através de gotículas expelidas ou por contato com as lesões cutâneas provocadas pela infecção.

Prevalência: segundo o SUS, em 2020 ocorreram dois casos confirmados de difteria no Brasil. Entre 2008 e 2019, dez pessoas morreram pela doença.

Vacinação: para combater a difteria, as crianças devem tomar as três doses da vacina pentavalente: aos 2, aos 4 e aos 6 meses de vida; e ainda dois reforços com a vacina DTP (difteria, tétano e coqueluche): aos 15 meses e 4 anos de idade. Já os adultos devem tomar um reforço da dT (difteria e tétano) a cada 10 anos.

↓ Nos anos de 2019, 2020 e 2021, a cobertura da penta foi de 70,76%, 77,13 e 64,38%, respectivamente.

15. VARICELA

Mais conhecida como catapora, é causada pelo vírus Varicela-Zoster. O contágio ocorre por meio do contato com o líquido das bolhas na pele, além de tosse, espirro, saliva ou objetos contaminados.

Prevalência: não há dados precisos, uma vez que somente casos graves de internação ou mortes são registrados de forma compulsória. A estimativa do Ministério da Saúde é de cerca de 3 milhões de casos por ano.

Vacinação: em 2013 o Ministério da Saúde introduziu a imunização contra a varicela na vacina tetraviral, que também protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Deve ser administrada para crianças entre 15 meses e 2 anos como segunda dose da tríplice viral.

Já a vacina específica para varicela não é aplicada de forma universal pelo SUS.

↓ A cobertura da tetraviral caiu de 79,04%, em 2015, para 5,71%, em 2021.

16. HPV

O papilomavirus humano (HPV) infecta pele ou mucosa oral, genital e anal, em mulheres e homens. A transmissão ocorre principalmente por via sexual, mas também de mãe para filho na gravidez, por saliva ou objetos contaminados.

Prevalência: o último estudo completo sobre a prevalência do HPV foi divulgado em 2018 pelo Ministério da Saúde. A pesquisa apontou que 53,6% da população entre 16 e 25 anos é portadora do vírus.

Vacinação: a vacina contra o HPV é oferecida pelo SUS em duas doses com intervalo de seis meses para meninas de 9 a 14 anos e meninos entre 11 e 14 anos. Também é recomendada para pessoas com HIV e transplantados na faixa de 9 a 26 anos.

↓ Em 2020 apenas 55% das meninas de 9 a 14 anos tomaram as duas doses da vacina. Já a cobertura vacinal para meninos foi de apenas 36,4%.

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