• Redação Galileu
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O novo coronavírus SArs-Cov-2 causador da Covid-19 (Foto: Visual Science)

Resposta imune "descoordenada" pode explicar quadros graves de Covid-19 (Foto: Visual Science)

Pesquisadores do Instituto La Jolla de Imunologia, nos Estados Unidos, confirmaram que uma resposta imune específica ao novo coronavírus em várias etapas é importante para controlar a infecção durante sua fase aguda e reduzir a gravidade da doença. O artigo, publicado nesta quarta-feira (16) no Cell, sugere que uma resposta imunológica fraca ou descoordenada, por outro lado, está relacionada a casos graves de Covid-19.

Quando um vírus se infiltra no corpo, o sistema imunológico inato é o primeiro a entrar em cena e lançar um ataque amplo e inespecífico contra o intruso. Ele libera ondas de moléculas de sinalização que incitam a inflamação e alertam as "forças de precisão" do corpo para a presença de um patógeno.

Em poucos dias, o chamado sistema imunológico adaptativo atinge o microrganismo com extrema precisão, interceptando partículas virais e matando células infectadas. Essa parte da resposta imune conta com os anticorpos; as células T auxiliares, que auxiliam a célula B a produzir anticorpos protetores; e as células T killer, que procuram células infectadas pelos vírus e as eliminam.

Para o estudo, os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 50 pacientes com Covid-19 e analisaram esses três ramos do sistema imunológico adaptativo. "Foi particularmente importante para nós capturar toda a gama de manifestações da doença, de leve a grave, para que pudéssemos identificar fatores imunológicos diferenciadores", disse Sydney Ramirez, coautora do estudo, em comunicado.

Segundo os pesquisadores, todos os indivíduos totalmente recuperados tinham respostas mensuráveis de anticorpos e células T auxiliares e killer, enquanto a resposta imune adaptativa em pacientes com quadros graves variou mais amplamente, sem parte das partículas necessárias.

"Quando analisamos uma combinação de todos os nossos dados em todos os 111 parâmetros medidos, descobrimos que, em geral, as pessoas com uma resposta adaptativa mais ampla e bem coordenada tendem a se sair melhor", disse Carolyn Moderbacher, coautora da pesquisa. "Uma resposta forte de células T específicas para o Sars-CoV-2, em particular, foi preditiva de doença mais branda. Enquanto isso, indivíduos cuja resposta imunológica foi menos coordenada tiveram resultados piores."

O efeito foi ampliado quando os pesquisadores dividiram o conjunto de dados por idade. Como explicam, pessoas com mais de 65 anos se mostraram mais propensas a ter uma resposta imunológica mal coordenada e deficiente em células T. Os cientistas acreditam que isso tenha a ver com uma presença menor de células T virgens nos idosos.

As células T virgens são partículas "inexperientes" que ainda não encontraram sua correspondência viral e estão esperando para serem acionadas. À medida que envelhecemos, nosso suprimento dessas partículas ​​diminui e menos delas estão disponíveis para serem ativadas para responder a um novo patógeno. "Isso pode levar a uma resposta imune adaptativa retardada que é incapaz de controlar um vírus até que seja tarde demais para limitar a gravidade da doença, ou a magnitude da resposta é insuficiente", explicou Moderbacher.

A variação da resposta imunológica de acordo com a idade (Foto: Crotty Lab/Cell Press)

A variação da resposta imunológica de acordo com a idade (Foto: Crotty Lab/Cell Press)

Já os anticorpos parecem não desempenhar um papel importante no controle da Covid-19 aguda. Em vez disso, as células T e as células T auxiliares em particular estão associadas a respostas imunes protetoras. "Isso foi desconcertante para muitas pessoas", afirmou Shane Crotty, outro pesquisador. "Controlar uma infecção primária não é o mesmo que a imunidade induzida por uma vacina, em que o sistema imunológico adaptativo está pronto para atacar no momento zero."

Se a vacinação for bem-sucedida, os anticorpos induzidos pelo imunizante estarão prontos para interceptar o vírus quando ele aparecer. Em contraste, em uma infecção normal, o patógeno sai na frente porque o sistema imunológico nunca viu nada parecido com ele. Ou seja, no momento em que o sistema imunológico adaptativo está pronto para entrar em ação durante uma infecção primária, o vírus já se replicou dentro das células e os anticorpos não conseguem chegar a ele.

"Assim, essas descobertas indicam que as células T são mais importantes no [combate à] infecção natural por Sars-CoV-2, e os anticorpos mais importantes em uma vacina contra a Covid-19", explicou Crotty. "Ainda assim, também é plausível que as células T sejam importantes em ambos os casos."