• Redação Galileu
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Alzheimer  pode estar ligado à bactérias do microbioma intestinal  (Foto:  Robina Weermeijer / Unsplash)

Alzheimer pode estar ligado à bactérias do microbioma intestinal (Foto: Robina Weermeijer / Unsplash)

Pesquisadores europeus confirmaram a correlação, em humanos, entre um desequilíbrio no microbioma intestinal e o desenvolvimento de placas amilóides no cérebro, que dão origem à doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. O estudo foi realizado em conjunto por uma equipe da Universidade de Genebra (Unige) e dos Hospitais Universitários de Genebra, na Suíça, com profissionais do Centro Nacional de Pesquisa e Cuidado para Doenças de Alzheimer e Psiquiátricas Fatebenefratelli, da Universidade de Nápoles e do Centro de Pesquisa IRCCS SDN, na Itália. 

Segundo a análise, publicada no Journal of Alzheimer’s Disease, as proteínas produzidas por certas bactérias intestinais, identificadas no sangue de pacientes, podem de fato modificar a interação entre o sistema imunológico e o sistema nervoso, influenciando o desenvolvimento da doença.

O laboratório de pesquisas do neurologista Giovanni Frisoni, diretor do HUG Memory Center e professor da Unige, vem trabalhando há vários anos para entender a potencial influência do microbioma intestinal no cérebro — e mais particularmente em doenças neurodegenerativas. "Já mostramos que a composição do microbioma intestinal em doentes com Alzheimer foi alterada, em comparação com pessoas que não sofrem disso", explica, em nota. "Além disso, também descobrimos uma associação entre um fenômeno inflamatório detectado no sangue, certas bactérias intestinais e a doença de Alzheimer."

Foram estudadas 89 pessoas entre 65 e 85 anos de idade, sendo algumas com Alzheimer, outras com doenças neurodegenerativas semelhantes e outro grupo sem nenhum problema de memória. "Medimos a deposição de amiloide e quantificamos a presença em seu sangue de vários marcadores de inflamação e proteínas produzidas por bactérias intestinais, como lipopolissacarídeos e ácidos graxos de cadeia curta", diz Moira Marizzoni, investigadora do Centro Fatebenefratelli e primeira autora do artigo.

Segundo a análise, as bactérias intestinais podem influenciar o funcionamento do cérebro e promover a neurodegeneração por várias vias: elas podem influenciar a regulação do sistema imunológico e, conseqüentemente, modificá-lo em relação ao sistema nervoso.

Os lipopolissacarídeos, uma proteína localizada na membrana de bactérias com propriedades pró-inflamatórias, foram encontrados em placas amilóides e ao redor de vasos no cérebro de pessoas com doença de Alzheimer. Além disso, o microbioma intestinal produz metabólitos, como alguns ácidos graxos, que, tendo propriedades neuroprotetoras e antiinflamatórias, afetam direta ou indiretamente a função cerebral.

"Os nossos resultados são indiscutíveis: certos produtos bacterianos da microbiota intestinal estão relacionados com a quantidade de placas amilóides no cérebro" explica Moira Marizzoni. "De fato, níveis elevados de lipopolissacarídeos no sangue e certos ácidos graxos de cadeia curta (acetato e valerato) foram associados a grandes depósitos de amilóide no cérebro. Por outro lado, níveis elevados de outro ácido graxo de cadeia curta, o butirato, foram associados a menos patologia de amiloide."