• Redação Galileu
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Estudo com 52 mil pessoas mostra que gordura marrom faz bem para a saúde. Acima: à esquerda, pode-se observar a presença de gordura marrom no corpo do voluntário, enquanto à direita a gordura marrom não está presente (Foto: Courtesy of Andreas G. Wibmer and Heiko Schöder)

Estudo com 52 mil pessoas mostra que gordura marrom faz bem para a saúde. Acima: à esquerda, pode-se observar a presença de gordura marrom no corpo do voluntário, enquanto à direita a gordura marrom não está presente (Foto: Courtesy of Andreas G. Wibmer and Heiko Schöder)

Um estudo com 52 mil voluntários revelou que aqueles que tinham mais gordura marrom eram menos propensos a sofrer de doenças cardíacas e metabólicas, desde diabetes tipo 2 a doença arterial coronariana. A pesquisa foi liderada por especialistas da Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, e publicada na segunda-feira (4) na Nature Medicine.

A análise foi a maior de seu tipo em humanos e confirma os benefícios da gordura marrom à saúde, sugeridos por pesquisas anteriores. “Pela primeira vez, [o estudo] revela uma ligação para reduzir o risco de certas condições”, disse Paul Cohen, coautor do estudo, em comunicado. “Essas descobertas nos deixam mais confiantes sobre o potencial de direcionar a gordura marrom para benefícios terapêuticos.”

Ao contrário da gordura branca, que armazena calorias, a gordura marrom queima energia — e os cientistas esperam que ela seja a chave para novos tratamentos contra a obesidade. Entretanto, é difícil identificar esse tipo de gordura, pois ela tende a estar "escondida" nas camadas mais profundas de tecidos corporais.

Embora a gordura marrom tenha sido estudada por décadas em recém-nascidos e animais, foi apenas em 2009 que os cientistas perceberam que ela também pode ser encontrada em alguns adultos, geralmente em volta do pescoço e ombros. A partir de então, os pesquisadores se esforçaram para estudar as elusivas células de gordura, que têm o poder de queimar calorias para produzir calor quando está frio.

No entanto, realizar estudos acerca da gordura marrom é desafiador, pois depende de um exame chamado tomografia por emissão de pósitrons (PET). "Esses exames são caros, mas o mais importante, eles usam radiação”, explicou Tobias Becher, líder do estudo. “Não queremos sujeitar muitas pessoas saudáveis ​​a isso.”

A solução? Becher se uniu aos especialistas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, que realizam dezenas de PETs todos os anos para avaliar a evolução do câncer de seus pacientes. Então, os pesquisadores analisaram 130 mil tomografias PET de mais de 52 mil pacientes e descobriram a presença de gordura marrom em quase 10% dos indivíduos.

Várias doenças comuns e crônicas foram menos prevalentes entre as pessoas com gordura marrom detectável. Por exemplo, apenas 4,6% tinham diabetes tipo 2, em comparação com 9,5% das pessoas que não tinham gordura marrom detectável. Da mesma forma, 18,9% tinham colesterol anormal, em comparação com 22,2% naqueles sem gordura marrom.

Além disso, o estudo revelou que as pessoas com gordura marrom tinham menos risco de ter hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva e doença arterial coronariana — ligações que não haviam sido observadas em estudos anteriores.

Outra descoberta surpreendente foi que a gordura marrom pode atenuar os efeitos negativos da obesidade na saúde. Em geral, pessoas obesas apresentam risco maior de problemas cardíacos e metabólicos. Contudo, os pesquisadores descobriram que entre os obesos com gordura marrom, a prevalência dessas condições era semelhante à de não obesos.

Ainda não se sabe por que a gordura marrom pode contribuir para uma saúde melhor — mas já existem algumas pistas. Por exemplo, as células de gordura marrom consomem glicose para queimar calorias e é possível que isso reduza os níveis de glicose no sangue, um importante fator de risco para o desenvolvimento de diabetes.

O papel da gordura marrom é mais misterioso em outras condições, como a hipertensão, que está intimamente ligada ao sistema hormonal. “Estamos considerando a possibilidade de que o tecido adiposo marrom faça mais do que consumir glicose e queimar calorias, e talvez realmente participe da sinalização hormonal para outros órgãos”, comentou Cohen.

A equipe planeja estudar mais a biologia da gordura marrom, inclusive procurando por variantes genéticas que possam explicar por que algumas pessoas têm mais do que outras. “A pergunta natural que todos têm é: ‘O que posso fazer para obter mais gordura marrom?’”, disse Cohen. “Ainda não temos uma boa resposta para isso, mas será um espaço estimulante para os cientistas explorarem nos próximos anos.”