• Beatriz Gatti*
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Crescente de casos de mucormicose têm alertado autoridades na Índia (Foto: Yale Rosen/Wikimedia Commons)

Crescente de casos de mucormicose têm alertado autoridades na Índia (Foto: Yale Rosen/Wikimedia Commons)

Em meio à segunda onda da Covid-19 que assolou a Índia, registros de infecções por fungos estão sendo observados em diversos estados do país. Já são mais de 10 mil casos de mucormicose, doença que tem sido popularmente chamada de "fungo preto". Geralmente causada por bolores do gênero Rhizopus, Rhizomucor e Mucor, a enfermidade pode mutilar a face, nariz, olhos, pulmões e cérebro de infectados.

Outros tipos de patógenos também têm preocupado os médicos indianos. Manifestações de aspergilose, que é provocada por fungos do gênero Aspergillus e foi apelidada genericamente de “fungo branco” ou “amarelo”, também têm sido diagnosticadas em pacientes com Covid-19 no país asiático. Na última segunda-feira (24), um homem foi diagnosticado com os três tipos de infecções fúngicas durante o tratamento pós-Covid-19 na cidade de Ghaziabad.

Além dos efeitos sanitários, econômicos e sociais trazidos pelo coronavírus, a escassez da anfotericina B, principal antifúngico utilizado para combater as infecções, causa inquietação entre as autoridades e a comunidade médica. O Ministério da Saúde indiano solicitou um aumento na produção e distribuição de medicamentos para as empresas farmacêuticas, já que muitos estados indianos declararam estar vivendo uma epidemia de mucormicose.

Pessoas com Covid-19, diabetes mal controlada e pacientes com doenças onco-hematológicas estão no grupo de risco para o desenvolvimento da doença, o que justifica a alta incidência de casos no país — 8,9% da população são diabéticos.  “A mucormicose é uma doença já conhecida. O que não existia antes era um número tão alto de pacientes com Covid-19 internados e infectados por ela na Índia”, explica Flávio Telles, infectologista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a GALILEU.

Uma possível relação com o uso de esteroides, empregados no tratamento da Covid-19, também está sendo avaliada por especialistas, que sugerem que o medicamento pode impactar a imunidade dos pacientes contra outros patógenos. Os fungos da mucormicose crescem dentro dos vasos sanguíneos e, por isso, podem causar descoloração sobre o nariz, turbidez na visão e dores no peito, no rosto e nos dentes. Em casos graves, a infecção pelo “fungo preto” pode levar à perda de visão.

Já na aspergilose, surgem feridas e manchas nos pacientes, que podem ter seus tecidos necrosados. O patógeno tem potencial de causar danos graves aos pulmões, e os sintomas iniciais são, inclusive, semelhantes aos da Covid-19, como dores de cabeça, tosse e falta de ar.

E o Brasil?

Diferentemente da Covid-19, essas infecções por fungos não são transmitidas entre pessoas. As doenças se desenvolvem apenas em pacientes com determinadas condições imunológicas. O infectologista Flávio Telles explica que casos de mucormicose e aspergilose já existiam há muito tempo no Brasil — com frequência mais baixa e mais comumente associados a pacientes hematológicos.

Segundo o moderador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia, a aspergilose até tem aparecido em pacientes brasileiros com Covid-19. No entanto, não há nenhum dado expressivo sobre isso. “A aspergilose existe. Mas não é uma epidemia”, esclarece. Em relação à mucormicose, o cientista alerta que é importante manter a diabetes controlada. “A gente não deve alarmar a população. Hoje é muito mais importante estar preocupado com as medidas de controle da Covid-19, vacinação, uso de máscaras e etc.”, tranquiliza Telles.

*Com supervisão de Larissa Lopes