• Redação Galileu
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Visão do rosto da jovem SK152, que viveu há 800 anos e sofria de infecção bacteriana por Salmonella enterica (Foto: Stian Suppersberger Hamre et.al )

Visão do rosto da jovem SK152, que viveu há 800 anos e sofria de infecção bacteriana por Salmonella enterica (Foto: Stian Suppersberger Hamre et.al )

Uma equipe internacional de pesquisadores está conduzindo um projeto arqueológico para estudar doenças em esqueletos medievais encontrados na cidade de Trondheim, na Noruega. Eles investigam como as enfermidades do passado podem nos ajudar a enfrentar pandemias mais atuais. 






A iniciativa está em uma série de três estudos publicados nos jornais Current Biology, PLOS ONE e Journal of Archaeological Science: Reports. O projeto MedHeal, como é chamado, conta com a participação de estudiosos noruegueses da Universidade de Bergen e da Universidade Médica de Innsbruck, na Áustria.

O estudo analisa os registros de diversas escavações arqueológicas no centro de Trondheim, feitas ao longo do século passado, utilizando novas tecnologias para estudar diferentes esqueletos. Um deles é o de uma jovem que viveu há 800 anos — ou seja, um século e meio antes da peste bubônica.

Representação facial de homem nomeado SK259 ao lado de seu crânio  (Foto: Stian Suppersberger Hamre et.al )

Representação facial de homem nomeado SK259 ao lado de seu crânio (Foto: Stian Suppersberger Hamre et.al)

Os dentes da moça revelaram que ela tinha uma doença que ninguém pensava ter sido encontrada na Europa durante os tempos medievais: uma infecção bacteriana por Salmonella enterica, que gera sintomas gastrointestinais. A ossada da jovem tem nome oficial de SK152, mas pesquisadores britânicos a chamam de Ragna.

Segundo Tom Gilbert, biólogo evolucionário da Universidade de Copenhague, é interessante identificar a bactéria nesse período inesperado, mas também é útil para descobrir agentes infecciosos perigosos atuais. 

O crânio do homem SK259 analisado pela equipe internacional de pesquisadores  (Foto: Stian Suppersberger Hamre et.al )

O crânio do homem SK259 analisado pela equipe internacional de pesquisadores (Foto: Stian Suppersberger Hamre et.al )

"Ao obter os patógenos antigos, pode-se estudar quando essa transmissão aconteceu, que tipo de características são necessárias, que podem ser traduzidas de volta em informações úteis para monitoramento hoje", ele afirma, em comunicado. 

Além do esqueleto da jovem, os pesquisadores identificaram uma ossada vinda por volta do ano 1100, cujo genoma se parece com o de um homem islandês moderno. Eles supõem que o indivíduo possa ter sido alguém com alto status que veio da Islândia para dialogar com a realeza de Trondheim, após o surgimento de conflitos em seu país de origem.

Anne-Marijn Snaaijer, candidata a doutorado na Universidade de Copenhague, examina osso de coluna no Centro de Arquivos de Trondheim na Noruega (Foto: Åge Hojem, Museu da Universidade NTNU)

Anne-Marijn Snaaijer, candidata a doutorado na Universidade de Copenhague, examina osso de coluna no Centro de Arquivos de Trondheim na Noruega (Foto: Åge Hojem, Museu da Universidade NTNU)

"Pessoas de alto status normalmente têm muito mais descendentes”, explica Gilbert. “E, na verdade, se você tiver uma amostra antiga que deu origem a muitos descendentes, eles realmente parecem ainda mais próximos da população atual porque há mais deles na população atual.”






O pesquisador cita ainda que pessoas com maior prestígio — como é o caso do homem —tinham riqueza suficiente para ter mais filhos. Ele admite que a história do indivíduo ainda é uma hipótese, porém, todas as pistas se encaixam, já que houve conflitos civis na Islândia e as pessoas viajavam até Trondheim para tentar ter apoio do rei norueguês."Com todos esses pedaços apontando juntos, você pode começar a construir uma história bastante interessante”, ele comenta.