• Júlio Viana*
Atualizado em
 (Foto: Salk Institute)

(Foto: Salk Institute)

Pesquisadores do Instituto Salk e da Universidade de Michigan descobriram que as minhocas também passam por uma fase rebelde durante a adolescência. Em pesquisa publicada na revista eNeuro, os cientistas observaram que, apesar de possuírem os mesmos genes e neurônios que as minhocas adultas, as mais jovens preferem passear por aí antes de chegar ao alimento.

Para os autores do artigo, isso acontece para dar maior maleabilidade ao comportamento e às preferências alimentares das minhocas, permitindo às mais jovens explorar e observar a disponibilidade de certos alimentos antes de dedicarem-se apenas à busca objetiva deles.

Tanto minhocas quanto humanos respondem fortemente ao cheiro de uma substância química chamada diacetil, um aroma que se aproxima ao de pipoca amanteigada. Para observar o comportamento dos animais, a equipe colocou várias minhocas (adultas e jovens) no centro de um recipiente e pingou uma gota de diacetil em um ponto e outra gota de um odor neutro em outro.

Durante alguns dias, os pesquisadores foram capazes de caracterizar o trajeto feito por cada uma delas. O que descobriram foi que enquanto as minhocas adultas foram direto ao diacetil, as mais jovens experimentaram várias rotas diferentes até encontrá-lo, algumas nem mesmo chegaram lá.

Para entender o porquê da distração das minhocas adolescentes, eles usaram técnicas moleculares que iluminam os neurônios ativos no momento. No caso do diacetil, o neurônio AWA é o que tornava-se mais presente. Porém, o AWA tornava-se ativo nas jovens minhocas apenas quando colocadas na presença de grandes quantidades da substância.

As minhocas adultas, por outro lado, conseguiam perceber níveis mais sutis do odor. Além disso, o grupo notou que outros três neurônios diferentes acendiam-se nos adultos: AWB, ASK e AWC, o que sugere uma resposta neural mais complexa que aquela dos adolescentes. Ao inibir esses últimos, os adultos começavam a agir igualmente às minhocas jovens.

Para o grupo de cientistas, isso acontece justamente para dar às mais novas maior flexibilidade de adaptação ao ambiente. Ao possuírem um estímulo mais fraco diante do diacetil, elas são capazes de ajustarem suas preferências de acordo com a disponibilidade do ambiente.

Dessa forma, após descobrirem qual alimento existe em maior quantidade no local, as minhocas adultas conseguem ser mais específicas e mais eficientes na busca por essas substâncias.

“Esses resultados dão suporte à ideia de que a evolução trabalha para dar aos mais jovens mais plasticidade com o objetivo de aprenderem muitas coisas; e aos adultos capacidade para tirarem vantagem desse aprendizado”, diz Sreekanth Chalasani, professor associado no Laboratório de Neurobiologia Molecular no Instituto Salk e autor sênior do artigo.

Apesar da microscópica minhoca Caenorhabditis elegans possuir 302 neurônios em comparação aos 100 bilhões, seu circuito neurológico básico é muito semelhante ao nosso. Ao mapear as funcionalidades e a anatomia dele, os cientistas são capazes de fazer experimentos e traçar facilmente as respostas neurais obtidas, algo difícil de se fazer em humanos, oferecendo insights valiosos a ambas as espécies.

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(Fonte: IFLScience)

*Com supervisão de Nathan Fernandes