• Redação Galileu
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Privação de sono ativa região do cérebro que sente as dores (Foto: Pixabay/Creative Commons)

Privação de sono ativa região do cérebro que sente as dores (Foto: Pixabay/Creative Commons)

Neurocientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, apontaram em uma nova pesquisa que a perda de sono pode tornar as dores no corpo piores. 

O ser humano sente dores por causa dos nervos, visto que eles enviam "sinais dolorosos" para a medula espinhal e para o cérebro. No órgão, uma rede de regiões neurais se inflama em reação à lesão – como um corte, por exemplo – e trabalha para controlar ou amenizar a sensação ruim. Segundo o estudo publicado no periódico The Journal of Neuroscience, a privação de sono também pode ativar essa região. 

A análise
Os pesquisadores Adam J. Krause e Matthew P. Walker chamaram 25 adultos para registrar seus limites de dores. Duas medidas foram tiradas de cada participante: uma pela manhã e após uma noite inteira de sono; e uma pela manhã depois de uma noite má dormida. As duas visitas ocorreram com pelo menos uma semana de intervalo e incluíram medidas com uma máquina de imagem cerebral.

Os participantes usaram uma pequena almofada aquecida pressionada contra a pele, perto do tornozelo, para julgar o nível de dor em uma escala de 1 a 10. Ao ajustar a temperatura para cima e para baixo, os cientistas identificaram o que cada um sentiu. 

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Dormir mal aumentou de 15% a 30% a sensibilidade de todos para o aquecimento da almofada. De acordo com os pesquisadores, isso não foi inesperado, mas a imagem do cérebro mostrou que, para cada participante, cresceram as atividades nas regiões de percepção da dor no cérebro. 

Os maiores picos foram no córtex somatossensorial, faixa de tecido neural que atravessa o topo do órgão – esta é a região do homúnculo, mapa neural distorcido do corpo, que parece ser onde a percepção da dor se torna consciente. Os níveis mais baixos de atividade ocorreram em regiões cerebrais mais profundas, como o tálamo e o núcleo accumbens.

Boa noite? 
"Houve sensação de aumento na dor e perda de reação analgésica natural. O fato de que ambos aconteceram foi surpreendente", afirmou Walker, diretor do centro para a ciência do sono na Universidade da Califórnia em Berkeley, em entrevista ao jornal The New York Times. 

Segundo ele, a privação de sono intencional não costuma acontecer com frequência, então pode ser que nenhum sistema de "cópia de segurança" tenha evoluído para restaurar ou ajustar o sistema de dor no cérebro. 

Em outro teste separado, os neurocientistas recrutaram pela internet 60 adultos que relataram ter dores crônicas diárias. Os participantes avaliaram seu sono e dor durante dois dias, pontuando a qualidade do sono e intensidade das dores.

Para cada indivíduo, noites má dormidas foram acompanhadas de classificações mais altas na escala de dor. De acordo com o estudo, a duração do sono não foi um fator crítico, mas sim as alterações no sono profundo (quando quase não há sonhos). 

O trabalho possui diferentes implicações. Os autores da pesquisa avaliam, por exemplo, que distribuir tampões de ouvido e máscaras seria uma maneira barata de acelerar a recuperação e reduzir o tempo das internações hospitalares.

"Uma vez que entendemos como a privação do sono altera a forma como essas vias funcionam, devemos ser capazes de controlar a dor de forma mais eficaz", declarou Michael J. Twery, diretor do departamento de distúrbios do sono do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue dos Estados Unidos.

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