• Redação Galileu
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Imagem de microscopia eletrônica mostra o vírus SARS-CoV-2 (amarelo) isolado de um paciente emergindo da superfície de células (azul/rosa) cultivadas em laboratório (Foto: NIAD/HIH)

Mutação no Sars-CoV-2 o tornou mais transmissível, mas não mais letal. Imagem de microscopia eletrônica mostra o vírus SARS-CoV-2 (amarelo) isolado de um paciente emergindo da superfície de células (azul/rosa) cultivadas em laboratório (Foto: NIAD/HIH)

Um estudo liderado pela Universidade Duke, o Laboratório Nacional Los Alamos e o Instituto La Jolla (LJI), todos nos Estados Unidos, relata como a variante G614 do novo coronavírus dominou a maioria dos casos de Covid-19 pelo mundo. Segundo os cientistas, uma mutação ajudou o Sars-CoV-2 a se replicar, aumentando a carga viral presente nos pacientes e, assim, permitindo que ele se disseminasse mais — mas sem elevar sua letalidade. Os resultados foram publicados na revista científica Cell nesta quinta-feira (2).

Para o estudo, os cientistas analisaram duas variantes que circulavam entre pacientes de San Diego, na Califórnia, em meados de março: a G614 e a D614, que possuem apenas uma pequena diferença em sua proteína spike, que possibilita ao vírus entrar em nossas células.

Sob a orientação de Erica Ollmann Saphire, professora do LJI, e David Montefiore, Ph.D do Centro Médico da Universidade Duke, os pesquisadores descobriram que os vírus que carregam a mutação G na proteína spike são de duas a três vezes mais eficientes em se replicar, resultando em uma maior carga viral.

A partir de março, variante G do novo coronavírus se espalhou pelo mundo (Foto: La Jolla Institute for Immunology)

A partir de março, variante G do novo coronavírus se espalhou pelo mundo (Foto: La Jolla Institute for Immunology)

A próxima etapa foi analisar se a mutação G, por se replicar mais, é mais difícil de ser combatida pelo sistema imunológico do que a variante D. Os cientistas usaram amostras de seis moradores de San Diego e, felizmente, as respostas imunológicas humanas demostraram a capacidade de neutralizar a mutação G tão bem ou até melhor do que a variante D. Ou seja, não foi necessário produzir mais ou melhores anticorpos para lutar contra o Sars-CoV-2 com a mutação G, mesmo que ele se espalhasse mais.

Além disso, estudos anteriores já haviam apontado que carregar o vírus da variante G não está associado a uma maior severidade da doença. "Os dados clínicos de um artigo da Universidade de Sheffield mostraram que, embora os pacientes com o novo vírus G tenham mais cópias do vírus do que os pacientes infectados com o D, não houve um aumento correspondente na gravidade da doença", diz Saphire, do LJI.

Segundo a professora, o principal “objetivo” do vírus é se disseminar de forma mais eficiente e, para isso, é mais vantajoso manter os hospedeiros vivos. "O vírus não 'quer' ser mais letal. Ele 'quer' ser mais transmissível", explica Saphire. "Um vírus 'quer' que você o ajude a espalhar cópias de si mesmo. Ele 'quer' que você vá para o trabalho, para as reuniões escolares e sociais e o transmita a novos hospedeiros. É claro que um vírus é inanimado — não ‘quer’ nada. Mas um vírus sobrevivente é aquele que se espalha mais e com mais eficiência. Um vírus que mata seu hospedeiro rapidamente não chega tão longe — pense nos casos de Ebola. Um vírus que deixa seu hospedeiro cuidar de seus negócios dissemina melhor — como com o resfriado comum."

Por isso, os pesquisadores ressaltam a importância do uso de máscaras e do distanciamento social como formas de combate ao Sars-CoV-2. O estudo também dá suporte para o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus, uma vez que é essencial descobrir quais mutações do microrganismo podem fazer com que ele “escape” dos mecanismos do nosso sistema imunológico.

Quando um vírus passa por várias mudanças, ele se “afasta” do vírus original, passando pelo fenômeno de deriva antigênica — que é a razão pela qual todo ano é produzida uma versão atualizada da vacina da gripe, por exemplo.