• Redação Galileu
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Estudo não identifica alterações genéticas em filhos de sobreviventes de Chernobyl (Foto: Romain Chollet/Unsplash)

Estudo não identifica alterações genéticas em filhos de sobreviventes de Chernobyl (Foto: Romain Chollet/Unsplash)

As consequências do acidente nuclear de Chernobyl para os moradores da cidade ucraniana — e seus descendentes — são investigadas até hoje. Quase 35 anos depois do desastre, pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI, na sigla em inglês) apresentaram nesta quinta-feira (22) uma descoberta positiva: filhos de pessoas expostas à radiação não receberam alterações genéticas de seus pais. 

Publicados na revista Science, os resultados foram obtidos a partir do uso de uma tecnologia de ponta de sequenciamento de DNA e caracterização genômica. Diferentemente do que tem sido sugerido em alguns estudos em animais, a pesquisa sugere que exposição à radiação do acidente teve um impacto mínimo — se é que houve — na saúde da geração seguinte.

Para chegar a essa conclusão, a equipe liderada por Stephen Chanock, diretor da divisão Epidemiologia e Genética do Câncer do NCI, analisou genomas de 130 pessoas nascidas entre 1987 e 2002, bem como o material genético de seus pais.

Os pais foram avaliados de acordo com a exposição prolongada que sofreram. Pelo menos um de cada casal foi afetado pelo desastre. Alguns haviam trabalhado na limpeza do acidente; outros foram evacuados de suas casas, localizadas próximas à usina; e houve ainda quem tivesse se contaminado pelo consumo de leite de vacas que pastavam em regiões com alta radiação.

A equipe esteve atenta para o aumento da incidência de uma mutação conhecida como de novo. Os cientistas dão esse nome a alterações genéticas observadas pela primeira vez em uma família. Isso acontece quando há uma mutação em células germinativas (óvulos ou espermatozóides) de um dos pais, mas que não chegou a afetá-los, embora sejam eles quem carreguem as células.

Não houve aumento no número de mutações de novo em filhos nascidos de 46 semanas a 15 anos depois do desastre. “Vemos esses resultados como muito reconfortantes para as pessoas que viviam em Fukushima na época do acidente de 2011”, comemora Chanock, em nota. “Sabe-se que as doses de radiação no Japão foram menores do que as registradas em Chernobyl.”

Alterações sobre os tumores da tireoide
O mesmo grupo de pesquisadores também investigou a relação entre os tumores de tireoide e os níveis de radiação gerados pelo reator nuclear. Eles verificaram que houve modificações genéticas nos tumores de pessoas que desenvolveram o câncer após serem expostas ao iodo radioativo ainda quando bebês ou fetos.

A pesquisa utilizou informações do Banco de Tecidos de Chernobyl, criado há mais de 20 anos — muito tempo antes da tecnologia de estudos genômicos e moleculares ter sido desenvolvida. "O banco de tecidos foi criado por cientistas visionários que coletaram amostras de tumores de pessoas residentes em regiões altamente contaminadas que desenvolveram câncer de tireoide”, comenta Lindsay Morton, uma das autoras. “Esses cientistas reconheceram que haveria avanços substanciais na tecnologia no futuro, e a comunidade de pesquisa agora está se beneficiando de sua previsão."

A partir do sequenciamento de DNA, foram traçados os perfis genéticos de 359 pessoas que tiveram contato com a radiação durante a primeira infância (até 6 anos) ou ainda no útero, além de outras 81 que não foram expostas e nasceram mais de nove meses depois do acidente.

Sabe-se que a energia da radiação causa diferentes tipos de danos genéticos, originados pela quebra de ligações químicas do DNA. Um deles é a fragmentação de ambos os fios de DNA nos tumores da tireoide. A conclusão dos pesquisadores é que quanto mais jovens as crianças foram expostas ao material radioativo, maior foi a influência da radiação sobre esse tipo de quebra de DNA.