• Larissa Lopes
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Daniel Barros: “Lidamos melhor com a vida quando somos enriquecidos de informação” (Foto: Divulgação)

Daniel Barros: “Lidamos melhor com a vida quando somos enriquecidos de informação” (Foto: Divulgação)

Espalhar a palavra da ciência para o público leigo sempre foi uma das paixões na carreira do psiquiatra Daniel Barros, professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). "Como acadêmico, a divulgação científica está inserida no tripé universitário brasileiro [pesquisa, ensino e extensão] e é fundamental por dois motivos", afirma. O primeiro deles, segundo Barros, é que, munidos de informação, somos capazes de enfrentar melhor os desafios do nosso dia a dia. E, em segundo lugar, isso mostra para sociedade que a ciência e universidade são instituições legítimas e importantes.

Por isso, o médico sempre colaborou com veículos de grande alcance para informar a população sobre assuntos relacionados à saúde e ao comportamento humano. Entre 2017 e 2019, inclusive, Barros foi autor da coluna Tubo de Ensaios, publicada na GALILEU. Em entrevista, ele conta mais sobre a importância da divulgação científica em sua carreira, sua participação como colunista da revista (que está completando 30 anos em 2021!) e suas expetativas para a medicina nos próximos 30 anos. Confira a seguir:

Como você conheceu a GALILEU e começou a colaborar com a revista?
Eu tinha uns 14 anos quando a revista foi lançada e, desde moleque, tinha curiosidade por ciência. Muitos anos depois, eu estava dando consultoria à divulgação médica do programa Bem Estar, da TV Globo, que falava sobre saúde de forma popular, mas sem perder o rigor científico. Como eu já havia trabalhado em televisão, achava que podia ter espaço em uma revista. Então, conversei com a diretora do programa, a Patrícia Carvalho, e ela me apresentou para o pessoal da GALILEU. Rolou!

Nesse tempo como colunista, qual texto você mais gostou de fazer?
Um dos que acho que fiz melhor foi Os nossos tijolos invisíveis [edição 333]. Quando eu fazia a coluna, sempre tinha o cuidado de escrever um ensaio que dialogasse com a principal matéria da edição. Nesse texto, fiz um paralelo entre a reportagem de capa, que tratava sobre a popularização de testes de ancestralidade, com o uso dos exames de raio-x no início do século 20. Quando eles foram criados, tornaram-se extremamente populares. Para além do uso médico, havia sessões de raio-x em cabines e parques para que as pessoas pudessem ver seus próprios ossos. E eu acredito que o fascínio que a acessibilidade a dados do nosso DNA tem causado seja semelhante a esse período.

Como alguém que sempre trabalhou com pesquisa e escreveu para diversas mídias, qual a importância da divulgação científica na sua carreira?
Como acadêmico, a divulgação científica está inserida no tripé universitário brasileiro [pesquisa, ensino e extensão] e é fundamental por dois motivos. Primeiro, porque ela ajuda as pessoas a viverem melhor, elas lidam melhor com a vida e com os desafios do dia a dia quando são enriquecidas de informação. Em segundo lugar, isso aumenta a legitimidade da academia diante da população, você consegue mostrar que essa instituição é importante.

Nos últimos 30 anos, que marcos da medicina e, especialmente, da psiquiatria você destacaria?
A revolução da neuroimagem foi um grande boom. Nos Estados Unidos, a década de 1990 foi eleita pelo então presidente George Bush a “Década do Cérebro”. Nesse período, verbas foram destinadas a estudos para desvendar os mecanismos cerebrais. E isso, com a utilização da neuroimagem, teve um impacto tremendo no que se sabia sobre o funcionamento do cérebro in vivo, através de imagens em tempo real, por exemplo.

Quais tendências você acredita que vão mudar o seu campo de estudo nos próximos 30 anos?
A genética ainda terá muito a contribuir, mas não acredito que vamos descobrir “O gene da esquizofrenia” ou “O gene de depressão”, pois essas doenças são multifatoriais. O que antevejo como algo revolucionário (e posso queimar a língua aí, mas tomara que eu acerte) são os aplicativos e wearable devices. Nessa era de deep learning e big data, vamos conseguir ter indicativos mais precisos do estado emocional de uma pessoa. Mesmo que não revolucione o nosso entendimento sobre as doenças, acredito que vá mudar significativamente nossa possibilidade de avaliar um paciente ao longo do tempo.