• Redação Galileu
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Na Science, brasileiros denunciam negacionismo e ameaças à pesquisa no país (Foto: Monstera/Pexels)

Na Science, brasileiros denunciam negacionismo e ameaças à pesquisa no país (Foto: Monstera/Pexels)

Lançada nesta sexta-feira (19), a nova edição da revista Science tem entre seus artigos duas cartas publicadas por cientistas brasileiros. Nelas, o grupo chama a atenção para os repetidos cortes relacionados ao financiamento de pesquisas e também para o crescente negacionismo científico observado no país.

O primeiro texto, assinado por 15 pesquisadores, comenta como a falta de repasse de recursos públicos tem impactos diretos na produção científica brasileira, com destaque para a mais recente redução de 87% na verba que seria repassada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Apesar disso, o Brasil ficou em 11º lugar entre os países que produziram conhecimento para combater a pandemia de Covid-19 — incluindo nações de alta renda.

Os autores evidenciam a importância de pesquisadores em início de carreira e pedem por mais reconhecimento para que o trabalho possa ser feito em melhores condições, inclusive porque a maioria dos programas de pós-graduação exige dedicação exclusiva. Segundo eles, não há ajustes no valor das bolsas de mestrado e doutorado desde 2013. “Sem investimento adequado, os jovens cientistas não terão outra escolha a não ser abandonar sua carreira acadêmica ou deixar o país”, diz o texto.

Os obstáculos financeiros para fazer ciência no Brasil são refletidos no discurso do chefe do Executivo, de acordo com a segunda carta publicada na Science. “A politização da ciência inclusive alimentou ataques a cientistas que se posicionaram contra retrocessos [nos avanços científicos e tecnológicos]”, escrevem Luisa Diele-Viegas, da Universidade Federal de Alagoas, e Juliana Hipólito e Lucas Ferrante, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). 

Ao citar os incêndios no Pantanal e o desmatamento na Amazônia, o trio de cientistas afirma que o modo como o Brasil lida com o meio ambiente serve de alerta para países que flertam com lideranças que também desconsideram a ciência. “A má gestão da pandemia da Covid-19 levou a mais de 600 mil mortes no país, mas os governantes continuam a encorajar movimentos antivacina e a promover medicamentos ineficazes”, acrescentam.

Ambos os textos associam avanços e o bem-estar da sociedade ao trabalho da ciência, ressaltando que é necessário investir em pesquisa e desenvolvimento em detrimento de desvalorizar a categoria. “Se o Brasil não reavaliar imediatamente seu orçamento para ciência e tecnologia, o país corre o risco de perder ou alienar toda uma geração de cientistas brasileiros”, conclui o artigo, produzido por cientistas sediados em instituições do Reino Unido, da Alemanha e da Bélgica, além do Brasil.