• Redação Galileu
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Parte da perna da ave Allgoviachen tortonica do Mioceno tardio (Foto: Gerald Mayr et.al )

Parte da perna da ave Allgoviachen tortonica do Mioceno tardio (Foto: Gerald Mayr et.al )

Em um poço de argila na Alemanha, especialistas encontraram ossos de 11 milhões de anos que pertenceram a uma ave nunca antes descrita. Trata-se da nova espécie de pássaro pré-histórico Allgoviachen tortonica. O achado foi registrado em 7 de março na revista científica Historical Biology.






Essa ave tinha 70 centímetros, mais ou menos o tamanho de gansos-do-egito modernos (Alopochen aegyptiaca), que medem de 63 a 73 centímetros, de acordo com o banco de dados Animal Diversity Web, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. A criatura vivia no solo próximo a zonas úmidas e em árvores no sul da Alemanha.

Os fósseis da espécie foram encontrados durante escavações no poço Hammerschmiede, em 2020. O projeto mobilizou pesquisadores do Instituto de Pesquisa Senckenberg, do Museu de História Natural de Frankfurt, além do Centro Senckenberg para Evolução Humana e Paleoambiente da Universidade de Tubinga, na Alemanha.

Ossos da ave Allgoviachen tortonica, em comparação com outros fósseis (Foto: Gerald Mayr et.al )

Ossos da ave Allgoviachen tortonica, em comparação com outros fósseis (Foto: Gerald Mayr et.al )

As descobertas são muito raras para aves aquáticas fossilizadas, segundo conta Madelaine Böhme, uma das pesquisadoras envolvidas no estudo em comunicado. Um dos destaques das escavações foi uma perna da ave completamente preservada, que revelou garras peculiares. 






Essas garras se diferenciavam das de aves aquáticas modernas, que têm um estilo de vida mais nadador. Esses pássaros antigos tinham tendões poderosos que ajudavam a flexionar os membros, permitindo que eles se agarrassem em troncos ou galhos que flutuavam em rios.

“Assim como os patos Dendrocygnidae que vivem hoje, que têm garras semelhantes, elas provavelmente possuíam a capacidade de pousar em árvores durante os períodos de descanso", compara Gerald Mayr, principal autor do estudo.

a,b e g: ossos de Allgoviachen tortonica; c, d e h: Paracygnopterus sp; e, f, i: Cygnopterus alphonsi  (Foto: Gerald Mayr et.al )

a,b e g: ossos de Allgoviachen tortonica; c, d e h: Paracygnopterus sp; e, f, i: Cygnopterus alphonsi (Foto: Gerald Mayr et.al )

Como a perna da ave A.tortonica estava cortada na área da coxa, os pesquisadores supõem que ela foi a refeição de uma tartaruga de quase 1 metro de comprimento que vivia no rio Hammerschmiede.

O atual poço de argila era atravessado por diversos rios e é possível que A.tortonica tenha sido mordida enquanto nadava. “A preservação completa de todos os ossos confirma esse cenário", explica o diretor da escavação, Thomas Lechner.

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Além da nova espécie de ave, que pesava cerca de 2 quilos, os especialistas localizaram outras quatro aves aquáticas menores na região. Eles não estão certos em qual posição filogenética A.tortonica se encontra. É que, apesar das semelhanças, ela não estaria intimamente ligada a pássaros aquáticos modernos.

Também foram encontrados em Hammerschmiede mais de 140 espécies de vertebrados, incluindo o primeiro macaco que anda na vertical, Danuvius guggenmosi. "As últimas descobertas sublinham mais uma vez a importância mundial do poço de argila de Hammerschmiede para o estudo do mundo animal no período entre 12 [milhões] e 11 milhões de anos atrás", diz Böhme.