• Redação Galileu
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A caixa craniana do peixe Shuyu de 438 milhões de anos  (Foto: IVPP)

A caixa craniana do peixe Shuyu de 438 milhões de anos (Foto: IVPP)

Novas evidências fósseis apontam que o ouvido médio do ser humano se originou ao longo da evolução a partir de brânquias de peixes. A explicação para essa relação inusitada está em uma pesquisa publicada em maio no jornal científico Frontiers in Ecology and Evolution.






Três minúsculos ossos no nosso ouvido médio (martelo, bigorna e estribo) levam as vibrações sonoras para o ouvido interno, onde os sinais viram impulsos nervosos que nos permitem escutar todos os tipos de sons.

Já havia indícios de que o ouvido médio evoluiu de um orifício respiratório dos peixes, chamado espiráculo. O novo estudo desvenda a formação até então misteriosa desse espiráculo, apontando que as brânquias o originaram.

Centistas do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados (da sigla em inglês, IVPP) da Academia Chinesa de Ciências, junto de colaboradores, estudaram dois fósseis de peixe: um crânio de Shuyu de 438 milhões de anos e o primeiro fóssil descoberto de Galeaspida, com 419 milhões de anos.

Os ossos cranianos são provenientes de Changxing, na província chinesa de Zhejiang, e Qujing, na província também chinesa de Yunnan Province. Ambos trouxeram as primeiras pistas de que o espiráculo se originou das brânquias.

O primeiro fóssil de Galeaspida de 419 milhões de anos completamente preservado com filamentos branquiais (Foto: IVPP)

O primeiro fóssil de Galeaspida de 419 milhões de anos completamente preservado com filamentos branquiais (Foto: IVPP)

Os cientistas reconstruíram quase todos os detalhes da anatomia craniana de Shuyu, cujo crânio tinha o tamanho de uma unha humana. Dentro dele havia cinco divisões cerebrais, órgãos sensoriais e passagens de nervos e vasos sanguíneos. De acordo com Min Zhu, um dos autores do estudo, o peixe foi considerado um elo perdido, tão importante quanto outros peixes antecessores.

"Muitas estruturas importantes dos seres humanos podem ser rastreadas até nossos ancestrais peixes, como nossos dentes, mandíbulas, orelhas médias etc”, conta Zhu, em comunicado. “A principal tarefa dos paleontólogos é encontrar os importantes elos perdidos na cadeia evolutiva dos peixes aos humanos.”

No Polypterus, peixe ósseo vivo mais primitivo, os espiráculos são usados ​​para respirar. Ao longo da evolução, porém, eles foram substituídos nos animais que passaram a realizar a respiração pelo nariz e pela boca.






Quando a estrutura servia para respirar, era incapaz de permitir escutar sons. Mais tarde, em tetrápodes modernos (seres com quatro membros), o espiráculo tornou-se o canal auditivo usado para transmitir o som ao cérebro por meio dos minúsculos ossos do ouvido interno. Essa função assim permaneceu no processo evolutivo até chegar aos humanos.

De acordo com os pesquisadores, somente entre os tetrápodes, o espiráculo perdeu sua função inalatória e “evoluiu para uma orelha média tampada com tímpano”. “Notavelmente, isso aconteceu pelo menos três vezes em paralelo, em anfíbios, répteis, incluindo aves e mamíferos” escrevem os autores no estudo.

Reconstrução em 3D do fóssil de Shuyu (Foto: IVPP)

Reconstrução em 3D do fóssil de Shuyu (Foto: IVPP)