• Redação Galileu
Atualizado em
Fóssil de peixe do gênero Gogo de 380 milhões de anos foi descoberto na Austrália  (Foto: Yasmine Phillips, Universidade Curtin)

Fóssil de peixe do gênero Gogo de 380 milhões de anos foi descoberto na Austrália (Foto: Yasmine Phillips, Universidade Curtin)

O coração mais antigo de um vertebrado foi encontrado na região de Kimberley, na Austrália Ocidental, em uma formação geológica que era antigamente um enorme recife. O órgão é de um peixe do gênero Gogo e data de 380 milhões de anos atrás, conforme estudo publicado nesta quinta-feira (15) na revista Science.






O fóssil estava preservado, ainda em três dimensões, ao lado do estômago, intestino e fígado do peixe com mandíbula. A descoberta é rara, pois tecidos moles de espécies antigas são dificilmente preservados — com pouca chance de manter seu formato tridimensional.

“A maioria dos casos de preservação de tecidos moles são encontrados em fósseis achatados, em que a anatomia mole é pouco mais do que uma mancha na rocha”, explica Per Ahlberg, coautor do estudo, em comunicado.

Estômago do peixe Gogo visto no microscópio  (Foto: Yasmine Phillips/ Universidade Curtin )

Estômago do peixe Gogo visto no microscópio (Foto: Yasmine Phillips/ Universidade Curtin )

Os cientistas da Australian Nuclear Science and Technology Organization, em Sydney, colaboraram com a European Synchrotron Radiation Facility, na França, no uso de feixes de nêutrons e raios X para escanear os peixes, ainda embutidos em concreções de calcário.

Por fim, a equipe elaborou imagens 3D dos tecidos moles dentro dos fósseis com base nas densidades de minerais depositados pelas bactérias e a matriz rochosa dos arredores.

O achado lançou uma nova luz sobre a evolução de vertebrados, como o ser humano. Para Kate Trinajstic, líder do estudo, o processo evolutivo é muitas vezes pensado em pequenos passos, mas a pesquisa sugere que houve um salto maior entre os vertebrados sem e com mandíbula. 

Acontece que a posição dos órgãos dessa classe de peixes blindados (Arthrodira), florescida no Devoniano, é similar à dos tubarões modernos. “Esses peixes literalmente têm o coração na boca e sob as guelras — assim como os tubarões hoje”, afirma a pesquisadora. Segundo ela, é a primeira vez que se pode ver todos os órgãos juntos em um peixe primitivo com mandíbula.

A professora da Universidade Curtin, Kate Trinajstic, inspeciona os fósseis no Museu Western Australian  (Foto: Adelinah Razali/Universidade Curtin )

A professora Kate Trinajstic, da Universidade Curtin, inspeciona os fósseis no Museu Western Australian (Foto: Adelinah Razali/Universidade Curtin )

O coração dos peixes Gogo ficava na parte posterior da garganta e sob as brânquias, pois o pescoço deles era muito curto. O órgão tinha forma de S e era composto por duas câmaras, com uma menor no topo.

Em artigo no site The Conversation, Trinajstic e John Long, coautor da pesquisa, dizem que o grupo de peixes extintos são a primeira evidência de que, "em vertebrados com mandíbula, o reposicionamento do coração para uma posição mais avançada estava ligado à evolução da mandíbula e do pescoço”. 

Segundo Trinajstic, as características avançadas do órgão em vertebrados tão primitivos fornece uma possível explicação de como a cabeça e o pescoço começaram a mudar para acomodar a mandíbula.






Embora os peixes de hoje tenham pulmões que evoluíram a partir de bexigas natatórias, segundo Trinajstic, nenhuma evidência de pulmão foi detectada nos peixes extintos, sugerindo que os órgãos respiratórios evoluíram de forma independente no grupo ósseo em um período posterior.

Representação de peixe Gogo no museu Western Australian (Foto: Kate Trinajstic/ Universidade Curtin)

Representação de peixe Gogo no museu Western Australian (Foto: Kate Trinajstic/ Universidade Curtin)