• Redação Galileu
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Alex Jones (Foto: Michael Zimmermann, via Wikimedia Commons)

Alex Jones (Foto: Michael Zimmermann, via Wikimedia Commons)

Cerca de 2,5 milhões de seguidores no Youtube; diversas páginas no Facebook — uma delas com 1,7 milhão de curtidas —; milhares de downloads no Google Play e na Apple Store: esses números representam apenas parte do público de Alex Jones, um dos braços da extrema-direita norte-americana que, no início desta semana, teve contas e conteúdos banidos por algumas das principais gigantes da tecnologia mundial.

Em meio ao debate sobre o papel das redes sociais na distribuição da desinformação, a Apple, o Youtube, o Facebook e o Spotify se posicionaram e apagaram ao menos parte do conteúdo produzido por Jones, um dos principais criadores e disseminadores de “fake news", as "notícias falsas".

Em comunicado, o Facebook anunciou nesta segunda-feira (6) a exclusão de quatro contas vinculadas a Jones, autor de teorias bizarras como a de que o show de Lady Gaga no Super Bowl teria sido um ritual satânico e de que as vítimas no tiroteio na escola primária de Sandy Hook eram atores mirins.

“Nós derrubamos as páginas por glorificarem a violência, o que viola a nossa política de violência gráfica, e por usarem uma linguagem desumanizada para descrever pessoas transexuais, muçulmanas e imigrantes, que viola nossas políticas contra discursos de ódio”, justifica a empresa. A conta pessoal de Jones está bloqueada por 30 dias e foram excluídas as páginas “Alex Jones”, “Alex Jones Channel”, “Infowars” e “Infowars Nightly News”. As duas últimas pertenciam ao seu principal portal de desinformação.

Na mesma linha, o Youtube já havia bloqueado o conspirador por 90 dias, mas ele continuou participando da rede ativamente ao usar contas de terceiros para transmitir vídeos ao vivo. Algumas horas após o anúncio do Facebook, a plataforma de vídeos também retirou o canal de Jones do ar, que tinha mais de um bilhão de visualizações. O Spotify, umas das plataformas onde o conspiracionista difundia seus podcasts, também excluiu completamente a conta de Jones.

A Apple, no entanto, retirou apenas alguns episódios do iTunes, mas o aplicativo do portal Infowars ainda está disponível na plataforma e têm crescido na lista de mais baixados desde o anúncio das proibições. Atualmente, ele é o terceiro aplicativo mais procurado na categoria de Notícias, apesar de divulgar desinformação. O Google também não retirou o app da sua loja virtual, mesmo que o Youtube, que é propriedade da empresa, tenha banido o principal canal de Jones.

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Dessa forma, os conteúdos criticados por organizações de direitos humanos e por projetos de checagem de fatos ainda podem ser distribuídos por terceiros nas redes, mesmo que o alcance, teoricamente, seja reduzido pelas proibições. Além disso, o norte-americano também reforçou o uso do Twitter, onde tem uma conta com mais de 859 mil seguidores que permanece sem punições.

“Para muitos, Jones é uma piada de mal gosto”, escreveu a organização de advocacia Southern Poverty Law Center, que descreveu Jones como “quase certamente o mais prolífico teórico de conspiração da América contemporânea”. “Mas a triste realidade é que ele tem milhões de seguidores que ouvem seu programa de rádio, assistem os seus ‘documentários’ e leem os seus sites, e alguns deles, como o terrorista da maratona de Boston Tamerlan Tsarnaev, se utilizam da violência mortal.”

Trajetória

Aos 44 anos, Alex Jones é considerado pela organização de direitos humanos Liga Antidifamação “o mais influente criador de teorias da conspiração da direita nos Estados Unidos hoje”.

Tudo começou nos anos 1990, ao entrar em contato com os trabalhos de teóricos da conspiração como Gary Allen, defensor da teoria da Nova Ordem Mundial. Foi nesse contexto que Jones ganhou públicos nas rádios e, após ser demitido, criou o site InfoWars. A partir daí, sua lista de teorias bizarras apenas cresceu e nem mesmo personalidades tão distintas quanto Bill Gates e Lady Gaga foram poupadas.

Nos últimos dois anos, ele, que também acredita que o atentado de 11 de setembro teve o apoio do governo norte-americano, têm sido apontado como um dos principais articuladores da eleição de Donald Trump. Em dezembro de 2016, suas teorias falaciosas contra a campanha da candidata Hillary Clinton culminaram em uma tentativa de ataque armado em uma pizzaria de Washington que supostamente estava envolvida em uma rede de maltrato infantil. Tudo foi desmentido ao final do episódio.

Ironicamente, Trump, que conta com uma média de 5,6 declarações duvidosas por dia, participou de um dos programas de Jones e classificou a reputação do apresentador como “ótima”.

(Com informações de The New York Times, The Verge e Nexo Jornal.)

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