• Redação Galileu
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O irlandês Ernest Henry Shackleton foi um dos principais exploradores da Antártida no século XIX (Foto: Library of Congress, Washington, D.C. (neg. no. LC-DIG-ggbain-04778)/Britannica.com)

O irlandês Ernest Henry Shackleton foi um dos principais exploradores da Antártida no século XIX (Foto: Library of Congress, Washington, D.C. (neg. no. LC-DIG-ggbain-04778)/Britannica.com)

O explorador Sir Ernest Shackleton mal tinha se dado conta de que quase havia chegado mais perto do Polo Sul do que qualquer outro ser humano quando uma doença misteriosa o obrigou a voltar para casa, no início do século XX. Agora, 120 anos após as últimas expedições do irlandês à Antártida, pesquisadores do Hospital Geral de Massachussets (MGH), nos Estados Unidos, descobriram que o fator que debilitava a saúde de Shackleton era, na verdade, uma deficiência nutricional: a beribéri – quadro causado pela ausência de tiamina no organismo.

Divulgada no periódico Journal of Medical Biography no último dia 24 de abril, a descoberta põe fim às especulações anteriores de que o explorador podia ter sido vítima de defeitos cardíacos congênitos. De acordo com o estudo, o diagnóstico exato de Shackleton é uma cardiomiopatia induzida pelo beriéri, quadro que dificulta o bombeamento de sangue pelo coração. Não à toa, o oficial da marinha mercante britânica apresentava sintomas como falta de ar e intolerância ao esforço físico.

Mas, à época, quando pouco se sabia sobre a doença, um dos médicos que acompanharam Shackleton em sua primeira expedição à Antártida, em 1901, atribuiu ao escorbuto a culpa pelas crises prolongadas de fraqueza física do explorador. Segundo os pesquisadores da MGH, no entanto, a deficiência de vitamina C é uma “explicação incompleta” para o caso. “Shackleton, afinal, tinha sintomas muito leves de escorbuto quando suas dificuldades respiratórias começaram, e um escorbuto leve não causa problemas cardíacos”, argumenta Paul Gerard Firth, líder do estudo, em comunicado.

Ao analisar evidências históricas, os cientistas concluíram que outros exploradores das expedições ao Polo Sul, assim como membros de empreitadas anteriores, compartilharam os mesmos sintomas de Shackleton – e, por dedução, a mesma deficiência nutricional. “Muitos dos sinais do beribéri vistos nos primeiros exploradores se desenvolveram após três meses de deficiência de tiamina”, observa Lauren Fiechtner, co-autora da pesquisa. Ela explica que o quadro seria consistente com refeições pobres no nutriente, dieta a qual esses homens eram submetidos durante as explorações de inverno.

Também conhecida como vitamina B1, a tiamina pode ser facilmente reposta a partir de injeções ou pilúlas suplementares – embora, como lembra Fiechtner, isso não fosse conhecido à época. O nutriente é encontrado tanto em alimentos de origem animal quanto vegetal, como legumes verdes, frutas, peixes, fígado e carne de porco. Potencialmente fatal, a deficiência da molécula é conhecida por ter sido uma das principais causas de morte na Ásia em meados do século 19.

Acima, registro do navio de Ernest Shackleton, o Endurance, preso em uma bolsa de gelo no Mar de Weddell, próximo à Coats Land, durante sua Expedição Transantártica Imperial, em 1914 (Foto: Courtesy of the Royal Geographical Society; photograph, Underwood and Underwood, New York/Britannica.com)

Acima, registro do navio de Ernest Shackleton, o Endurance, preso em uma bolsa de gelo no Mar de Weddell, próximo à Coats Land, durante sua Expedição Transantártica Imperial, em 1914 (Foto: Courtesy of the Royal Geographical Society; photograph, Underwood and Underwood, New York/Britannica.com)

Mas a deficiência nutricional não foi suficiente para impedir o ímpeto explorador de Shackleton, que partiu para outra tentativa de alcançar o Polo Sul em 1914. Nessa ocasião, seu famoso navio Endurance partiu ao meio depois de ter ficado preso em gelo compactado. Todos os 28 tripulantes foram resgatados pelo irlandês – fato que virou roteiro para o cinema e literatura nos anos seguintes.

No final de 1921, ainda, o oficial embarcou em sua terceira e última expedição, quando sofreu um ataque cardíaco e, em 5 de janeiro de 1922, morreu aos 47 anos, na Ilha Geórgia do Sul – dentro de sua própria embarcação.