• Redação Galileu
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Os coelhos-europeus (Oryctolagus cuniculus) geram infestações na Austrália  (Foto: Wikimedia Commons )

Os coelhos-europeus (Oryctolagus cuniculus) geram infestações na Austrália (Foto: Wikimedia Commons )

Os coelhos-europeus (Oryctolagus cuniculus) não são nativos da Austrália e geram danos nas pastagens, desequilibrando ecossistemas em grande parte do país. Uma nova pesquisa sugere que o problema surgiu de uma única introdução de apenas 24 desses animais em 1859.

O estudo foi publicado nesta segunda-feira (22) no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences. De acordo com a pesquisa, no natal de 1859, o carregamento de 24 coelhos chegou a Melbourne vindo da Inglaterra, como um presente para Thomas Austin, um rico fazendeiro inglês que queria estabelecer uma colônia das criaturas em sua propriedade australiana.

O agrado foi enviado pelo irmão de Austin diretamente da vila inglesa de Baltonsborough, de acordo com o jornal The Guardian. Apenas três anos depois, os animais se multiplicaram aos milhares. Em 1865, o colono se gabou ao jornal local de matar cerca de 20 mil coelhos em sua propriedade, onde organizou festas de caça para a realeza inglesa, como o filho da rainha Vitória, príncipe Alfred.

Ao longo de 50 anos, os animais colonizaram um espaço cerca de 13 vezes maior do que sua área nativa na Europa — em uma taxa mais rápida do que qualquer outro mamífero, incluindo porcos e gatos. Para descobrir a origem da praga, Francis Jiggins, geneticista da Universidade de Cambridge, e seus colegas estudaram 187 espécimes em toda a Austrália.

Eles testaram também, para comparação, possíveis populações de origem da Inglaterra, França, Tasmânia e Nova Zelândia. Com isso, notaram que a maioria dos coelhos da Austrália compartilhava uma ancestralidade comum, e que o epicentro da invasão estava perto do local da propriedade de Austin em Victoria.

Havia também várias semelhanças genéticas entre os coelhos australianos e do sudoeste da Inglaterra, onde a família de Austin coletou o primeiro lote de animais que enviara. Relatos anteriores mencionam ainda coelhos com orelhas caídas e peles coloridas — duas características comuns em animais domésticos desse tipo.

Porém, os bichinhos descendentes da ninhada de Austin tinham uma grande quantidade de ancestrais selvagens. As cartas da família do colono explicam que o irmão dele enviou os selvagens junto de coelhos domesticados. Os bichos começaram a cruzar já na viagem de barco de 80 dias.

À medida que os animais se espalhavam, a população se tornava menos diversa. Os coelhos recém-chegados tiveram vantagem para a reprodução, pois se depararam com um sertão virando pasto e predadores sendo caçados para proteger o gado. “Foi como uma tempestade perfeita”, afirma Joel Alves, geneticista evolucionário e coautor do estudo, à revista Science. 

Ainda assim, nem todos os cientistas culpam só Austin pela invasão de coelhos. David Peacock, ecologista da Universidade de Adelaide, conta que outros animais foram soltos no continente na mesma época que os do fazendeiro. Em 2018, o pesquisador foi coautor de um estudo dizendo que a invasão de coelhos resultou de várias introduções.

Além disso, originalmente, a leva de Austin não foi a primeira a chegar à Austrália, ainda que a pesquisa mostre que essa causou maior estrago. Cinco coelhos estavam a bordo já na primeira frota de navios britânicos a desembarcar em Sydney em 1788. Esse foi o início de cerca de 90 introduções ao longo da costa leste do país nos 70 anos seguintes.