• Redação Galileu
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Imagem divulgada por Raphael Samuel em sua página no Facebook. (Foto: Reprodução / Facebook)

Imagem divulgada por Raphael Samuel em sua página no Facebook. (Foto: Reprodução / Facebook)

Um caso inusitado foi registrado na Índia: Raphael Samiel, de 27 anos, decidiu entrar na justiça contra os próprios pais. O motivo? Eles o conceberam seu o seu consentimento. “É errado trazer crianças ao mundo porque elas têm que tolerar o sofrimento ao longo da vida”, disse em entrevista à rede britânica BBC. “Não há sentido para a humanidade. Tantas pessoas estão sofrendo. Se a humanidade estiver extinta, a Terra e os animais seriam mais felizes. Eles certamente ficarão melhores. Também nenhum humano irá sofrer. A existência humana é totalmente inútil."

Há cerca de um ano ele criou uma página no Facebook em que, escondido atrás de uma barba falsa, publica mensagens e notícias que defendem seu ponto de vista. Em uma das postagens, conta que se dá bem com seus pais, mas considera que eles só o tiveram por seus próprios prazer e diversão.

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A mãe de Raphael, Kavita Karnad Samuel, respondeu ao filho em um texto publicado na página. “Eu devo admirar a temeridade do meu filho de querer levar seus pais ao tribunal, sabendo que ambos somos advogados”, desdenhou. “Se Rafael pudesse apresentar uma explicação racional de como poderíamos ter procurado seu consentimento para nascer, aceitarei minha culpa.”

Mas, como mãe é mãe, ela logo tratou de defender sua cria. “ A mídia se concentrou em uma parte do que Raphael acredita. Sua crença no antinatalismo, sua preocupação com o peso dos recursos da Terra devido à vida desnecessária, sua sensibilidade para com a dor experimentada involuntariamente pelas crianças enquanto crescia e muito mais foi tristemente esquecido”, escreveu. “Estou muito feliz que meu filho tenha se tornado um jovem destemido e com pensamento independente. Ele tem certeza de encontrar seu caminho para a felicidade”.

É claro que o indiano não acredita que vá ganhar o processo, pelo simples fato de que seu argumento não se sustenta, como deixou claro sua própria mãe. O objetivo maior é chamar a atenção à sua causa, que tem no sul africano David Benatar, chefe do departamento de filosofia da Universidade de Cidade do Cabo. Ele é autor do livro “Better Never to Have Been: The Harm of Coming into Existence”, que em livre tradução significa “Melhor nunca ter existido: O dano de ter vindo à existência”.

"Há numerosas evidências psicológicas de que as pessoas superestimam a qualidade de vida, pensam que é melhor do que é na verdade. Outro erro frequente é pensar no futuro e não dar-se conta da quantidade de sofrimento que muito provavelmente as pessoas terão no fim das vidas", argumenta Benatar.

"Não deveríamos dar vida a pessoas que no futuro vão enfrentar sofrimento. Há muitos argumentos, mas um deles é que há muita dor e sofrimento na existência humana. Por isso é um horror trazer novos seres humanos ao mundo", sustenta Benatar, em entrevista à cadeia de televisão inglesa BBC.

Mas, se é contra o nascimento de novas pessoas, é contra o suicídio. “Vale a pena dar sequência à vida? Sim, porque a morte é ruim. Vale a pena começar com uma vida? Não”, disse em entrevista à New Yorker. “Só porque a vida é ruim não significa que a morte é boa. Melhor nunca ter que escolher entre eles.”

“É claro que a vida não é ruim em todos os sentidos”, continua Benatar. “Nem a morte é má em todos os sentidos. No entanto, tanto a vida quanto a morte são, em aspectos cruciais, terríveis. Juntos, eles constituem um torno existencial - o aperto miserável que reforça nossa situação ”.

A questão é polêmica. Contrário ao pensamento de Benatar está quem defende ser os estragos causados pela humanidade uma consequência da exploração irracional dos recursos naturais, o consumo desenfreado e a má distribuição de renda.

Foi pensando nisso que, durante a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, realizada em 1992, no Rio de Janeiro, a ECO-92, foi criado o conceito de desenvolvimento sustentável, que passou a ser entendido como o desenvolvimento a longo prazo, de maneira que não sejam exauridos os recursos naturais utilizados pela humanidade. Se organizar direitinho, tem espaço para todo mundo no planeta.

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