• Redação Galileu
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Cacique Marcos Xukuru, eleito prefeito de Pesqueiras, a 215 km de Recife (Foto: Reprodução/Instagram)

Cacique Marcos Xukuru, prefeito eleito de Pesqueiras, a 215 km de Recife (Foto: Reprodução/Instagram)

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), pelo menos 220 indígenas e 57 quilombolas foram eleitos no país no último domingo (15). Em relação aos indígenas, 10 candidatos irão assumir a liderança de prefeituras, 10 serão vice-prefeitos e 200 assumirão como vereadores. Já os quilombolas contam agora com um prefeito, um vice-prefeito e 55 vereadores pelo país.

Em comparação com a eleição municipal anterior, realizada em 2016, houve um aumento de quase 12% de candidatos indígenas eleitos. E o número pode ser ainda maior, já que a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) está apurando a quantidade de candidados não autodeclarados indígenas. Outro fator que pode aumentar essa representatividade são as eleições em Macapá, que contam com candidaturas indígenas, mas foram suspensas por causa do corte de energia no estado.

Os estados com maior quantidade de indígenas eleitos são Amazonas (38), Paraíba (18), Pernambuco (17) e, com 15 eleitos cada, Roraima e Bahia. Os estados com menos representantes originários, apenas com um cada, são: Rio Grande do Norte, Goiás, Espírito Santo e Piauí. Sergipe e Rio de Janeiro não elegeram indígenas.

Em relação ao número total de candidatos indígenas, foram 2216 em 2020, um aumento de 26% em relação às eleições de 2016,. A Região Norte, que abriga quatro em cada 10 indígenas brasileiros, foi a campeã em representatividade, com 930 candidaturas. O Nordeste veio em segundo lugar, com 512 candidaturas, seguido do Centro-oeste, com 366. O Sul teve 241 e o Sudeste, 167.

O grande avanço em relação às últimas eleições ocorreu, principalmente, nas candidaturas majoritárias, para prefeitos e vice. Nestas eleições, foram 38 candidatos indígenas a prefeito e 72 candidatos a vice-prefeito. Além disso, 23 dos 26 estados brasileiros tiveram candidaturas indígenas aos cargos de prefeito ou vice. Em 2016, apenas 16 estados contaram com esse feito.

“É preciso mostrar a que viemos”, disse, em nota, Marcos Xukuru, prefeito eleito de Pesqueiras (PE), a 215 km de Recife. “Meu desafio será antes de mais nada colocar a casa em ordem. Preciso ter uma equipe muito forte para poder garantir que temos condição de implementar um modelo de governança participativa, com orçamento participativo e trazer o povo para esse novo contexto”, afirma.

Em comunicado à imprensa, Kléber Karipuna, coordenador da Apib, afirmou que considera as eleições de 2020 uma grande vitória para o movimento indígena. “Mesmo nessa situação de pandemia, que atrapalhou bastante essas candidaturas, é um número considerado satisfatório e significante de crescimento de representatividade nos poderes, tanto legislativo como executivo e no Brasil inteiro”, avalia. “Agora é continuar como movimento indígena nessa luta de articulação dos povos indígenas na ocupação dos espaços e na defesa dos nossos direitos."

Quilombolas

Levantamento feito pela Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) aponta que mais de 500 candidatos quilombolas concorreram em 2020. Os estados com mais candidaturas foram Pernambuco, Bahia, Maranhão e Minas Gerais, todos com mais de 40 candidaturas cada. A entidade estima um aumento de 45% em relação às eleições de 2016.

O número de 57 eleitos quilombolas nessa eleição representa mais de 10% do total de candidatas e candidatos quilombolas concorrendo. Em Cavalcante (GO), foi eleito o único prefeito quilombola do país, Vilmar Kalunga (PSB). No estado, também venceram nove vereadores.

Já no Maranhão, onde as comunidades lutam há anos contra o projeto de expansão do Centro de Lançamentos de Alcântara, base de foguetes localizada no município de mesmo nome, foram eleitos 14 vereadores quilombolas, sendo 11 em Alcântara. Além disso, o vice-prefeito Nivaldo Araújo (PROS), que venceu na chapa com Padre William (PL), é quilombola.

“Essa campanha foi muito simbólica para as comunidades quilombolas. Alcântara é um dos municípios em que territórios quilombolas têm sofrido mais ataques do neoliberalismo incentivado pelo presidente [Jair Bolsonaro]. É um marco de resistência”, avalia Antônio João Mendes, do quilombo de Conceição das Crioulas, em Pernambuco, e coordenador do monitoramento independente das candidaturas da Conaq.