• Redação Galileu
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Inscrição em "O Grito" foi deixada por Munch como resposta ao julgamento público que o quadro despertou sobre a saúde mental do artista, sugerem pesquisadores (Foto: Annar Bjorgli/The National Museum)

Um enigma que pairava há anos em torno do famoso quadro “O Grito” finalmente teve resposta. Quase imperceptível a olho nu, a frase escrita a lápis no canto superior esquerdo da obra – “Só podia ter sido pintado por um homem louco!” – não decorreu, como se pensava até agora, de um ato de vandalismo externo: quem a escreveu foi o próprio autor da pintura, o norueguês Edvard Munch.

A descoberta foi divulgada nesta segunda-feira (22) pelo Museu Nacional de Arte, Arquitetura e Design de Oslo, na Noruega, que se prepara para exibir uma versão restaurada do quadro em um novo edifício, previsto para ser inaugurado na capital em 2022.

Duas coisas foram suficientes para solucionar um dos – até então – maiores mistérios da arte moderna: análise em infravermelho e cartas redigidas por Munch. Com a primeira, os pesquisadores conseguiram fazer comparações entre a caligrafia do autor da frase e os escritos do artista. Após a confirmação das semelhanças entre os registros, as cartas forneceram detalhes de como o pintor reagiu à exposição inaugural de “O Grito”, em 1895 – o que poderia trazer pistas dos motivos por trás da inscrição.

"A escrita é, sem dúvida, do próprio Munch. A própria caligrafia, assim como os acontecimentos ocorridos em 1895, quando Munch mostrou a pintura na Noruega pela primeira vez, tudo aponta para a mesma direção”, conclui Mai Britt Guleng, curadora do Museu Nacional, em nota.

Quase invisível a olho nu, frase escrita a lápis no canto superior esquerdo da obra – “Só podia ter sido pintado por um homem louco!” – foi escrita pelo próprio Edward Munch (Foto: Borre Hostland/The National Museum)

Quase invisível a olho nu, frase escrita a lápis no canto superior esquerdo da obra – “Só podia ter sido pintado por um homem louco!” – foi escrita pelo próprio Edward Munch (Foto: Borre Hostland/The National Museum)

Mas por qual razão Edvard Munch teria escrito a frase? Segundo anotações de seu diário, um incidente pode ter sido o catalisador para a decisão: quando primeiro chegou aos olhos do público, a obra provocou especulação pública sobre o estado mental do artista, o que o teria deixado “profundamente magoado”.

Em uma noite de discussão na Associação de Estudantes, apuraram os curadores, o jovem aluno de medicina Johan Scharffenberg chegou a questionar a saúde mental do artista, alegando que suas pinturas provavam que ele “não estava em bom juízo”. Munch, então, teria deixado a inscrição no quadro como uma resposta ao julgamento alheio.

Símbolo da ansiedade humana

Um dos quadros mais conhecidos da história da arte – nos últimos anos, tornou-se até inspiração para um emoji –, “O Grito” figura entre os maiores símbolos da ansiedade humana. Para estudiosos da obra, o quadro, de fato, pode ser um reflexo das angústias enfrentadas por seu próprio autor, que passou vários anos em uma clínica psiquiátrica, onde foi internado após um colapso nervoso, em 1908.

Antes de chegar aos 14 anos, Munch já tinha perdido sua mãe e a irmã mais velha. Doze anos mais tarde, perderia o pai para um ataque cardíaco e também veria a irmã ser internada em um asilo, onde passou o resto dos dias em função da esquizofrenia. "Nunca esgotaremos a arte de Munch. Cada vez que fazemos uma pergunta sobre suas obras, novas respostas e perspectivas surgem", diz Karin Hindsbo, diretora do Museu Nacional.