• Redação Galileu
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Levantamento aponta que 19 milhões de brasileiros enfrentaram a fome na pandemia (Foto: Aloisio Mauricio / Fotoarena)

33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer, aponta levantamento (Foto: Aloisio Mauricio / Fotoarena)

A fome é a forma mais grave de insegurança alimentar, e está cada vez mais presente entre as famílias brasileiras. A estimativa mais recente indica que 15,5% da população — ou seja, 33,1 milhões de pessoas — não têm o que comer. É o que revela a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado nesta quarta-feira (8) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN).






A última versão do levantamento, referente a dezembro de 2020, indicou que o número de brasileiros sem o que comer era de 19,1 milhões, ou 9% da população. A alta nesses dois anos mostra que 14 milhões de pessoas entraram em situação de fome ao longo de 2021 no país.

A pesquisa também aponta que 125,2 milhões de brasileiros não têm certeza se terão o que comer no futuro próximo, limitando a qualidade ou quantidade de alimentos em suas refeições diárias. A esse quadro dá-se o nome de insegurança alimentar e, segundo o estudo, ela cresceu 7,2% em relação a 2020. Comparando com dados de 2018 (última estimativa nacional antes da pandemia de Covid-19), quando a insegurança alimentar atingia 36,7% dos lares, o aumento chega a 60%.

33,1 milhões de brasileiros passam fome, de acordo com o levantamento  (Foto: Olhe para a Fome)

33,1 milhões de brasileiros passam fome, de acordo com o levantamento (Foto: Olhe para a Fome)

O Inquérito avaliou dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, durante entrevistas em mais de 12,7 mil domicílios, nas áreas urbanas e rurais de 577 municípios. Para mensurar a situação nas localidades, foi utilizada a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia)

Diversos fatores contribuíram para esse triste cenário, como o desmonte de políticas públicas, a piora na crise econômica, o aumento das desigualdades sociais e a própria pandemia. Juntos, esses aspectos mantiveram mais da metade (58,7%) da população sem acesos regular à comida, nos mais variados níveis de gravidade.

“Ao olhar para a fome, é importante lembrar que cada número absoluto representa a vida de uma pessoa. E que mudanças em percentuais de insegurança alimentar — ainda que pareçam pequenas — significam milhões de pessoas convivendo cotidianamente com a fome”, ressalta o site o Olhe para a Fome, plataforma de divulgação do estudo

Quem tem mais fome?

Considerando todas as regiões do Brasil, uma média de três em cada 10 famílias relataram incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e preocupação em relação à qualidade da alimentação. 

Apesar da situação ter se agravado no país todo, o problema é pior no Norte e Nordeste. Por lá, quatro em cada 10 famílias relataram redução parcial ou severa no consumo de alimentos nos três meses que antecederam as entrevistas. No Centro-Oeste e Sudeste, foram três em cada 10 núcleos familiares; no Sul dois em cada 10. 

Mas a insegurança alimentar é mais grave nas áreas rurais, onde atinge mais de 60% dos domicílios. Desses, 18,6% passam fome — um percentual maior do que a média nacional.

O aumento da fome entre a população negra foi de 70%. Enquanto a segurança alimentar está presente em 53,2% dos domicílios onde a pessoa de referência se autodeclara branca, nos lares com responsáveis pretos ou pardos isso cai para 35%.

Fome e insegurança alimentar atingem mais lares chefiados por pessoas negras, conforme a pesquisa  (Foto: Olhe para a Fome)

Fome e insegurança alimentar atingem mais lares chefiados por pessoas negras, conforme a pesquisa (Foto: Olhe para a Fome)

Além da origem étnica, a pobreza também foi atrelada à fome, que está presente mesmo entre famílias que recebiam Bolsa Família e Auxílio Brasil. Nos casos em que há renda de menos de meio salário mínimo por pessoa, a falta completa de alimento é uma realidade para 32,7% das famílias beneficiadas e para 29,4% das que não receberam ajuda financeira.