• Redação Galileu
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Pessoas por todo o mundo mudam o tom de voz ao falarem com bebês (Foto: Reprodução/MT ElGassier no Unsplash)

Pessoas por todo o mundo mudam o tom de voz ao falarem com bebês (Foto: Reprodução/MT ElGassier no Unsplash)

Na interação com bebês é comum observar que muitas pessoas mudam a maneira falar e até mesmo o tom de voz. Músicas destinadas para esse público também possuem uma sonoridade específica, tudo isso pensado para facilitar a comunicação com os pequenos. E, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Human Behavior, esse comportamento é comum no mundo inteiro.

Na análise, pesquisadores das universidades de Harvard, nos Estados Unidos, e Auckland, na Nova Zelândia, verificaram que as características acústicas de gravações dirigidas a adultos e crianças diferem constantemente. As gravações para o público infantil possuem timbres mais puros, músicas mais suaves e a fala tem um tom mais alto. Essas diferenças acústicas ocorrem em todas as culturas, porém em níveis diferentes.

"A vocalização humana para bebês parece ser fortemente estereotipada entre as culturas, mas esses efeitos diferem em magnitude entre as sociedades", disse Samuel Mehr, psicólogo da Universidade de Harvard, em comunicado.

Para a análise, a equipe coletou 1.615 gravações de falas e canções de 21 sociedades e usou computadores para estudar as características acústicas que diferenciam vocalizações dirigidas a adultos e crianças.

Os cientistas reproduziram a gravação para 51.065 pessoas de 187 países. Essa etapa contou com o auxílio do The Music Lab, um site que com ajuda de voluntários realiza estudos baseados em ferramentas da psicologia cognitiva e do desenvolvimento, ciência de dados e antropologia evolutiva, para entender como a música funciona.

Com isso, os ouvintes puderam adivinhar quando as vocalizações foram direcionadas a bebês com mais precisão.

Segundo Mehr, além da diferença na maneira de se comunicar com bebês, o timbre de voz também se altera dependendo das sociedades. Observou-se que, em todas as gravações, as pessoas usam um tom de voz mais agudo ao falarem com bebês, mas a diferença de tom é muito maior em algumas sociedades do que em outras. “Algumas das maiores diferenças foram no inglês da Nova Zelândia, enquanto outras línguas, como Hadza na Tanzânia, tiveram efeitos menores”, completa.

Diferenças culturais

O estudo contou com 18 línguas e sociedades de todos os continentes. Quentin Atkinson e Tom Vardy, psicólogos da Universidade de Auckland, coletaram gravações de pais e bebês de Vanuatu, onde têm projetos de pesquisa de longo prazo com as comunidades locais.

As outras sociedades variavam entre cidades com milhões de habitantes, como Pequim, cidades menores, como Wellington, e pequenos grupos de apenas 35 pessoas, como em Hadza na Tanzânia.

Quatro grupos de escala menor (povo Nyangatom na fronteira da Etiópia e Sudão do Sul, povo Toposa no Sudão do Sul, povo Sápara/Achuar na Amazônia e povo Mbendjele no Congo) não tinham acesso à televisão, rádio ou internet e, portanto, tiveram uma exposição muito limitada à linguagem e à música de outras sociedades.

Atkinson destaca que as regularidades transculturais sugerem que as duas formas de vocalizações – tanto alteração acústica como o nível em que ela se apresenta – são uma característica comum da psicologia humana. Essas descobertas informam hipóteses sobre as funções psicológicas e a evolução da comunicação humana.