• Redação Galileu
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 Projeto “PharmArctic” investiga impacto de toxinas no Ártico  (Foto: Annie Spratt/Unsplash)

Projeto PharmArctic investiga impacto de toxinas no Ártico (Foto: Annie Spratt/Unsplash)

Com objetivo de entender as marcas que os seres humanos deixam na natureza, pesquisadores da empresa SINTEF, do Instituto Polar Norueguês e da Universidade Central em Svalbard, todos na Noruega, estudaram amostras de crustáceos do Ártico. Os resultados chamam atenção: drogas como ibuprofeno, diclofenaco, antibióticos e antidepressivo foram detectadas nos animais.

O achado, que pode parecer inusitado para alguns, não foi uma completa novidade para os cientistas. "Ibux [que possui ibuprofeno] é uma droga comumente usada e que permanece por bastante tempo no meio ambiente se comparada a medicamentos que costumam se decompor rapidamente, como paracetamol. Portanto, esta não foi uma descoberta tão surpreendente", afirma Ida Beathe Øverjordet, pesquisadora da SINTEF, em nota. "No entanto, o que nos surpreendeu foram as altas concentrações da droga em uma área pouco habitada.”

As amostras de crustáceos foram coletadas perto da região de Ny-Ålesund, que possui apenas 30 habitantes permanentes. No verão, devido à presença de pesquisadores visitantes, trabalhadores temporários e turistas, a população pode chegar a 200 pessoas. A concentração de algumas drogas encontradas no Ártico é equivalente ou superior ao que foi registrado por um estudo realizado na cidade de Longyearbyen, que é significativamente mais populosa — possui 2.500 habitantes e recebe milhares de turistas ao longo do ano.

A quantidade de toxina à qual os organismos são expostos varia de acordo com os animais. "Anfípodes se alimentam de carniça e outros materiais orgânicos depositados no fundo do mar e, por isso, podem ficar mais expostos a toxinas que se acumulam nessa região”, pontua Øverjordet. Os copépodes, crustáceos que pertencem a um segundo grupo analisado, são planctons ricos em gordura essenciais para peixes e aves do Ártico. Por ocuparem um dos níveis mais baixos da cadeia alimentar, os copépodes têm a capacidade de repassar substâncias para animais maiores.

Até o momento, ainda não foram identificadas concentrações de droga que sejam nocivas para a vida selvagem do Ártico. Apesar disso, existem estudos que mostram que antidepressivos alteram o comportamento de zooplânctons e peixes. No caso das espécies do Ártico, não se sabe qual é o nível de tolerância para toxinas, mas Øverjordet acredita que o tema será explorado futuramente.

A pesquisa faz parte do projeto PharmArctic, que investiga a relação entre o descarte de materiais por humanos e as concentrações de drogas farmacêuticas e produtos cosméticos. Os resultados poderão influenciar o modo como a área é gerida e as regulações nacionais e internacionais em âmbitos como o do turismo. “É verdade que navios de cruzeiro não podem descartar o esgoto perto da terra, mas se os compostos têm uma vida útil longa, eles podem causar problemas mesmo assim”, observa a cientista.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com