• Redação Galileu
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Estudo calcula desperdício gerado pelo uso e descarte de máscaras N95 (Foto: CDC/Pexels)

Estudo calcula desperdício gerado pelo uso e descarte de máscaras N95 (Foto: CDC/Pexels)

Se cada profissional de saúde nos Estados Unidos usasse uma máscara N95 por paciente atendido durante os primeiros seis meses da pandemia de Covid-19, seriam necessários cerca de 7,4 bilhões desses itens, a um custo de 6,4 bilhões de dólares (R$33 bilhões). No total, o cenário levaria à produção de 84 milhões de quilos de resíduos — um peso equivalente a 252 aviões Boeing 747.

Mas, se a peça fosse substituída por uma máscara N95 reutilizável — feita de borracha de silicone com um filtro que pudesse ser descartado ou esterilizado após o uso —, não só o custo econômico desse cenário seria reduzido para 18 milhões de dólares, como o desperdício ambiental também cairia para 1,6 milhão de quilos (cerca de cinco Boeing 747). É o que estima um estudo liderado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), cujos resultados foram publicados no periódico BMJ Journals no último dia 18 de julho.

A opção reutilizável em questão, no entanto, ainda não está disponível no mercado. A peça começou a ser desenvolvida em 2020 com o apoio do Programa de Oportunidades de Pesquisa de Graduação do MIT, do Instituto Nacional de Saúde (NIH) e do Departamento de Engenharia Mecânica do MIT, e deve ser enviada para aprovação regulatória ainda este ano.

Mas os pesquisadores também decidiram calcular os custos ambientais e econômicos de outros seis cenários associados aos padrões de uso de máscaras adotados antes e durante a pandemia nos hospitais dos EUA. Eles descobriram que qualquer estratégia reutilizável pode levar a uma redução significativa tanto nos custos quanto na quantidade de resíduos gerados.

Foram consideradas cinco cenários: o uso de uma máscara N95 a cada paciente; uma máscara N95 por dia por profissional de saúde; a reutilização de máscaras N95 por meio de descontaminação com luz ultravioleta; a reutilização de máscaras N95 por esterilização com peróxido de hidrogênio (H202); e, por fim, o uso de uma máscara cirúrgica por dia.

De acordo com o estudo, enquanto a primeira opção requer 7,4 bilhões de máscaras, 6,4 bilhões de dólares e gera 84 milhões de quilos de resíduos (252 Boeing 747), o uso de uma N95 por dia já seria capaz de reduzir esses números para 3,29 bilhões de itens, 2,8 bilhões de dólares e 37,2 milhões de quilos (112 Boeing 747), respectivamente.

A redução seria ainda maior se cada profissional de saúde pudesse reutilizar as máscaras N95 a partir de processos de descontaminação com luz ultravioleta, que exigiria 1,64 bilhão de respiradores, custaria 1,41 bilhão de dólares e acumularia 18,61 milhões de quilos de resíduos (56 Boeing 747). A descontaminação com peróxido de hidrogênio levaria ainda ao uso de 1,15 bilhão de máscaras, sob o custo de 1,65 bilhão de dólares e a produção de 13,03 milhões de quilos de resíduos (39 Boeing 747). Essas duas estratégias já começaram a ser adotadas em alguns hospitais dos EUA em função da escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) causada pela pandemia.

Comparação das seguintes estratégias de reutilização por respirador: (A) número de respiradores ou máscaras cirúrgicas usadas, (B) custos em bilhões de dólares, (C) resíduos gerados em milhões de kg, (D) resíduos gerados por estratégia em número equivalente de 747 aviões em massa (massa de um avião 747, 333 000 kg). Os valores são estimados para os primeiros 6 meses da pandemia. UVGI, irradiação germicida ultravioleta. (Foto: BMJ )

Comparação das seguintes estratégias de reutilização por respirador: (A) número de respiradores ou máscaras cirúrgicas usadas, (B) custos em bilhões de dólares, (C) resíduos gerados em milhões de kg, (D) resíduos gerados por estratégia em número equivalente de 747 aviões em massa (massa de um avião 747, 333 000 kg). Os valores são estimados para os primeiros 6 meses da pandemia. UVGI, irradiação germicida ultravioleta. (Foto: BMJ )

No cenário em que uma máscara cirúrgica seria usada por dia, seriam necessárias 3,29 bilhões dessas peças, o que levaria a um gasto de 460 milhões de dólares e produziria 27,92 milhões de quilos de lixo hospitalar (ou 84 aeronaves do Boeing 747). Todas as hipóteses levaram em consideração o período de um semestre — final de março de 2020 ao final de setembro de 2020 — e são baseadas no número total de profissionais de saúde nos EUA e a quantidade de pacientes com Covid-19 internados na época, assim como o tempo médio de internação por paciente.

“Nosso foco aqui estava nos profissionais de saúde, então é provável que seja uma representação insuficiente do custo total e da carga ambiental”, observa Giovanni Traverso, professor assistente de engenharia mecânica do MIT e autor sênior do estudo, em comunicado. “As máscaras vieram para ficar no futuro próximo, por isso é fundamental que incorporemos a sustentabilidade em seu uso, bem como o uso de outros equipamentos de proteção individual descartáveis ​​que contribuem para o lixo médico”, acrescenta Jacqueline Chu, médica do Massachusetts General Hospital (MGH) e principal autora do estudo. 

Acessibilidade

Agora, o grupo realiza testes adicionais para certificar a eficácia da máscara N95 reutilizável de silicone, o que, segundo os pesquisadores, deve ser a prioridade da peça. “Em última análise, queremos que os sistemas nos protejam, por isso é importante avaliar se o sistema de descontaminação está comprometendo a capacidade de filtragem ou não”, diz Traverso. “O que quer que você esteja usando, você quer ter certeza de que está usando algo que irá proteger você e outras pessoas.”

No documento, os pesquisadores também ressaltam a necessidade do desenvolvimento futuro de tecnologias simples e de baixo custo que permitam a reutilização de máscaras N95. Isso porque a descontaminação por peróxido de hidrogênio, por exemplo, requer estrutura significativa e pessoal treinado, o que limita seu uso a áreas com maior número de recursos. “Há, portanto, uma necessidade de métodos mais simples de descontaminação do respirador que possam ser implantados em grande escala”, reitera o estudo.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.