Arqueologia

Por Arthur Almeida

Uma dupla de pesquisadores brasileiros conseguiu reconstituir, a partir de técnicas de aproximação forense, o rosto de um fóssil com aproximadamente 35 mil anos de idade. O exemplar foi inicialmente descoberto em 1980, no Vale do Nilo, e é considerado como o Homo sapiens mais velho já registrado no Egito.

Análises do esqueleto indicam que se tratava de um indivíduo do sexo masculino, de ancestralidade africana, com idade entre 17 e 29 anos e altura de 1,65 metros. A estrutura óssea apresenta perfurações e lesões que sugerem trabalho pesado em vida, o que corrobora as evidências do sítio Nazlet Khater ter sido um local de mineração de cherte, uma rocha sedimentar.

“Esse fóssil passa por estudos e restaurações há 40 anos. A vasta coleção de dados recolhidos o torna um importante elemento para o entendimento da evolução humana. Somado a isso, a disposição privilegiada em que está no Museu Nacional da Civilização Egípcia favorece o processo de fotogrametria. Por isso, ele foi selecionado como objeto de nossos estudos”, relata Moacir Santos, arqueólogo e autor do produto.

Aproximação facial

A aproximação facial forense (AFF) é uma técnica auxiliar de reconhecimento e modelagem da face de um indivíduo a partir de imagens digitalizadas de seu crânio. Com base na estrutura, dados estatísticos são utilizados para gerar uma projeção de perfil com acabamento e detalhes próximos daqueles apresentados pelo exemplar.

“‘Aproximação’ define melhor a abordagem, pois não se trata efetivamente de uma reconstrução facial forense (RFF). Muito dificilmente o resultado obtido será 100% compatível com o indivíduo em vida”, explica Cicero Moraes, designer 3D responsável pelo estudo.

Durante uma visita ao Museu Egípcio do Cairo, onde está guardado o fóssil, os autores capturaram sequências de vídeo em Full HD da porção lateral mais completa do crânio. Após processamento no add-on OrtogOnBlender, obtiveram-se 72 imagens para se realizar a fotogrametria.

“As etapas foram as mesmas que realizamos com crânios modernos. O fóssil de Nazlet Khater, no geral, apresenta uma estrutura bastante compatível com as estruturas atuais”, conta Moraes.

Etapas da recuperação estrutural do crânio — Foto: Divulgação/Cicero Moraes/Moacir Santos
Etapas da recuperação estrutural do crânio — Foto: Divulgação/Cicero Moraes/Moacir Santos

A equipe trabalhou com o software Metashape e uma malha no Blender 3D para conseguir ter mais visibilidade da estrutura. Assim, por meio de espelhamentos, deformações e ajustes na escala, as regiões faltantes do crânio foram complementadas, tendo como base tomografias de indivíduos vivos, que atuaram como “doadores” virtuais.

Imagens mais humanizadas

Aproximação facial objetiva, sem características artísticas (pelos, cores, etc.) — Foto: Divulgação/Cicero Moraes/Moacir Santos
Aproximação facial objetiva, sem características artísticas (pelos, cores, etc.) — Foto: Divulgação/Cicero Moraes/Moacir Santos

As imagens finais foram geradas depois de adicionados os detalhes na escultura digital. Dentre eles, está a pigmentação de textura e os elementos de brilho e translucidez. Com o modelo concluído, foram trabalhadas duas abordagens relacionadas à aproximação facial: uma mais objetiva e outra mais subjetiva.

No primeiro caso, as imagens foram renderizadas com os olhos fechados, sem pelos e em escala cinza, de forma a evitar especulações. Já a versão artística — por se tratar de um trabalho que será apresentado ao público geral —, apresenta características de maior humanização, como coloração, olhos abertos, barba e cabelo.

“As aproximações faciais forenses são uma forma de humanizar os indivíduos, que o grande público só reconhece como ‘esqueletos’. Tentar recuperar a aparência que um indivíduo tinha em vida há milhares de anos é uma forma de trazê-los para os dias atuais, aproximando-os do público”, destaca Santos.

Para além dos sentimentos de identificação e empatia, bem como o papel na divulgação científica, os estudos de aproximação facial podem contribuir para a medicina atual. De modo menos evidente, Moraes conclui que “as técnicas utilizadas podem ser portadas para o planejamento cirúrgico facial e, até, auxiliar no diagnóstico de deformidades”.

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