Arqueologia

Por Redação Galileu

Arqueólogos da Universidade Hebraica de Jerusalém descobriram uma inscrição parafraseando o Salmo 86 em grego koiné — a língua do Novo Testamento. O manuscrito estava na Fortaleza da Hircânia, estrutura de quase 2 mil anos no deserto da Judeia, conforme divulgou hoje (27) a instituição de pesquisa israelense.

A inscrição foi provavelmente feita por um monge experiente. A análise do estilo da escrita sugere que o texto foi redigido na primeira metade do século 6 d.C., o auge da Era Bizantina, com pequenos erros gramaticais revelando que o idioma materno do escriba era outro.

As linhas do texto marcado em uma pedra de construção desabada estavam pintadas em vermelho, com uma cruz simples no topo. Os líderes da equipe da escavação, Oren Gutfeld e Michal Haber, da Universidade Hebraica, reconheceram imediatamente a inscrição como escrita em grego koiné – porém, eles pediram ao seu colega, o epigrafista Avner Ecker, da Universidade Bar-Ilan, em Israel, para decifrá-la.

Ecker avaliou que o texto legível era uma paráfrase de Salmos 86: 1–2, trecho da Bíblia conhecido como “uma oração de Davi”. Conforme o pesquisador explica em comunicado, estes são um dos salmos mais recitados na liturgia cristã e o monge pode ter desenhado uma cruz na parede, acompanhada pelos versos com os quais ele estava muito familiarizado.

Arqueólogos durante as escavações na Judeia — Foto: Universidade Hebraica de Jerusalém
Arqueólogos durante as escavações na Judeia — Foto: Universidade Hebraica de Jerusalém

Os versos originais dizem: "Inclina os teus ouvidos, ó Senhor, e responde-me, pois sou pobre e necessitado. Guarda a minha vida, pois sou fiel a ti". Contudo, a versão da Hircânia dizia apenas: "Jesus Cristo, guarda-me, pois sou pobre e necessitado."

O epigrafista aponta a presença de alguns equívocos gramaticais típicos da Palestina bizantina. “Esses pequenos erros indicam que o monge não era um falante nativo de grego, mas provavelmente alguém da região que foi criado falando uma língua semítica”, ele afirma.

Escavações no antigo sítio da Hircânia, no norte do deserto da Judeia — Foto: Universidade Hebraica de Jerusalém
Escavações no antigo sítio da Hircânia, no norte do deserto da Judeia — Foto: Universidade Hebraica de Jerusalém

Dias após encontrarem os salmos, os arqueólogos descobriram uma inscrição adicional nas proximidades, também feita em uma pedra de construção de uma parede desabada do forte. Mas o significado dela está ainda em análise.

"Poucos itens têm tanta importância no registro histórico e arqueológico como as inscrições – e deve ser enfatizado que estes são praticamente os primeiros exemplos do local a terem origem em um contexto ordenado e documentado", notou Haber. "Estamos familiarizados com os fragmentos de papiro que vieram à luz no início dos anos 1950, mas eles são todos de origem instável e não confiável."

Anel de ouro tamanho infantil descoberto no antigo sítio da Hircânia — Foto: Universidade Hebraica de Jerusalém
Anel de ouro tamanho infantil descoberto no antigo sítio da Hircânia — Foto: Universidade Hebraica de Jerusalém

Além dos inscritos em pedras, os pesquisadores encontraram no local um anel de ouro de tamanho infantil, com pouco mais de 1 cm de diâmetro, adornado com uma pedra turquesa. Aparece gravada na joia uma inscrição em miniatura na escrita cúfica árabe que diz "Deus desejou" (Mashallah, "مَا شَاءَ ٱللَّٰهُ"), segundo traduziu Nitzan Amitai-Preiss, especialista em epigrafia árabe antiga da Universidade Hebraica.

A pesquisadora data o estilo da escrita na época do califado omíada, que reinou durante os séculos 7 e 8 d.C. A pedra turquesa, aliás, provavelmente veio do território recém-conquistado do Império Sassânida (atual Irã), parte daquele califado em expansão. O caminho exato que o anel percorreu para chegar à Hircânia e o quem foi o seu dono permanecem um mistério.

Escavação no sítio da Hircânia — Foto: Michael Haber
Escavação no sítio da Hircânia — Foto: Michael Haber

Os pesquisadores aguardam por uma próxima temporada de escavações, prevista para o início de 2024. Inclusive, Haber e Gutfeld estão preocupados que as investigações possam chamar a atenção de saqueadores de artefatos.

"O problema persiste; estava aqui antes de nós e provavelmente continuará depois de nós, ressaltando a necessidade de escavações acadêmicas – especialmente em um local tão sensível como a Hircânia, embora este é apenas um exemplo", dizem os pesquisadores. "Estamos simplesmente tentando ficar alguns passos à frente".

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